segunda-feira, 26 de novembro de 2007
SIDÓNIO PAIS REVISITADO
Subordinada à figura de Sidónio Pais, a quarta conferência do ciclo sobre “Os Presidentes da República” de Portugal, que a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão está a organizar, cativou a atenção de cerca de meia centena de pessoas que marcaram presença no Museu Bernardino Machado no dia 7 de Novembro. O conferencista, o Prof. João Medina, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, não só entusiasmou o público com a sua eloquência, como lançou um novo e curioso olhar sobre a figura do Presidente-Rei e do Sidonismo.
João Medina já tinha avisado com o título sugestivo da sua palestra: “Presidente–Rei: Paradoxo e Tragédia na Presidência da República". Com efeito, o conceituado investigador da história contemporânea portuguesa pôs de lado um lugar comum que vê em Sidónio Pais um percursor de Salazar e da ditadura do Estado Novo. “São tão diferentes em tudo e até no estilo de actuar e pensar”, esclareceu o catedrático, também director do Centro de História da Universidade de Lisboa. E acrescentou: “É difícil confundir o brioso militar e catedrático de Matemática, sinceramente republicano e até antigo Maçon, com o quase-sacerdote e ex-seminarista, depois catedrático de Direito e dirigente da Democracia-Cristã, frio e misantropo”.
João Medina lançou mesmo mão do poema que Fernando Pessoa dedicara a Sidónio Pais, ao Presidente-Rei como lhe chama, para afirmar o sentimento sebastianista e até claramente messiânico que a sua figura e Governo então, e depois, suscitaram.
De seguida, o conferencista apontou os paradoxos da breve experiência sidonista, a primeira das quais, “ao pretender criar uma República nova, ou seja, presidencialista e não-liberal, não-parlamentar, com um parlamento, sim, um parlamento dominado por um quase partido único”. Outro dos paradoxos apontados refere-se “ao estilo e acção populistas, com banhos de multidão, que Sidónio Pais cultivou, em absoluto contrário ao dos velhos patriarcas republicanos”.
Por último, João Medina referiu-se aquele que chamou de paradoxo final: “Ser assassinado por um fanático republicano, no dia em que tomava o comboio no Rossio, em direcção ao Porto, para jugular uma revolta de monárquicos no Norte”.
Já numa abordagem genérica ao ideário e acção política e na sequência do debate que se instalou na sala em torno do quarto Presidente da República Portuguesa, João Medina lembrou que Sidónio Pais “foi o único político republicano que introduziu o sistema eleitoral universal, dando o voto, pela primeira vez, às mulheres portuguesas”.
Recorde-se que o ciclo de conferências sobre a República Portuguesa é coordenado pelo professor universitário Norberto Cunha – também coordenador científico do Museu Bernardino Machado –, numa iniciativa que passará em revista, através da realização de cerca de duas dezenas de conferências, toda a história da República e suas personagens mais influentes.
No próximo dia 12 de Dezembro, o ciclo das cinco conferências previstas para 2003 termina com Norberto Cunha, professor catedrático da Universidade do Minho, a apresentar a vida e obra de Canto e Castro.
IN BOLETIM MUNICIPAL DA CÂMARA DE VILA NOVA DE FAMALICÃO (NOVEMBRO-2003)
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1 comentário:
Que tertulia terá sido Art .... que tertulia ... para escutar!
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