quinta-feira, 22 de novembro de 2007

TEMPO

Conheço-o há bastante tempo se bem que as nossas conversas sejam muito breves. Olho-o como quem interroga e ele responde-me com uma informação. Vejo-o logo de manhã no despertador, digitalizado, sinal sonoro de advertência, como que a dizer: " este foi o tempo que pediste para te acordar."
Vejo-o depois ao longo do dia agarrado ao pulso quando me sinto perdido e não sei onde está.
Vejo-o anónimo pendurado nas paredes de grandes edifícios, estações de comboio, aeroportos.
Vejo-o no Natal quando me interrogo sobre as decorações nas ruas. Já é Natal outra vez? Parecia que ainda ontem...
Vejo-o no aniversário dos filhos, dos sobrinhos, na peça da escola. Do berço com fraldas para um texto sobre Ecologia.
Vejo-o ao canto do anfiteatro enquanto ajusto a câmara de filmar. Dá-me um aceno, discreto como sempre, sem querer dar nas vistas.
Vejo-o nos casamentos, nos funerais e nas fotografias antigas dos que vão partindo para o sítio onde o Tempo já não importa. Muitos nem eu os conheci...
Vejo-o todos os dias ainda que por breves instantes a saltar entre fusos horários como se de um baile de máscaras se tratasse. Ele aparece ora mais novo ora mais velho conforme os caprichos das viagens.
É esse talvez o meu mais antigo amigo e conhecido, com quem eu falo todos os dias, várias e breves vezes no mesmo dia. Em pedaços muito curtos fomos cimentando esta amizade que marca o meu tempo e o do mundo até me transportar para o espaço anónimo de uma fotografia antiga esquecida numa mesa de uma sala de alguém que já não me conheceu. Lugar onde talvez já não voltemos a falar...ou onde ele deixe de ter a importância que tem hoje.
ARTUR

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