quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

BOAS FESTAS







        Este blog deseja a todos os seus leitores um parêntesis na loucura e no absurdo de todos os dias, alguns momentos de paz e descontração em família, uma refeição agradável numa sala aquecida, uma sesta num sofá acolhedor e a vontade de não deixar fugir o sonho, a esperança, a ambição e a vontade de trazer sempre bem guardada esta identidade que nos faz elevar e sentir melhor através da solidariedade e do respeito pelos nossos vizinhos e pelo ambiente em que vivemos.

sábado, 9 de dezembro de 2017

CRÓNICAS DO BAIRRO…DA VIDA EM GERAL OU DO TEMPO QUE PASSA




Almoço no bairro com o meu pai há uma vida inteira. Umas vezes num restaurante, outras noutro sem poiso fixo. Murmúrios de conversa de circunstância e comentários da última jornada da bola entre garfadas e o eterno jarro de tinto da casa. Não se trata bem de comunicação mas antes de provas de vida trocadas ao sabor da refeição. Para o outro saber que estamos cá. A comunicação nunca foi o nosso forte. Personalidades demasiado vincadas, egos famintos de atenção, e apesar de tudo uma certa cordialidade, um certo respeito que se consegue subentender na forma como se gerem os silêncios. Admiração e respeito ao invés de desafio e rivalidade de machos alfa. Ou seja, não deixando de haver pontes estabelecidas de comunicação, digamos que as viagens de travessia é que não se acumulam…não gostam de se exagerar preservando-se assim as margens e a boa convivência entre elas.
Dizia o meu pai no outro dia que a malta do tempo dele já quase morreu toda. Inspiro, meto uma garfada de comida na boca para não a abrir e olho lá para fora para o bairro. O mesmo bairro que nunca é o mesmo, a mesma realidade urbana por onde as modas e as gerações vão passando, a nossa aldeia onde vivemos desde o meu bisavô no início do séc. XX. É claro que a tua malta já morreu quase toda, o que é que esperavas? Estás cá tu e isso é que importa. Ainda podemos atravessar as pontes de vez em quando e falar um com o outro, ou gerir os silêncios, o que vai dar ao mesmo. Ainda hoje da manhã a abrir o You Tube tive mais um flash de tempo. Os gajos das bandas que eu ouvia em miúdo estão carecas, barrigudos, os gajos da minha idade estão mais para avôs do que para qualquer outra coisa. Se estou muito tempo sem ver um amigo noto logo a diferença. A música é a mesma, não envelhece como o bairro. De operário a classe média, de cagalhão chique a zona histórica urbana classificada será sempre o mesmo espaço, a mesma aldeia situada no planalto de onde só se consegue sair descendo. Estou velho Pai, estou a começar a coleccionar dores e dormências em lugares que nem sabia que existiam, troco impressões sobre o simpósio médico com os amigos, fico naquela mesa do fundo nos casamentos dos filhos. Aquela ao lado da das crianças, decorada com bengalas, reumatismo e alergias ao glúten. Mas continuamos a rir uns com os outros. Continuamos a fazer das nossas sempre que podemos e a saúde permite. Mas já não é como era. Há menos força, menos intensidade, menos resistência. Do meu lado também já morreram muitos ao longo dos anos. Mas eu ainda vou estando por aqui e tu também. Ainda vamos conseguindo almoçar nos restaurantes do bairro entre silêncios e jarros de tinto da casa. A viagem vai-se aproximando do fim com a vantagem de nunca haver data marcada para tal. Um dia simplesmente termina. E a travessia desta mistura de loja de brinquedos com galeria de horrores continua a ser a mesma cagada malcheirosa que sempre foi. Onde se sofre todos os dias para de vez em quando ter direito a um rebuçado. E aguenta-se…vai-se aguentando. Os gajos do teu tempo estão todos a morrer e os do meu a tornar-se avozinhos. São os tempos, é a roda da vida, é o bairro que se renova reciclando gerações e modas. Só ele continua de pé. Nós servimo-nos do seu espaço e do seu afecto, chamamos-lhe “aldeia”, e vamos fazendo a manutenção das pontes por onde conseguimos comunicar uns com os outros. É assim…foi sempre assim. Engulo com a ajuda de um pouco de vinho, volto o olhar para dentro outra vez.
Então e aquele fora-de-jogo no Domingo? Viste no resumo? Grande roubalheira…


Artur