quarta-feira, 30 de abril de 2008

AGORA OS PORTUGAS


CIRCO DE FERAS. Uma história da minha vida real por cada faixa do album. A coincidência com a entrada (sempre violenta) na vida adulta. A tropa, o casamento, o primeiro filho, o trabalho precário. Uma verdadeira sinfonia que entendi dedicada a mim...



EXPLICAÇÃO DOS PÁSSAROS de António Lobo Antunes.
A vertigem do desperdício da existência desenvolvida nos lapsos da narrativa que, conjuntamente, desenvolvem um pulsar repulsivo. Um desfecho inesperado e coerente. Uma obra prima da literatura mundial.





ALICE de Marco Martins,Portugal 2003(?)
Um filme sobre a tragédia da perda mais dolorosa, o desaparecimento de um filho. A ausência de representação que reforça a um limite insuportável o peso da dor, um homem sozinho pelas ruas da cidade com o seu esquema mirabolante de colocação de câmaras. A esperança transformada em agonia permanente. Fabuloso.

UM FILME, UM LIVRO, UM DISCO







UM FILME - DER MÜDE TOD, FRITZ LANG 1921


Em 1921 Fritz Lang realizou a mais impressionante meditação cinematográfica sobre o Destino-Máquina, o Tempo, a Morte e os próprios limites e potencialidades da narrativa cinematográfica, um filme-símbolo que exige ser lido e interpretado, pelo espectador e pelas personagens, em busca da máquina que pulsa por debaixo da superfície da realidade imediata e controla, sistemática e ordeiramente, as nossas vidas.






UM DISCO -THE DOORS - ABSOLUTELY LIVE 1970

Compêndio absoluto da energia, das angústias metafísicas, dos excessos e da corporalidade de Jim Morrisson e dos seus companheiros, atirando canções como quem dispara tiros de canhão dirigidos à mente, ao coração e ao sexo de quem as ouve.




UM LIVRO - "LE LIVRE DES PASSAGES" - WALTER BENJAMIN

Uma das mais poderosas inteligências do século XX pensa a modernidade, a História, a sociedade, o capitalismo através de uma intimidante colecção de reflexões e citações que nos fazem vaguear através da Paris do século XIX, experimentar o poder sedutor das armadilhas que não nos permitem ver o acumular de catástrofes que a ideia de progresso histórico encerra e que as sociedades industriais propõem como alternativa à barbárie, denegando o carácter opressor, esmagador, alienante e tentacular de um sistema económico que se sustenta sobre as ruínas de milhões de vidas.

MOMENTO DE ESCRITA AUTOMÁTICA

Enquanto não faço o que devo parece que devo o que faço num turbilhão de razões e consequências medidas no medo antecipado de falhar. Estendo a mão e tento não deixar nenhum dos meus caído para trás, por razão nenhuma, porque fariam o mesmo por mim, porque um lado meu assim me indica que se deve fazer. A arquitectura da cidade desfaz-se lentamente a um ritmo muito menor que o dos nossos corpos que se chocam, cruzam, insinuam e celebram acelerados a eternidade inexistente no ponto único da explosão prevista. As ruas acolhem-me em abraços de cimento inócuo, de ferro frio, de história indiferente. Pelas rachas dos prédios escapam gritos de tipos como eu que já por ali andaram, que por ali andam perdidos, vestidos de memórias. Ouço-os mas não consigo perceber o que dizem, o que querem, porque é que se mantêm naquelas paredes prisioneiros de algo desconhecido. Grito-lhes também com o olhar, como se tentasse ladrar a um cão na esperança que ele me entendesse. Os carros passam moldando formas de néon estendidas nas poças da chuva. Bate-lhes um vento leve que as empurra para voltar ao lugar inicial. Se ao menos me pudesses valer… se ao menos me explicasses em duas frases, dois gestos, uma breve troca de olhares qualquer coisa parecida como um porquê…
Se ao menos percebesse alguma coisa disto tudo, se um breve sentido conseguisse arrancar deste caos encenado que já não percebo se respeita as leis da matéria ou da ilusão, plantando imagens dentro de um Ser que serei eu…talvez. Se ao menos, uma vez que fosse. Se aquele filme, aquele andar de mulher, aquela brisa do mar, se as hesitações andassem às cambalhotas pela estrada da especulação e desse movimento resultasse uma resposta.
E respostas, certezas, sentidos, tragédias, para quê? Desculpas esfarrapadas para ocupar o buraco dos dias, o espaço vazio das dores e da ausência do prazer?
Se ao menos as palavras dissessem exactamente o que queremos dizer em vez de se moldarem à percepção de cada um, fazíamo-nos entender mas o mundo era uma coisa parada sem ritmo evolutivo, sem cor, sem vida. As palavras e os seus encantamentos, as imagens e as suas armadilhas, a caverna do Platão e a casota do Pluto, um puto, ranhoso e esfarrapado a tirar macacos do nariz, o verniz riscado que nunca brilhou na realidade que o queria reluzente. Diluente da existência ilusória, escapatória para outros males ou, quem sabe, para um melhor. Final em terra com emergência preparada, impacto profundo do focinho no fundo…do nada…
ARTUR

terça-feira, 29 de abril de 2008

UM DISCO,UM FILME, UM LIVRO


THE WALL de Pink Floyd : A história e o caminho de um homem só. A grande barreira entre ele e a vida é feita pela solidão, pelo sofrimento, ou seja, as traves mestras da existência.


DIVA, Jean-Jacques Beinix, França 81
Um filme : Porque pela primeira vez me foi possível confirmar que se podia filmar um poema.


EURICO, O PRESBÍTERO de Alexandre Herculano
Porque condensa num único título toda a "Arte do Romance".

segunda-feira, 28 de abril de 2008

PASSAGEM


(Algures no Brasil. foto de Sofia P. Coelho)
Passagem, olhares de sempre fixados em lugar nenhum. Bancos impessoais, espaços neutros da barcaça de todos os dias que nos leva e traz sem fazer perguntas. Um braço estendido oferece qualquer coisa. Solidariedade, companheirismo, porque sim. Alívio do peso das pedras carregadas em cada jornada.
Cheiros, chulé anónimo, suor de fim de dia, brisa marítima sobre um fundo de gasóleo queimado que se liberta da casa das máquinas.
E o tempo vai passando assim, entre lágrimas e risos, entre crianças e velhos, entre vidas e mortes. A barcaça todos os dias, a mesma travessia, as mesmas expressões de olhares. Gestos, os solidários e os agressivos. No Tempo de dia nenhum, aqui estamos até estar, perdidos na rotina que nada diz, no ruído sem palavras, nos dias parecidos com coisa nenhuma. E cá andamos até perceber… qualquer coisa que seja, qualquer coisa diferente. Talvez outro rumo de barcaça com sentido de VIDA…
ARTUR

sábado, 26 de abril de 2008

SÓ...POR EXISTIR
SÓ...POR DUVIDAR
TENHO DUAS ALMAS EM GUERRA
E SEI QUE NENHUMA VAI GANHAR...

JORGE PALMA

terça-feira, 22 de abril de 2008

ENTREFITAS E ENTRETELAS


O último livro de Pedro Bandeira Freire, publicado em 2007, pode ser-nos apresentado de várias maneiras, consoante a sensibilidade de cada um. Para uns trata-se de um “contar” de histórias com personagens reais, para outros o registo de memórias de um “velho lobo” e, para outros ainda, a sua carta testamentária, o registo biográfico de uma vida cheia e repleta de acontecimentos. Seja qual for o ângulo escolhido, o certo é que Pedro Bandeira Freire é um personagem incontornável da vida boémia e artística lisboeta dos anos 60, 70 e 80. Homem dos sete instrumentos, a sua faceta mais conhecida será no entanto a do fundador do cinema Quarteto, sala mítica que ajudou a formar várias gerações de cinéfilos.
Rebelde, inconformado, desorganizado, Pedro Bandeira Freire estabeleceu com a vida uma relação saudável, justa e equilibrada, que só os espíritos superiores conseguem. Do Colégio Militar até ao estatuto de avô (o livro é dedicado ao neto, “para que saiba o avô que tem”) o seu caminho é povoado de altos e baixos como em todos os casos, paixões, desamores, ódios e gargalhadas sempre em boa companhia do seu infatigável amigo “Jack Daniels”. A própria organização do livro “Entrefitas e Entretelas” obedece a regras muito próprias, ou seja, os episódios apresentam-se desordenadamente, havendo para cada um deles um título de um filme. E os filmes, esses sim, aparecem por ordem alfabética.
E assim, o passar das histórias vai-nos dando a conhecer um homem que conheceu o mundo, que aprendeu tudo o que tinha a aprender com a vida no CINEMA, que amou, bebeu, fez grandes amizades e que se preparava (na altura) para o descer do pano com uma tranquilidade lúcida e consciente. “Tudo acaba! Pois acaba! E daí..?”
Conhecer Bandeira Freire é revisitar alguém conhecido senão mesmo, revisitarmo-nos a nós próprios. Quando desde muito novos se tem consciência que nada disto faz grande sentido, poucos são os espaços que nos restam para pedir asilo, anestesia, qualquer coisa que finja que não é assim. Há o amor, claro que sim, e há depois a paixão da criação, a bebedeira, as drogas e todos eles são desvios, sinais de trânsito existencial que nos vão afastando desse certeza permanente que muitas vezes temos vontade de chamar mais cedo. Dependendo da força com que nos agarramos a esses desvios, o tempo passa e conseguimos chegar ao fim com estatuto de senhores, iguais aos outros que nunca fomos. Não por pedantismo nem muito menos por complexo de superioridade, apenas pelo azar de ter nascido com as antenas sintonizadas numa consciência diferente.
Pedro Bandeira Freire chegou ao fim como um senhor, igual aos outros. Sem amargura nem raiva, foi levando a vida gerindo quem era e o que ela lhe podia dar. E foi muito que ambos deram um ao outro. Ler “Entrefitas e Entretelas” é viajar por esse mundo de um homem que, sendo extraordinário e único, nunca se levou muito a sério. Um grande abraço, Pedro. Até sempre…
ARTUR

quinta-feira, 17 de abril de 2008

A MORTE DA MEMÓRIA

Ninguém sabia afirmar com grande certeza em que dia é que os palhaços tinham tomado conta dos destinos do circo. Aliás, naquele momento era o que menos podia importar… a data desse dia. O circo amanheceu como um breve esqueleto fossilizado de onde pendiam memórias de estruturas anteriormente sólidas em forma de cinzas. Tudo estava terminado. Acabavam-se empregos, actividades, vidas e sonhos do tamanho do universo daquela gente toda que agora olhava sem forças para fazer mais nada o desfazer de uma estrutura onde cabiam todos os seus dias. Em roupão, barbas por fazer, redes nos cabelos frisados em ferros quentes de improviso, ali estavam a admirar o vazio dos dias que se lhes iam seguir.
Ninguém se conseguia lembrar como é que começou… a comunicação foi-se tornando curta como os dias de Inverno, até se silenciar. Encolheu em ondas cada vez menos seguidas, cada vez menos audíveis, até passar do não entendimento ao silêncio total.
Os componentes do folclore do afecto tornaram-se sombras, depois memórias, e depois coisa nenhuma. Um beijo, uma carícia, um toque solidário no ombro. Ninguém se lembrava do momento em que tinha terminado a capacidade da expressão do amor.
A praia foi ficando cada vez maior, alargada de areia até não haver água. A floresta foi ficando careca, ardida, seca, sem animais, até ser um ermo impessoal, sem rosto nem cor. Só algumas pedras restavam para a identificar.
A existência foi caindo no correr da rotina, perdendo o sentido até ter sentido nenhum. Ausente de direcção foi ficando também ausente de razão. Por isso deixou de existir.
Os direitos humanos foram vendidos em troca de um prato de lentilhas, em nome de uma funcionalidade falsa de razões, colocando no mercado a dignidade e a cidadania a preços acessíveis ao comprador.
E ninguém se conseguia lembrar onde nem como tudo tinha começado. Uma cortina de denso esquecimento apagou a memória e a consciência como um nevoeiro propositado saído de lado nenhum. Ninguém se conseguia lembrar como é que o tempo ali tinha chegado em forma de fim. Apenas que tinha acabado daquela maneira estúpida e inglória sem sentido. Uma maneira de acabar que terminou assim, mas que se calhar não era obrigatório de acontecer. Se ao menos alguém se tivesse lembrado como é que começou talvez se pudesse ter tido outra atitude de evitar o pior. Mas não… O pior costuma ser sempre a única opção para quem não se lembra como é que as coisas começaram…
ARTUR

O PARADOXAL ALTERNATIVO DA EXISTÊNCIA

quinta-feira, 10 de abril de 2008

FILARMÓNICA


(Foto de Valter Dinis)
A Banda Filarmónica no Royal Albert Hall (1937)

OS QUE LÁ FICARAM

Guerra colonial. Um debate delicado foi aberto pela exumação dos restos mortais de onze soldados portugueses que perderam a vida com a arma na mão, em Guidaje, Guiné-Bissau. Nem toda a gente está de acordo com a ideia de que o campo de batalha seja a sepultura mais digna para um combatente
O Dia do Combatente, celebrado ontem, na Batalha, é este ano marcado, se não directa, pelo menos indirectamente, pela questão da exumação, em Guidaje, na Guiné-Bissau, dos restos de onze militares portugueses, mortos em combate, em 1973, e sepultados na zona onde se situava um pequeno aquartelamento, já muito perto da fronteira com o Senegal.
A operação de levantamento das ossadas, de acordo com o major-general Lopes Camilo, vice--presidente da Liga dos Combatentes, foi desencadeada no quadro de um plano geral de intervenção que pretende concentrar os restos de militares caídos em combate em determinados cemitérios locais, que serão cuidados e eventualmente transformados em espaços de memória, que podem ser até de memória partilhada com os países onde os cemitérios se localizem e dar origem ao chamado "turismo de memória".
No caso da Guiné-Bissau, a Liga dos Combatentes tem um protocolo já firmado com o Instituto de Defesa Nacional guineense, prevendo-se a concentração das ossadas, depois da sua rigorosa identificação, em cemitérios de Bissau, Babadinca, Bafatá e Gabú.
No caso das onze exumações agora feitas, depois da identificação, que ainda não foi feita, sendo, por isso, os restos considerados como de "soldados desconhecidos", serão as ossadas depositadas no cemitério de Bissau, a menos que os familiares decidam fazer a sua transladação para Portugal, cujas despesas terão de ser suportadas pelas próprias famílias, já que a Liga apenas actuará, nesses casos, na identificação dos militares e no apoio à remoção de barreiras burocráticas que simplifique os procedimentos legais necessários à transladação.
Por localizar estão ainda os restos de 20 outros militares, de incorporação sobretudo guineense, e sepultados na mesma região de Guidaje, que era, em 1973, uma das mais aquecidas zonas de guerra.
Ninguém fica para trás?
Das onze sepulturas referenciadas, com levantamento de ossadas, três dizem respeito a pára- -quedistas, alvos da atenção da respectiva associação, que permanece unida e aparentemente fiel à ideia de que "ninguém fica para trás", e do grande impulso emocional resultante de imagens recentes, e traumáticas, de cemitérios ao abandono em África, com campas depredadas de antigos combatentes.
Nasceu aí um movimento cívico de antigos combatentes, visando "não esquecer os companheiros de armas que em terra do então ultramar tombaram para sempre, dando a vida pelo país" e firmando-se naquilo que é sublinhado como "sentido da honra e dever de lealdade para com os que morreram por Portugal".
O major-general Lopes Camilo situa, porém, a operação no âmbito restrito de uma acção envolvendo a Liga dos Combatentes, o Ministério da Defesa, a Universidade de Coimbra e o Instituto de Medicina Legal. O sucesso da localização e levantamento das ossadas, e uma eventual transladação dos "páras" para Portugal, pode, no entanto, iniciar, pela mediatização e choque emocional da operação em Guidaje, um delicado processo, chocando-se teses que defendem o regresso a casa de todos os que morreram em África ou sustentam que devem os mortos ficar na dignidade dos campos de batalha onde tombaram.
Augusto de Freitas, hoje um neuropsicólogo, sargento em meados dos anos setenta, com missões cumpridas em Moçambique, de 1973 a 1975, nas zonas operacionais de Tete e Nangade e que lidera, agora, a Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra, não esconde uma crítica dura: "É uma vergonha a falta de respeito pelos que lutaram pela Pátria e os governos de Portugal têm esquecido os que morreram e ficaram enterrados em cemitérios que estão hoje ao abandono e que têm sido, em alguns casos, depredados!"
Augusto de Freitas, admitindo que o assunto é complexo, continua à espera de que o País enfrente a necessária tarefa de fazer regressar os restos dos que perderam a vida na guerra colonial, algo que tem de ser feito, mesmo sabendo que essa operação "vai mexer com as emoções do País e dos familiares dos que tombaram em combate".
Há, porém, quem considere que "os mortos são uma marca do império", pessoas que "estão onde, se calhar, devem estar", em locais "onde combateram e morreram", não havendo "sepultura mais digna do que a que foi cavada no próprio campo de batalha".
Defensores desta tese convidam a uma profunda e sensata reflexão que evite a abertura de uma "caixa de Pandora". O regresso dos restos de apenas alguns antigos combatentes poderá levar muitas famílias a reivindicar o regresso também dos seus mortos. "E se não houver esses mortos?", perguntam. É que não poucos combatentes morreram em circunstâncias que não permitiram sequer a recuperação de fragmentos e o antigo "comando", agora escritor, Matos Gomes, combatente na zona de Guidaje, limita-se a contar que numa operação de resgate de vítimas do rebentamento de uma mina, apenas conseguiu identificar, entre inúmeros minúsculos fragmentos, "a roda dentada da caixa de velocidades do veículo"…
DIÁRIO DE NOTÍCIAS 6 de Abril de 2008
Paula Borges

LE DESERTEUR

Monsieur le Président,
je vous fais une lettre,
que vous lirez peut-être,
si vous avez le temps.

Je viens de recevoir
mes papiers militaires
pour partir à la guerre
avant mercredi soir.

Monsieur le Président
je ne veux pas le faire,
je ne suis pas sur terre
pour tuer de pauvres gens.

C'est pas pour vous fâcher,
il faut que je vous dise,
ma décision est prise,
je m'en vais déserter.

Depuis que je suis né,
j'ai vu mourir mon père,
j'ai vu partir mes frères,
et pleurer mes enfants.

Ma mère a tant souffert,
qu'elle est dedans sa tombe,
et se moque des bombes,
et se moque des vers.

Quand j'étais prisonnier
on m'a volé ma femme,
on m'a volé mon âme,
et tout mon cher passé.

Demain de bon matin,
je fermerai ma porte
au nez des années mortes
j'irai sur les chemins.

Je mendierai ma vie,
sur les routes de France,
de Bretagne en Provence,
et je crierai aux gens:

refusez d'obéir,
refusez de la faire,
n'allez pas à la guerre,
refusez de partir.

S'il faut donner son sang,
allez donner le vôtre,
vous êtes bon apôtre,
monsieur le Président.

Si vous me poursuivez
prévenez vos gendarmes
que je n'aurai pas d'armes
et qu'ils pourront tirer.

BORIS VIAN

quarta-feira, 9 de abril de 2008

NÃO APAGUEM A MEMÓRIA

Exactamente, como foi previsto há cerca de 60 anos...
É uma questão de História lembrar que, quando o Supremo Comandante das
Forças aliadas, General Dwight D. Eisenhower encontrou as vítimas dos
campos de concentração, ordenou que fosse feito o maior número
possível de fotos, e fez com que os alemães das cidades vizinhas
fossem guiados até aqueles campos e até mesmo enterrassem os mortos.
E o motivo, ele assim explanou: " Que se tenha o máximo de
documentação - façam filmes - gravem testemunhos - porque, em algum
ponto ao longo da história, algum bastardo se erguerá e dirá que isto
nunca aconteceu".

"Tudo o que é necessário para o triunfo do mal, é que os homens de bem
nada façam". (Edmund Burke)

Relembrando:
O Reino Unido removeu o Holocausto dos seus currículos
escolares porque "ofendia" a população muçulmana, que afirma que o
Holocausto nunca aconteceu...
Este é um presságio assustador sobre o medo que está atingindo o
mundo, e o quão facilmente cada país está se deixando levar.
Estamos há mais de 60 anos do término da Segunda Guerra Mundial.
Este email está sendo enviado como uma corrente, em memória dos 6
milhões de judeus, 20 milhões de russos, 10 milhões de cristãos, e
1900 padres católicos que foram assassinados, massacrados,
violentados, queimados , mortos de fome e humilhados , enquanto
Alemanha e Rússia olhavam em outras direcções.
Agora, mais do que nunca, com o Irão, entre outros, sustentando que o
"Holocausto é um mito", torna-se imperativo fazer com que o mundo
jamais esqueça.

LA LYS - 90 ANOS DEPOIS


(Foto de Sofia P. Coelho)
La Lys, Flandres, 9 de Abril de 1918. Primeira Guerra Mundial. A 2ª Divisão portuguesa, sob o comando do General Gomes da Costa e com um efectivo aproximado de 20 mil homens, é atacada de madrugada pelo 6ª Exército alemão (50 mil efectivos) comandado pelo general von Quast.
Nesse dia, entre mortos, feridos e prisioneiros, o contingente português perdeu 300 oficiais e 7000 praças. O desiquilíbrio de forças no terreno era extensivo à capacidade tecnológica.
Mesmo assim o exército português bateu-se de forma digna e com bravura. Ao ponto de o seu esforço ter sido amplamente reconhecido por todos os outros aliados.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

LUANDA A DOIS TEMPOS



(Fotos de Sofia P. Coelho)

PASSAGEM DOS DIAS DO PESCADOR


(Foto de Sofia P. Coelho)
Vou-me enrolando com o Tempo numa relação tranquila sem grandes sobressaltos. Uns dias trabalho, outros folgo. Umas vezes escrevo, outras nem por isso. Não me apetece. E o que acontece é que consigo ter uma relação bem mais agitada e sofredora com o romance que tenho em mãos do que com o Tempo. O caderno olha para mim de cima da secretária com aquele olhar silencioso mas ao mesmo tempo inquisitivo. -Então? Nunca mais é Sábado? Quando é que isto acaba, afinal?
“Quando é que isto acaba?” Há-de acabar, seguramente, só não te sei dizer quando. Hoje apetece-me esticar ao Sol como um lagarto em frente a uma revista e uma “bica” na esplanada. Há algum problema com isso? Devo-te alguma coisa, Literatura? Não, não te devo nada. Tal como nada devia à Vida quando aqui cheguei e no entanto, ela nunca se cansou de me cobrar sempre que podia, dívidas inexistentes. Exactamente como tu. Cobras-me aquilo que eu não te devo. Nunca te convences que se te der alguma coisa é só porque me apetece. Não me alimentas, não me proteges, não me pagaste a educação, não me compraste roupas. Faço-me a ti como me fiz à Vida. Umas vezes com êxito, outras com sofrimento. Agora dever-vos alguma coisa, nunca.
Sou mais como um pescador do que um escritor, na medida em que ando sempre “à pesca”, na recolha...
Um amigo meu diz que escrever um romance é como andar numa praia deserta ao fim do dia a recolher lenha para uma fogueira. Quem já se viu nesta situação entenderá perfeitamente a metáfora. Numa praia deserta aparecem aqui e ali, muito raramente uns pedaços de cana, destroços de madeira que deram à costa. Com um bocado de sorte não estão ainda húmidos. É difícil. Não quer dizer que não se consiga. Mas custa, pôrra, sai das entranhas da alma. E quando acabamos de acender uma fogueira inebriamo-nos com o sucesso. Mas é Sol de pouca dura. Ou porque já nos sentimos enervados em acender a próxima ou por medo de falta de ideias que não a permitam existir. Garantido é que, em cada fogueira acesa, deixamos um pouco da alma. Daí o stress, as depressões, os dias em que mandamos a Literatura às malvas.
Como pescador, recolho memórias e histórias. Umas vezes aproveitáveis, outras nem por isso. Muito é deitado fora por não servir para nada. O resto escama-se, tira-se as entranhas e tenta-se assar em crónicas, em extractos de prosa para alguém ler. Sem esquecer que tudo tem a durabilidade da escrita na areia. Até à próxima preia-mar.
Sou um pescador de palavras contadas pelos outros, recolector paciente e persistente de lenha furtiva para a transformar em chama de um romance. Não o faço por mais nenhuma razão que não a da sobrevivência. Se parasse, começava a crescer “para dentro” até implodir como uma estrela. Para evitar o buraco negro despejo palavras no papel. Umas vezes faz sentido, outras sentido nenhum. Tenho de comer, de me aquecer à noite. Corro pela praia todos os dias com uma excelente relação com o Tempo. É o único que não me cobra nada, que não me obriga a coisa nenhuma. É com ele que converso quando quero conhecer outros como eu que já andaram nesta praia. E ele nunca me nega a informação, os registos pesqueiros dos que pescaram antes de mim. É a eles que devo alguma coisa…aos que escreveram e se foram…como eu irei um dia. E o meu amigo Tempo fará o favor de entregar os meus relatos aos próximos utilizadores desta praia. À Vida e à Literatura não lhes devo nada.
ARTUR

quinta-feira, 3 de abril de 2008

A FATHER AND SON REUNION...BY THE SEA


(Esta imagem foi-nos gentilmente cedida pelo blog "bocados de tudo" e é da autoria de João Pais)

A 1ª ARTE MUNDIAL

A importância do cinema vem de ser a primeira arte mundial. O poder da imagem ultrapassa as diferenças entre as línguas. Ao serviço do russo Tolstoi, uma actriz sueca dirigida por um realizador americano, atravessa o Ocidente, a Índia e o Japão.
Que o poder convincente das imagens não nos engane! Ele consiste apenas na imitação da realidade, embora naquilo que tem de mais interpretativo do mundo irreal, daquilo que, assemelhando-se à realidade, a realidade não se assemelha.
Houve o mundo do romance e o mundo da pintura. Mas se o romance enfraquece de ano para ano, se a pintura, mesmo figurativa, renunciou à ficção, será talvez porque nenhum tipo de ficção consegue rivalizar com o cinema.
O que o cinema nos revela a cada ano que passa é que os homens, apesar de tudo o que os separa, apesar dos mais graves conflitos, comungam sob um único céu estrelado no que aos sonhos fundamentais diz respeito. E esse céu encontra-se em qualquer filme de talento, mesmo naqueles que nunca mais voltaremos a ver.
Prémios entregues, festival terminado, em vosso nome para todos, dedico uma palma de ouro imaginária a este céu invisível, à misteriosa fraternidade das imagens da terra feliz e da terra sangrenta ou ameaçada na qual Chaplin e Eisenstein se uniram aos mais novos de entre vós – ao sonho invisível dos homens que encarnais sucessivamente, e que os primeiros encarnaram para todos os homens.

ANDRÉ MALRAUX (Discurso de encerramento do Festival de Cannes – Maio de 1959)