sexta-feira, 26 de outubro de 2007
A OUTRA MARGEM
O Luis Filipe Rocha é dos poucos cineastas em Portugal com quem eu gostaria de trabalhar como argumentista. Infelizmente é também um dos poucos cineastas que escreve argumentos de altíssima qualidade, bastando -se a si próprio nessa área. Apaixonei-me pela sua obra desde a minha adolescência quando vi A FUGA, o seu primeiro filme em 16mm. Depois disso seguem-se CERROMAIOR, AMOR E DEDINHOS DE PÉ, SINAIS DE FOGO, ADEUS PAI, CAMARATE, A PASSAGEM DA NOITE e, há poucos dias, A OUTRA MARGEM.
Características comuns em todos os seus filmes são, primeiro a relação dos indivíduos com as mais variadas formas de manifestação do poder e, segundo a solidão. Todos os seus personagens são seres de solidão que arrastam consigo o peso das suas escolhas e dos seus sonhos. No seu mais recente trabalho, Luis Filipe Rocha continua uma série começada lá atrás em ADEUS PAI, ou seja, as relações de familia e as suas respectivas disfuncionalidades. Em A OUTRA MARGEM essa sua fase atinge um nível extremo de expressão abordando as ligações familiares a um nível de requinte e crueza até aqui inéditos. Temos um homosexual traesti, uma irmã mãe solteira de uma criança com o síndrome de Down e um pai viúvo que não quer voltar a ver o filho.
O arranque do filme que nos faz antever um excesso de melodrama a roçar a histeria de sentimentos rapidamente adquire a velocidade de cruzeiro para uma sobriedade narrativa de aceitação e ritmo próprio do respirar da(s) vida(s). A boçalidade rural e o frenesim emocional da grande cidade acabam por se apresentar nas suas roupagens naturais onde aquilo que se pode esperar é aquilo que realmente se recebe. Um bom filme, sem dúvida. Mais um de um dos melhores cineastas portugueses da sua geração
ARTUR
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1 comentário:
De cinema percebo como de jazz ... e no entanto leio-te a até acho que ... dassssssss .... p ... de magia das p... das palavras bem arrumadas !
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