É talvez a maior novidade destes
dias: o silêncio. O espaço vazio onde nada se passa enquanto tudo acontece. Da
janela para fora o silêncio é desenhado pelos pássaros, uma população agora
mais presente e mais numerosa. O melro habitual na ponta do parapeito sempre
pronto para uma conversa breve, as gaivotas mais lá em cima, os pombos agora
mais atrevidos a passear pela rua fora em vez de espreitar dos telhados, os
pardais. Um tráfego aéreo intenso mas ao mesmo tempo silencioso. Na fila para o
supermercado as pessoas guardam a distância recomendada e fazem uma fila
espaçada, muito maior que o habitual como se de um jogo de recreio se tratasse.
Mas mantém-se silenciosas com medo de dizer alguma coisa. Entreolham-se
interrogativas, contemplam a paisagem com a mesma expressão de perplexidade e
ignorância escondida atrás da máscara. Escondem-se do risco continuando a
sobreviver, num equilíbrio difícil e instável que lhes abalou as certezas e
relativizou as prioridades. E quando tudo isto passar, quando se chegar ao fim,
o que é que vai acontecer? Quais são as chances de sobreviver e acabar com as mãos
a abanar, sem meios de continuar vivo. Tudo isto passa pelas nossas cabeças
embora não se ouça. As preocupações e os medos vivem em nós silenciosamente. Com
tanta mudança nas nossas vidas de um dia para o outro começamos a duvidar se
existiu alguma coisa lá atrás. Alguma coisa em forma de Passado que se foi
descolando como um adesivo peganhento. As prioridades mudaram de lugar. É
preciso sobreviver mas é preciso também voltar a inventar a vida, dar-lhe outro
sentido, não importa qual. Desde que não se volte ao mesmo modo que , de certa
forma nos trouxe até aqui. É urgente reinventarmo-nos…de uma maneira ou de
outra. Talvez o Silêncio e a Solidão sejam parte da ferramenta essencial para o
fazermos…Quem sabe..?
Artur
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