Apesar de os celtas terem sido
uma grande civilização, eles nunca foram uma unidade, isto é, nunca se
organizaram nem se entenderam enquanto realidade única. No fundo representavam
um vasto colectivo de inúmeras tribos que partilhavam uma língua comum. E com o
passar do tempo até mesmo essa característica se foi dissipando.
Durante o séc. II e o séc. I AC a
civilização romana começa a sua expansão para Norte na direcção da Gália. A
máquina bem treinada e bem oleada do exército romano é a principal razão das
suas quase sempre bem sucedidas campanhas. Há no entanto uma outra arma quase
tão eficaz e tão rentável que os romanos aplicavam. A diplomacia reforçada
pelos cofres de Roma. Apoiando umas tribos celtas na luta contra outras, interferindo
militarmente nos conflitos entre elas. Quando davam pelo seu erro já era tarde
demais. A terra já tinha sido anexada à vastidão do império romano. Em 57 AC , quando Júlio César
afirmou que a maioria dos gauleses eram romanos, a sua afirmação não estava
muito longe da realidade.
Numa fase final da campanha da
Gália os gauleses tomaram consciência das verdadeiras dimensões da catástrofe
que lhes caía em cima da cabeça. O atrasado esforço unificador de resistência
ao invasor romano terá o seu trágico epílogo em Alésia, a última barreira.
Vercingetorix teria ainda tempo
de afirmar que a sua participação na guerra se devia não para fins pessoais,
mas em nome da causa da liberdade. Pouco depois deporia as suas armas e o seu
escudo aos pés de Júlio César. Ao fim de seis anos de cativeiro, Vercingetorix
foi apresentado numa parada como um animal pelas ruas de Roma, momentos antes
de ser estrangulado até à morte.
Após a queda de Alésia os celtas
e a sua cultura quase desaparecem do continente europeu. Nos tempos seguintes os
seus territórios a ocidente e a oriente levaram o mesmo destino que o da Gália.
As comunidades celtas independentes haveriam de encontrar o seu refúgio e
afirmação um pouco por todas as ilhas britânicas, nomeadamente a Irlanda,
partes de Gales e as terras altas da Escócia. No séc. VI DC estas regiões seguem o resto da Europa ao
assumir uma nova cultura: o Cristianismo.
E é através desta nova etapa da
civilização europeia que a cultura celta, em vez de desaparecer
definitivamente, ganha novo fôlego na medida em que passa a ser objecto de
atenção dos novos escribas cristãos que registam as histórias mais antigas.
Pela primeira vez, deuses e heróis da tradição céltica saem das sombras. Monges
cristãos, interpretando a memória à sua maneira, repuseram os mitos antigos no
livro do Génesis, de tal maneira que acabamos por não saber distinguir de que
forma é que o paganismo celta interpretava a origem do cosmos. Nos relatos
monásticos, mitos pagãos e história do cristianismo misturam-se de uma forma que
é impossível desmontar. O guerreiro Oisin regressou do mundo pagão para ser S.
Patrício, e os mitos da deusa Brigit acabam por ser absorvidos para a sua
sucessora cristã, S. Brígida.
Ficamos assim com uma vantagem
distorcida. Se por um lado é louvável o trabalho dos monges, graças ao qual
nada se saberia sobre a cultura celta, também não é menos verdade que, ao
serem-lhe vestidas as novas roupagens da cristandade, muito se perdeu para
sempre sobre uma cultura extraordinariamente importante.
Artur
3 comentários:
No ano 50 antes de Cristo, toda a Gália foi ocupada pelos romanos... Toda? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis gauleses ainda resistiu ao invasor. E a vida não foi nada fácil para as guarnições de legionários romanos nos campos fortificados de Babaorum, Aquarium, Laudanum e Petibonum! Vercingetorix era muito orgulhoso e não se quis aliar a uma aldeia onde viviam entr'outros, um gordo, um anão e o cão dele. Azar... Abraço Artur!
Uma aldeia que resitiu sempre, teimosa e fundamental a formar gerações de miúdos fascinados com as aventuras de Asterix e dos seus companheiros. Também. Abr Hélder.
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