segunda-feira, 28 de julho de 2008

Releituras: #4 “Mesquita de Córdova (pormenor)”


Se a morte, essa daninha, te espera, como, de certa atinada certeza o faz, tal-qualmente, aliás, sempre fez e, de consabida previsão, não deixará de fazer, então sossega-aguarda pela sua certeira chegada, a não ser, claro está, que ela, de cenho arregaçado, empunhando a fria gadanha ou, quiçá, outro mais moderno aparato de mondar os campos-de-gente, encontre, ela própria, por tão antiga ou até enfado, o fim de perecer, isto é, de a morte mesma morrer; de todo o modo, a pergunta que tão descabida hipótese coloca ao vivente, em rigor ao sobrevivente - que somos todos, eu que ainda escrevo esta linha e tu que me lês agora - é: se a morte morresse quem a ceifava, assegurando também a escolta e o Norte em direcção ao último destino? iria ela sozinha pelo caminho que jamais de singelo alguém trilhou, ou haveria uma sobremorte, de carranca capaz d'assustar e fazer temer aquela cruenta que nos aflige? ouço-te, de resto, contra argumentar, Disparate, a morte não pode morrer, ora por não querer ir sozinha, ora por fazer falta ao justo equilíbrio da renovação, ciclo vital do que é matéria viva-pulsante, ora, em fim, pela pura-simples razão atrás aventada de não ter ela, a mais triste por suportar infinda existência, quem lhe dê o merecido descanso após tanto trabalho e constante cuidado a prover o previsto desfecho à ensandecida perfídia dos homens.

NB: O meu Escrevinhices faz hoje 3 anos.

1 comentário:

Artur Guilherme Carvalho disse...

Parabéns João pelo 3º aniversário do teu blog e o meu muito sincero obrigado pela tua "extenuante"colaboração deste mês neste blog que divides comigo com o Arnaldo e a Sofia.Têm sido fantásticos os teus registos. Continua. um abraço
ARTUR