quinta-feira, 3 de abril de 2008

A 1ª ARTE MUNDIAL

A importância do cinema vem de ser a primeira arte mundial. O poder da imagem ultrapassa as diferenças entre as línguas. Ao serviço do russo Tolstoi, uma actriz sueca dirigida por um realizador americano, atravessa o Ocidente, a Índia e o Japão.
Que o poder convincente das imagens não nos engane! Ele consiste apenas na imitação da realidade, embora naquilo que tem de mais interpretativo do mundo irreal, daquilo que, assemelhando-se à realidade, a realidade não se assemelha.
Houve o mundo do romance e o mundo da pintura. Mas se o romance enfraquece de ano para ano, se a pintura, mesmo figurativa, renunciou à ficção, será talvez porque nenhum tipo de ficção consegue rivalizar com o cinema.
O que o cinema nos revela a cada ano que passa é que os homens, apesar de tudo o que os separa, apesar dos mais graves conflitos, comungam sob um único céu estrelado no que aos sonhos fundamentais diz respeito. E esse céu encontra-se em qualquer filme de talento, mesmo naqueles que nunca mais voltaremos a ver.
Prémios entregues, festival terminado, em vosso nome para todos, dedico uma palma de ouro imaginária a este céu invisível, à misteriosa fraternidade das imagens da terra feliz e da terra sangrenta ou ameaçada na qual Chaplin e Eisenstein se uniram aos mais novos de entre vós – ao sonho invisível dos homens que encarnais sucessivamente, e que os primeiros encarnaram para todos os homens.

ANDRÉ MALRAUX (Discurso de encerramento do Festival de Cannes – Maio de 1959)

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