quinta-feira, 30 de novembro de 2017

TODAS AS ESTRADAS ACABAM NO FIM DO CAMINHO



 


A única coisa que faz sentido é uma música enquanto é tocada/cantada; a única coisa que faz sentido é um livro enquanto é lido, um filme enquanto está a ser visionado. Nada mais. Só interessa amar enquanto se ama. Quando nos pomos a falar sobre isso, já o amor deixou a sala e foi lá para fora há muito tempo. Em miúdos os nossos pais, os professores, os adultos em geral, diziam sempre a mesma coisa : “façam-se à vida…” E nós fazíamo-nos, ela é que nunca se quis fazer a nós. Por isso pegámos na força bruta da nossa juventude e atirámo-nos à estrada a querer saber, viver, beber a vida toda num dia só porque o amanhã era um ser tão distante, tão longínquo das nossas preocupações que provavelmente nem sequer existia. E correu-se estrada fora, ouvindo o vento, falando com as árvores, rindo com o mar. A vida que tinham para nos dar era demasiado pequena, demasiado absurda, demasiado cruel para sequer conseguir ter uma conversa com ela. Depois havia a arte, havia a capacidade de criar mundos fora deste mundo, sonhar, recordar outra coisa qualquer que, à força de a querermos tinha forçosamente que existir. E existiu, e aconteceu, pelo menos enquanto a tentávamos desenhar com uma guitarra, com um papel e uma caneta, com uma câmara de filmar. Novos mundos eram construídos e era durante essa construção que estavam vivos, era durante esse desempenho que se tornavam reais. Continuava-se vivo para voltar sempre ao sonho, a esse lugar agradável onde não fazia frio nem cheirava mal. Onde livres eram os seres e infinitas as suas possibilidades. Onde o gajo do lado era uma mão estendida que ajudava, um cigarro dividido, uma ideia partilhada, um braço que protegia, pedia ajuda. E nós ajudávamos.
Estrada percorrida, muitos foram os que ficaram para trás, por culpas de tudo e de todos mesmo das suas vontades. Não houve acusações, nem julgamentos, nem sequer a raiva da ausência. Era apenas o absurdo gigantesco desta vida a cumprir-se sobre as nossas existências. Mais tarde adultos mas sempre com a mesma curiosidade, o espírito de entre ajuda, observando as novas gerações e a continuar tentar perceber. Ouvi-los, pedir-lhes emprestados por instantes os seus óculos para ver o seu olhar. Ser porque é, estar porque sim, morrer porque tem de ser. Fez-se o que se podia fazer, ou o que foi deixado fazer ou o resultado de uma luta eterna entre a Liberdade e a estupidez humana.  
A vida não faz sentido nenhum…nunca fez. O problema dos homens livres é aperceberem-se disso ainda jovens. É como uma maldição que nunca mais nos deixa vestida de lágrimas e feridas para lamber ao fim do dia. Por isso quando morremos  estamos apenas a seguir esse guião horroroso e mal escrito que nunca quisemos aceitar mas que nos condena a todas as horas pelo crime de estarmos vivos, pela ousadia de querermos viver e continuar. E no fim não continuamos. Transformamo-nos em memória que alugará um espaço no coração daqueles que amámos. E aí o Amor volta a fazer sentido. Não por que se fale dele mas porque dá continuação ao acto de amar. E só assim ele consegue existir.

Artur

ZÉ PEDRO

               


                                                                   1956  -  2017


                                                                    Até sempre

terça-feira, 7 de novembro de 2017

CAMUS




ALBERT CAMUS 7-11-1913 - 4-1-1960


"Não creio suficientemente na razão para subscrever o progresso. Nem em nenhuma Filosofia da História. Creio, porém, que os homens não deixaram de aumentar a consciência que têm do seu destino. Não ultrapassámos a nossa condição, e, no entanto, conhecemo-la melhor".

L'Été