quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Segunda Entrada do Diário Laboratório de 14/3/2018


(Segunda Entrada)

No contar, a importância axial do exercício da minúcia. De outro modo, o perigo da generalização e do vago, da tese e não da história, isto é, da sua circunstância num tempo; o que foi assim e não d'outra maneira qualquer. O que é mais do que a forma. É, em conjunto, inseparável com o seu conteúdo; mas que só o poderia ser naquele momento, com tais personagens, nesse espaço cénico e tudo o mais que seja relevante e que, além disso, é único.

sábado, 20 de outubro de 2018

Primeira Entrada do Diário Laboratório de 14/3/2018


14/3/2018
(Primeira Entrada)
Ventos atrozes os da impaciência.
Os da obsessão fragmentária.
Quisera a obra extensa e, por isso, também intensa pois, num certo sentido, amiúde puramente quantitativo, a respiração dilatada permite a exploração das intensidades intrapsíquicas, do detalhe descritivo, da modelação lenta, por exemplo, de um personagem.
A brevidade, fulguração exígua, tem evidentes limitações.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Entrada do Diário Laboratório de 13/3/2018


13/3/2018
A ansiedade é sempre um sentimento d’angústia - um aspecto existencial que é uma captura. Sentem-se, obsessivamente, as seguintes perguntas: «porquê eu?»,«porquê eu, nesta conjugação cósmica que fez levantar-se esta urgência?». Porque também há algo de urgência - no fazer, quando se quer restar quedo; no não fazer ainda, quando se exige a espera.
A ansiedade: suster (ou acelerar) a temporalidade específica do contexto ansiogénico, de tal modo que se suspendam as causas ou que se remetam, instantaneamente, para o passado.
Não custa entender que esse sentimento, na escrita, seja lídimo produtor do fragmento: suspende-se o texto no momento em que surja a primeira dificuldade; remetê-lo para o passado, começando logo outro escrito; por igual curto, provisório e já arcaico.

domingo, 14 de outubro de 2018

Entrada do Diário Laboratório de 12/3/2018


12/3/2018
(Consideração)
É algo de terrível a hora-do-lobo.
Tempo de calma e desolação.
É algo de terrível porque se contempla já – isto é, em qualquer momento da vida - a senelescência e a sua miséria, a fauce escancarada da ceifeira, tudo o que se perdeu e, ademais, parece fazer-se presente tudo o que se irá perder.
É também bela a hora-do-lobo pois é a vivência do vício da melancolia.

sábado, 13 de outubro de 2018

Entrada do Diário Laboratório de 11/3/2018


11/3/2018
A literatura não é quem sou mas estou todo nela.
Um modo, quiçá, de me saber em tod’esta errância. Um modo, quem o adivinha?, de entender o devir do mundo e eu nele ou de o compreender na sua faceta mais externa, como se eu nele não existisse.
Um dia, saberei quem fui.
Há um perigo, contudo. Esse é o de viver excessivamente imerso na dimensão poético-literária; e a vida não é isso. Antes pelo contrário, é, em rigor, tudo o que está fora dela.
Melhor a metáfora do espelho ou a de um eco ou, ainda, de fantasmagoria activa pois talvez convenha ao labor estético reduzir o estrépito das coisas a um murmúrio.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Entrada do Diário Laboratório de 18/2/2018


18/2/2018
Ficção narrativa como função-de-verdade (verdade-do-tempo, bem entendido; está implícito).
Mas, o que é que isso implica?
Um método exploratório cuja pesquisa é descobrimento. Não, o autor não é livre.