quinta-feira, 18 de março de 2021

A CHEIRAR A PRIMAVERA.

 

 
Décimo sexto dia do terceiro mês de dois mil e vinte e um.
Hoje o céu até aqui está azul. Acordei com o rebuliço dos pássaros no telhado, fiz a caminhada matinal com o cão-lobo a meu lado, dei farinha aos pintos; à mãe e à tia deles. Fiz o pequeno almoço depois dum duche reparador e levamos a mais nova ao trabalho. Daqui até lá não demora mais de dez minutos a não ser que passe alguma manada a mudar de pasto. Voltei para casa com passagem pela Loja do Doutor Jorge que agora é minimercado e o café Caravela. Tem uma mesa corrida cá fora onde me sento com o cão a degustar a única cafeína do dia. Tudo isto com a paisagem verde estonteante e as casas dum presépio que sempre fez parte das minhas mais recônditas memórias. No dia oito nasceu uma menina que é o membro mais recente da minha família de coração desta ilha abençoada. Longe da Amazónia que tanto amo, esta menina recebeu um nome tupi-guarani de senhora das águas, de sereia do rio amazonas. Que seja abençoada por todos de lá até aqui.
Da galinha que cuidei, e dei abrigo nas noites de tempestade, vieram três pintos mesclados de todas as raças do galinheiro do vizinho. Ele, vendo o meu cuidado com a dita, ofereceu-me a família. Não disse que sim nem que não, mas sou madrinha. Também salvei da ira das outras galinhas da capoeira uma galinha castanha que é a mais descarada de todas. Perante os ataques das outras, e as tentativas dos galos para montá-la, fez-se de morta a cinquenta metros dos meus olhos. As outras ainda lhe arrancaram metade da crista à bicada para se certificarem da morte súbita da pobre esfrangalhada. Como ela não se mexia foram-se embora comer para outro canto do pomar. Abri a porta do galinheiro e chamei-a. Ela ressuscitou e correu para a liberdade. Toma conta do quintal e dos sobrinhos, desafia o cão e deixa que lhe faça festas nas penas novas. A crista já está quase sarada. Descobri que não é brincadeira, mas disputa pela minha atenção, que leva o galináceo e o cão a uma dança de quase capoeira. Ainda há quem pergunte se me falta televisão com este “National Geographic” campestre...
Continuo sem ver notícias além das locais e das que me dão diretamente. Desejo-nos o melhor.
 
 
Elsa Bettencourt,