sexta-feira, 26 de outubro de 2007

QUANTUM SATIS

Queiramos ou não (eu não quero !!!), a novela BCP cai-nos em cima todos os dias, em qualquer telejornal, jornal ou tele-diário. Anteontem, a notícia rezava que o Eng. Jardim Gonçalves tinha rapado do livro de cheques e liquidado a dívida do rebento, tentando pôr fim ao escândalo. Ontem, a novidade era a oferta de fusão entre o BPI e o BCP, resultando numa nova entidade chamada Millenium BCP, o que faz juz a um velho ditado africano, segundo o qual, quando o leão está prostrado, por velhice ou doença, até as hienas e os chacais lhe vêm roer os calcanhares... De repente, não mais que de repente, lembrei-me que o Eng. Jardim Gonçalves é um membro activo da Opus Dei (não confundir com Opus Gay) e que o delfim anterior, o Dr. Paulo Teixeira Pinto era também um membro eminente de tal seita. Aliás, numa entrevista dada há uns meses à revista "Visão", o Dr. Pinto declarava que aplicava diariamente uma das normas mais relevantes do ideário da Opus Dei, a saber: a "santificação" pelo trabalho. Ora, sendo o trabalho do Dr. Teixeira Pinto o empréstimo de dinheiro a juros, podemos concluir que este prócere e outros congéneres atingiram um alto grau de santidade, a avaliar pelo sucesso da instituição financeira então por ele dirigida, e por outros continuado no mesmo rumo em direcção a um qualquer Nirvana prestamista que, no caso concreto, se materializa numa santificação ante-mortem, capaz de ombrear com a beatificação dos Pastorinhos de Fátima, sendo esta post-mortem. Não sei se existe um santo padroeiro dos usurários, mas o Dr. Pinto parece-me um excelente candidato. Até ao século XVII, ou talvez um pouco antes, a Igreja Católica interditou aos cristãos a prática da usura, reservando-a aos judeus. Estes “assassinos de Cristo”, já incorriam na eterna danação, visto não possuírem alma, ou, hipótese um pouco melhor, possuírem apenas uma alma diminuída ou a meio-gás. Eram também culpados do homicídio do Filho do Homem, e de não se terem subjugado à doutrina da Igreja de Roma, pelo que podiam praticar livremente esse horrível ofício. É preciso lembrar também, caso alguém a tenha esquecido, a célebre história narrada no Evangelho de S. Mateus: um popular pergunta a Jesus Cristo se não desagradaria a Deus que o povo pagasse os impostos aos romanos. Cristo, olhando uma moeda com a efígie de César responde que é preciso dar a Deus o que é de Deus, e a César o que é de César. Os tempos, como se sabe, mudaram muito e, nos dias de hoje, a usura praticada pelo Dr. Paulo e congéneres já pode ser vista como uma actividade “ad majorem Gloriam Dei”. De ressalvar, no entanto que os próceres deste calibre trilham o perigoso caminho de atribuírem a César o que é de Deus, e a Deus o que é de César. Não serão por isso condenados a nenhum dos círculos do Inferno, descritos por Dante n' "A Divina Comédia". Apenas a algum tempo no Purgatório, espécie de férias sabáticas entre um empréstimo e uma OPA. Lembrei-me, também, de uma espécie de cimeira das grandes luminárias reunidas no Convento do Beato, angelicamente denominada "Compromisso Portugal", em que todas as eminências se dignaram verter em linguagem profana as iluminações que receberam, quiçá directamente de Deus, concernentes às soluções que permitiriam a esta cansada Pátria sair do atoleiro em que, dizem-nos, está metida. Tais soluções, parecendo novas, eram velhas, muito velhas: reclamava-se a manutenção e incremento dos chamados “centros de decisão” em território nacional, uma condição “sine qua non” para o desenvolvimento do torrão pátrio. Logo a seguir, o Dr. Vaz Guedes, um dos maiores entusiastas dessa pia intenção, vendeu a Somague aos espanhóis. Outros comprometidos terão feito outro tanto, honrando assim os compromissos que assumiram com Portugal, para benefício das suas contas bancárias e enriquecimento dos respectivos accionistas. Portanto, de “Compromisso” e de “Portugal” estamos conversados… Propunham, ainda, um “pacote de medidas” que, de uma penada, resolveriam os problemas nacionais, pondo o país a par com a miragem espanhola, criando um paraíso de “superavit”, o Psi20 no cume dos Himalaias das remunerações mirabolantes e toda a gente contentinha da vida. Para os mais distraídos, relembro que tal “pacote de medidas” consiste , sumariamente, em dois vectores: despedimentos massivos na Função Pública (250.000 funcionários); benefícios ficais – também massivos – para os empreendedores, inovadores, super-competentes e ultra-competitivos empresários e banqueiros portugueses. Recomendação filosófico-ideológica essencial: abandonar rapidamente o conceito ultrapassado de Estado Social e promover em larga escala uma verdadeira economia de mercado, libérrima e, simultaneamente conservadora, capaz de nos catapultar para o “pelotão da frente” do desenvolvimento. Descontado o português paupérrimo em que tais propostas estão redigidas (que não valem o papel e a tinta em que estão escritas), a que os franceses, na sua infinita sabedoria, chamam “langue de bois”, e o singelo facto de os santificados promotores da iniciativa ainda não terem percebido o passadismo das suas “ultra-modernas” ideias, acresce uma simples mas comovedora razão para tornar este circo tão inócuo. A saber: a menos que eu tenha acordado de um longo sono cataléptico que me tenha privado do conhecimento da realidade política nacional durante um lapso de tempo, ou que o “daemon” interior me esteja a enganar, o Primeiro-Ministro de Portugal não se chama António Carrapatoso, Américo Amorim, Dr. Paulinho, Diogo Vaz Guedes ou Belmiro de Azevedo. Nem o partido eleito pelo povo para, em seu nome, governar o país se chama Vodafone, Somague, Millenium BCP, etc. Chamam-se, respectivamente, José Sócrates e Partido Socialista. O conclave, além de santificar o "insantificável", resultou na situação actual : ninguém deu ouvidos às sábias proclamações e os santificados abocanham-se uns aos outros. Deus nos salve e guarde de tais Santos, enquanto vamos tentando sobreviver na selva

4 comentários:

redjan disse...

Art: o nojo foi de feder, de foder e chegou tipo fedex ! Amanhã, o Benfas perde e o povo arrota, põe uns ténis e vai ao Shopping! Descarrega na 2ª circular e na VCI, dá umas fodas na amante.... e vai a correr para o mill/bpi com cores novinhas. O Cristiano continua a dizer que quem sabe sabe ! E o pessoal acha que ele fala de um banco. E fala. Mas de um de malfeitores mancomunados em tanta fé de juntar água, em tanta luva e betão, em tanta cegarrega empoeirada de branco e suorzinhos de gemidos de falsete. Dasssss. já nem sei o que digo ... mas ainda sei o que li !!! Que se fodam as cedilhas que te vão incomodar uns post acima !

Artur Guilherme Carvalho disse...

REDJAN : o post é do Arnaldo Mesquita e tá muito bem esgalhado. Vivemos uma vida de merda e de pagamentos eternos a estes filhos da puta que gozam connosco todos os dias.
ARTUR

apodius disse...

Caríssimo Arnaldo,

Portugal é um banco de areia!!!
Cabe a todos nós que não nos atirem areia para os olhos e que sentadinhos num banco, que aqui por trás-os-montes, se diz mocho, possamos observar o mar...
Um abraço,
JN

Anónimo disse...

Caríssimo Mesquita:

Vim aqui parar absolutamente por acaso (estava à procura de uma notícia sobre o Millenium...) e foi curioso, depois destes anos todos, ter encontrado um texto teu, no meio de um "blog". Ele há coisas dum raio... Perdi os teus contactos e também os do resto da malta, já que estive vários anos na Legião Estrangeira, de onde regressei aqui para Vieira do Minho. Se puderes, contacta-me para o e-mail nunosilva_lead@hotmail.com. Um grande abraço Ranger deste que nunca esquecerá Lamego, os Rangers e os amigos como tu, o Tózé, O Bessa, O Felizardo e tantous outros.


SILVA RANGER