terça-feira, 20 de novembro de 2007

LUIS de STTAU MONTEIRO


"Já prometi à Fernanda praticamente tudo para que ela me deixe em paz. Tenho a certeza que há-de haver uma solução para tudo isto. Não pode deixar de haver. Não é possível que, numa época em que se pensa ir à Lua, eu tenha de voltar para casa, para uma mulher de quem não gosto, para uma vida que odeio, para um ambiente que me revolta.
Então um homem quer saír do seu planeta quando ainda não conseguiu, sequer, fugir da aldeia em que vive?"
Luis de Sttau Monteiro in Um Homem Não Chora

Luis de Sttau Monteiro (1926-1993), ao ser odiado à esquerda e à direita conseguiu conquistar desde cedo o estatuto de não-alinhado, resistente à imposição das ideias em vigor, à obrigatoriedade da moda, ao "politicamente correcto". Por isso foi genial, por isso foi estrategicamente esquecido enquanto vivo.
Ao partir com 10 anos para Londres com o seu pai, Armindo Monteiro, que exerceu as funções de embaixador até 1943, acompanha de perto e num palco privilegiado o desenrolar da II Guerra Mundial. Licenciado em Direito, trabalha como advogado apenas durante dois anos. Regressa a Inglaterra para uma curta experiência como piloto de Fórmula 2. As referências anglo-saxónicas acompanha-lo-ão ao longo da sua vida quer na parte literária, quer na das opções políticas.Regressado a Portugal, trabalha para várias publicações, destacando-se a revista Almanaque e o suplemento A Mosca no Diário de Notícias. Como romancista estreia-se em 1960 com Um Homem Não Chora, seguindo-se Angústia Para o Jantar no ano seguinte. No mesmo ano de 61 publicou a peça de teatro Felizmente Há Luar, distinguida com o Grande Prémio de Teatro tendo sido proibida pela censura a sua representação. Só viria a ser representada em 1978 no Teatro Nacional. Em 1967 foi preso pela PIDE após a publicação das peças de teatro A Guerra Santa e A Estátua, sátiras que criticavam a ditadura e a guerra colonial. Em 1971 adaptou para teatro juntamente com Artur Ramos o romance A Relíquia de Eça de Queirós.
Entre a segunda vaga do neo-realismo, do existencialismo e do "nouveau roman", a obra de Luis de Sttau Monteiro é um reflexo de uma geração asfixiada entre a Guerra Fria em termos mundiais (para quem, escolher uma potência era uma pura estupidez), e a ditadura salazarista em termos nacionais. Conscientes de muito pouco ou quase nada poderem fazer que alterasse este estado de coisas, os autores entram numa linha de um pessimismo satírico onde a amargura e a ironia contundentes destapam e põem a nu as contradições históricas, políticas e sociais da época em que viveram. Com ele poderíamos referenciar, a título de complementariedade, autores como Vergílio Ferreira ou Nuno Bragança.
Considerado o maior dramaturgo português da segunda metade do séc.XX, Luis de Sttau Monteiro fez questão de nunca abdicar de si próprio em nome de credos, modas ou movimentos. Por esse motivo foi tão injustamente esquecido enquanto viveu.
ARTUR

4 comentários:

Carlos Lopes disse...

Este é dos que faz falta. Deve estar a escrever e a cozinhar e a beber uns copos valentes de whisky e a fumar uns charutos, onde quer que esteja.
Vê lá se combinas um almoço com o Janjan para dizermos umas asneiradas juntos...

redjan disse...

E que bom vai sendo aprender por aqui a descobrir pessoas, como esta, que souberam ser ! O quê? Ser-se ..... chega ?

Tx Artur, pela lição.

PS: Ready for lunch com o CL ... liga !

Artur Guilherme Carvalho disse...

Carlos: O gajo tá lá a aquecer-nos o lugar, naquele sítio onde é sempre fim de tarde e a varanda está aberta sobre um rio onde os elefantes vão beber. Copo de gin na mão e trolaró.
Red : Manda sempre. ler este gajo faz bem à iálma...

Unknown disse...

Uma figura singular num mundo plural...obg Artur