domingo, 20 de julho de 2008
TATI A FECHO
FORZA BASTIA
Jacques Tati, Sophie Tatischeff
França, 1978
No longínquo ano de 1978 uma equipa da Córsega chega pela primeira vez à final de uma competição europeia, a da Taça UEFA, tendo como adversário o PSV Eindhoven. Consciente da importância e solenidade daquele dia o presidente do Bastia, Gilbert Trigano, decide registar o momento para a posteridade. Para tal dirige-se a uma das maiores referências da comédia do cinema mundial, Jacques Tati (1907-1982), encomendando-lhe um filme sobre os acontecimentos. O resultado é um documentário com cerca de 26 minutos de duração que, por várias vicissitudes, acabou por se tornar num símbolo marcante nas vidas de todos os intervenientes. Naquela comunidade, porque registou a magia de um dia histórico e único, um acontecimento que perdurará para sempre na sua memória colectiva. Na vida do realizador por se tratar do seu último trabalho antes de morrer e também por funcionar de certa forma enquanto essência da sua brilhante obra, pequeno espaço fílmico onde se podem encontrar as linhas mestras de uma expressividade criativa que fez escola e influenciou a carreira de outros comediantes que se lhe seguiram.
Antigo jogador de Rugby e mimo de cabaret, Tati entra para o cinema na fase de transição do “mudo” para o “ sonoro”. A sua compleição e destreza física são uma das armas de que se socorre para desempenhar personagens que se exprimem muito mais com o corpo do que através da fala. Em FORZA BASTIA Tati mergulha nas entranhas de uma comunidade como um médico no corpo de um paciente. Encontra-lhe a respiração, o bater do coração, a vibração dos sentidos, a fotografia do sistema nervoso, o diálogo entre a alegria e a ansiedade. Os únicos sons humanos que conseguimos ouvir são os que provêm do ruído indistinto da multidão. De resto, quem fala é o sino da igreja, as buzinas dos carros, o passo apressado do andar das pessoas, um cão ao longe. Nesta pequena parábola documental, Jacques Tati ilustra e regista a experiência do jogo através da diversidade do espaço envolvente dando-lhe uma densidade social que ainda hoje é alvo de estudo em meios académicos.
Embora não referenciado em muitas das suas filmografias, este filme não deixa de ser o último da sua obra. A explicação radica talvez no facto de o realizador nunca ter chegado a concluí-lo na fase da montagem. Por alguma razão o filme andou perdido vários anos até que foi (re)descoberto nas instalações do cine clube local. Entregue a Sophie Tatischeff ( filha do realizador), coube-lhe a tarefa de o terminar na sala da edição. De certa maneira Tati regressou da morte quando a sua filha terminou o seu último trabalho…
FORZA BASTIA é um daqueles raros momentos em que, à força do encontro entre diferentes áreas de actividade e diferentes maneiras de ler a vida, a Humanidade se vê confrontada com uma razão forte para celebrar (-se). Um jogo de futebol, um dia único na vida de uma comunidade, um filme documental, um reencontro familiar… um dia de festa.
ARTUR
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
E onde é que se pode ver essa obra-prima, Artur?
Estás porreiro?
Um abraço.
Tudo bem, Carlos. Eu vi esta pérola por acidente num festival de cinema documental. Mas tenta no site IMDB e vê se tem venda ao público. 1 abraço
Artur
Enviar um comentário