segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

LOS COLORES DE LA GUERRA



Juan Carlos Arce

Tudo começa em Figueras em 1939. O espólio dos quadros do Museu do Prado está em risco de perecer debaixo dos bombardeamentos da Guerra Civil. Dividido entre a protecção de vidas humanas e a evacuação das obras, o governo republicano, agonizante e sem recursos, vê-se encurralado perante o dramatismo de uma escolha. A decisão que se pretende dar a um dos quadros no mercado clandestino de arte e o roubo de uma pintura de Velásquez conjugam-se no ponto de partida para um romance empolgante de enquadramento histórico.
Uma enfermeira republicana integra uma coluna de fugitivos que cruzam a fronteira de França ao mesmo tempo que começa o complicado processo de transferência dos quadros. Este é o princípio para uma história de amor e espionagem que irá viajar por diversas cidades europeias.
A preservação da herança cultural e a simples lógica de sobrevivência em cenário de destruição eminente, a ganância e o amor genuíno, são vários os combates que se travam dentro do combate maior. Uma leitura empolgante e surpreendente premiada em 2002 com o Premio Fernando Lara para novela.

Artur

domingo, 27 de fevereiro de 2011

JUSTAMENTE, UMA IMAGEM



Começamos com um olhar? Não. Começamos por pensar nuns olhos que nos observam e só depois visualizamos, tornamos material esse olhar. Ou, se calhar, também não. Primeiro vem a saudade de uma atenção que já olhou nesta direcção. Primeiro vem a atenção afunilada no verbo “Ver” e a silhueta discreta do pensamento, o perfil aguçado da saudade. Um corpo que lamenta uma ausência e a parte de um rosto incompleta sobre uma sombra. A luz parcial que ilumina o negro de ali estar.
É apenas o lado iluminado de uma expressão que distrai o observador camuflado de ausências por preencher. Tamanhos desproporcionados que convivem no mesmo espaço. Será uma imagem justa? Não. É justamente e só…uma imagem.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

MARINA




Iniciando a sua carreira apontando a um público juvenil (El Príncipe de la Niebla, El Palácio de la Medianoche e Las Luces de Septiembre), Carlos Ruiz Zafon chegou até nós com “A Sombra do Vento”, título que o catapultou para o sucesso e consagração internacional. Seguiu-se “O Jogo do Anjo”, onde regressou ao famoso Cemitério dos Livros Esquecidos na imaginária Barcelona. Tendo estes dois últimos títulos como alvo um público mais adulto, “Marina” representa a fronteira na sua obra em que a maturidade literária se confirma, em que está feito o ensaio para voos mais altos. Anterior a “A Sombra do Vento” (2001), “Marina” foi publicada pela primeira vez em 1999 e antecipa o universo narrativo do autor para as próximas obras.
Numa cidade misteriosa, gótica, onde vários tempos coexistem num tempo só, o convite para mundos fantásticos torna-se o grande desafio, protagonizado por personagens que ficaram perdidas noutras épocas, que vivem em palácios esquecidos ou na rede clandestina de esgotos, em teatros em ruínas ou no “Cemitério dos Livros Esquecidos”, esse local inexistente mas tão provável numa cidade como Barcelona. O universo de Zafon é só por si uma ordem irrealista, uma proposta imaginária que se intromete na realidade, que desafia o quotidiano e que, nessa relação entre o possível e o impossível desenrola a sua história. O passado mergulha no presente e pede-lhe explicações, obriga-o ou a continuar ou a resolver os enigmas que ficaram para trás sem solução. As histórias de amor são também elas, enredos impossíveis que não podem acabar bem. No caso de “Marina”, Óscar Drai, vítima da sua vertente sonhadora acaba por ser atraído a um dos muitos palacetes modernistas onde gosta de deambular depois das aulas. Numa dessas fugas, conhece Marina com quem irá viver uma aventura extraordinária onde não falta o mistério, um segredo de família e um enigma do passado para desvendar.
E é neste território improvável entre o passado e o presente, entre a realidade e a fantasia, entre amantes de um amor impossível que tudo faz sentido, numa maneira crua e ao mesmo tempo fantástica. Os personagens de Zafon não terminam nunca num final feliz em que tudo se resolve, precisamente porque essa é a linguagem da vida real. Os enigmas, em lugar de serem definitivamente resolvidos, antes deixam partes acabadas, escondendo outras por revelar. Porque “só nos lembramos daquilo que não aconteceu”, a nossa vida é uma corrida permanente de ajustes de contas, amizades improváveis, castigos injustos, paixões impossíveis.
A capacidade de confrontar a realidade com a imaginação através de um código consequente de leitura provável e a cadência narrativa envolvente das situações são o segredo do sucesso deste autor de Barcelona. Sabemos que o “Cemitério dos Livros Esquecidos” não existe…mas não vamos descansar enquanto não houver alguém que o encontre…

Artur

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

IODO - MALTA Á PORTA



Anos 80, "Incrível Almadense", vocalista Rui Madeira, Friganors, Mandrakes, Roipnois, o mundo a dar cabo de nós e aquela batida rápida, sempre a tocar...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

ACORDO ORTOGRÁFICO - MAIS EXEMPLOS

Acordo Ortográfico
Nos nossos sete, oito e nove anos tínhamos que fazer aqueles malditos ditados que as professoras se orgulhavam de leccionar. A partir do terceiro erro de cada texto, tínhamos que aquecer as mãos para as dar à palmatória. E levávamos reguadas com erros destes: "ação", "ator", "fato" ("facto"), "tato" ("tacto"), "fatura", " reação", etc, etc...
Mas, afinal de onde vem a origem das palavras da nossa Língua? Do Latim!!
E desta, derivam muitas outras línguas da Europa.
Até no Inglês, a maior parte das palavras derivam do latim.

alguns exemplos:

Em Latim; Em Francês; Em Espanhol; Em Inglês; Até em Alemão, reparem:Velho Português (o que desleixámos;)O novo Português (o importado do Brasil):
Actor; Acteur; Actor; Actor; Akteur; Actor; Ator.
Factor; Facteur; Factor; Factor; Faktor; Factor; Fator.
Tact; Tacto; Tact; Takt; Tacto Tato.
Reactor; Réacteur; Reactor; Reactor; Reaktor; Reactor; Reator.
Sector Secteur Sector Sector Sektor Sector Setor
Protector; Protecteur; Protector; Protector; Protektor; Protector; Protetor.
Selection Seléction Seleccion Selection Selecção Seleção
Exacte; Exacta; Exact; Exacto; Exato.
Baptismus; Baptême; Baptism; Baptismo; Batismo.
Exception; Excepción; Exception; Excepção; Exceção.

Conclusão: na maior parte dos casos, as consoantes mudas das palavras destas línguas europeias mantiveram-se tal como se escrevia originalmente.
Se a origem está na Velha Europa, porque é temos que imitar os do outro lado do Atlântico.
Mais um crime na Cultura Portuguesa e, desta vez, provocada pelos nossos intelectuais da Lingua de Camões.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O CONTRATO GERACIONAL

De uma forma ou de outra, todas as gerações têm um acordar trágico para a vida, no momento em que começam a desempenhar a sua cidadania. Desperdiçadas em guerras, esfomeadas e sem trabalho durante crises económicas, exploradas por toda e qualquer falta de escrúpulos, sodomizadas (para usar um termo técnico) até ao fundo da dignidade, basta para isso serem novas e, portanto, mais fracas, para ficarem à mercê do egoísmo das gerações mais velhas. Os “Deolinda” não descobriram mais nada a não ser uma regra tão antiga como a sociedade humana. Todos temos reclamações a fazer, todos temos queixas a apresentar, todos temos raivas contabilizadas contra… nós mesmos. Quem abre os olhos a levar socos e pontapés, se quiser sobreviver tem que “abrir a pestana”, fechar os punhos e lutar contra tudo e todos em busca do seu lugar no mundo. A vida torna-se um imenso campo de combate que, de tão intenso e permanente, acaba por nos tornar egoístas, avarentos, malandros, numa filosofia de não deixar nada para os outros. E assim se forma esta espiral de egoísmo que esquece os velhos e explora os novos. Castigando os que castigaram e explorando porque foram explorados. Haverá legisladores e políticos teóricos que tentarão produzir leis baseadas na boa vontade e na tendência natural da bondade do “bom selvagem “ de Rousseau. Não direi que era um iludido ou sequer alguém com fraca noção da realidade. Porque também há seres humanos bons. Seres generosos, de uma consciência elevada que entendem que o mundo só pode evoluir em solidariedade, dando a mão ao próximo, ajudando em vez de criticar, ensinando em vez de exigir, ganhando o respeito dos outros de uma forma natural, autêntica. Mas esses são a ínfima minoria que não chega a lado nenhum, que pouco ou nada manda, que pouco ou nada decide.
Se pegarmos numa família de três gerações diferentes, vamos encontrar em todas um saco cheio de queixas, de mortos (e aqui digo literalmente: “mortos”) a lamentar e, principalmente, a convicção de cada uma de que no seu tempo é que era tudo pior. Dificilmente três gerações diferentes estarão de acordo em relação a quem sofreu mais, em tentar admitir qualquer tipo de sofrimento que não seja o seu.
O avô combateu na guerra colonial, o pai andou anos em trabalhos precários, o filho ouviu os “Deolinda” no Coliseu do Porto. Todos e nenhum tem razão. As pessoas boas e generosas devem ser tratadas com disponibilidade, afecto e, principalmente, respeito.
Os filhos da puta devem ser tratados como filhos da puta, sem reservas. E todas as gerações têm elementos dos dois lados.

Artur

ELES JÁ ESTÃO FARTOS

Dizes que é uma miséria veres os teus próprios filhos
transformados em vadios e drogados
- o teu orgulho de pai está ferido.
Apressas-te a culpá-los, mais à sua geração,
por não quererem alinhar na engrenagem
que eles viram esmagar o teu pobre coração.

Eles já estão fartos de saber o que tu queres deles.
Eles já estão fartos de saber quem quer vendê-los.
Eles já estão fartos de ouvir dizer: tem que ser!
E agora eles tentam viver doutra maneira qualquer.

Faz-te imensa confusão vê-los andar pelas ruas
com o olhar fixo em qualquer ponto do espaço
e umas maneiras tão diferentes das tuas.
Faz-te imensa confusão vê-los tristes e cansados.
para ti, eles não passam de uns preguiçosos,
contagiados pelas más companhias.

Eles já estão fartos de saber o que tu queres deles.
Eles já estão fartos de saber quem quer vendê-los.
Eles já estão fartos de ouvir dizer: tem que ser.
E agora, tentam viver doutra maneira qualquer.

Quem é que os levou a ser assim tão frios e indiferentes
para com os pais que tanto se esforçaram
para que eles podessem vencer toda a gente?
Quem é que os levou a ser tão ingratos e egoístas
para quem não olhou a sacrificios
para que os seus filhos dessem nas vistas?

Eles já estão fartos de saber o que tu queres deles,
Eles já estão fartos de saber quem quer vendê-los.
Eles já estão fartos de ouvir dizer: isto é assim, pá!
E agora eles tentam viver doutra maneira qualquer.

Eles já estão fartos de saber que a guerra existe.
Eles já estão fartos de saber que a Fome existe.
Eles já estão fartos de saber que a Familia existe.
Eles já estão fartos de saber que a Igreja existe.
Eles já estão fartos de saber que o Estado existe.
Eles já estão fartos de saber o que os deixam fazer.

Jorge Palma (anos 70/80 do século passado)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O MANUAL DE ORWELL



Todos os dias a sineta apita no alto da torre para chamar a atenção da manada. Após o pio estridente e ensurdecedor, o tema para gritar. “Idosos mortos em casa, solidão, abandono, maus-tratos”. E é ver a manada organizada a girar em círculo e a gritar palavras de indignação e censura. “Uma vergonha. Um escândalo. Não há direito”. E é ver quem mais se esganiça. Para a semana a sineta vai voltar a apitar e a dar outro mote para fazer girar a manada. Antigamente a religião e o futebol davam conta do recado. Hoje, à conta do progresso e da evolução, as massas precisam de meios mais convincentes. Televisões formatadas que em alinhamentos diferentes transmitem as mesmas notícias, estações de rádio que alinham a mesma lista de músicas num espírito de “vira o disco e toca o mesmo”. Não há espaço para propostas diferentes, para pessoas diferentes. A diferença não cabe nestes dias cinzentos e tristes de formatação diária. As pessoas não têm tempo para decifrar a informação, para distinguir um ruído diferente no meio da algazarra que a bombardeia constantemente.
As crianças vão continuar a nascer no meio da estrada dentro de ambulâncias dos bombeiros, os velhos vão continuar a morrer sozinhos em casa, os deficientes vão continuar a ser ignorados nos dias em que não pagam impostos, os veteranos de guerra vão continuar a ser esquecidos como uma parte incómoda da sociedade, a cultura vai continuar a pertencer a um feudo de hipócritas ciosos de defender a sua quinta onde “não é permitido o acesso a pessoas estranhas”, as gerações mais novas vão continuar a ser exploradas pelas mais antigas, as populações vão continuar a sua caminhada do interior para os grandes centros urbanos, os cidadãos vão perdendo a sua cidadania alienados em tudo o que não interessa.
Uma vaga especulativa e sem rosto decide o futuro das nações, extingue os princípios da soberania, verga os povos a uma situação de escravatura. A periferia europeia é um dos alvos perante a passividade de Bruxelas, enredada na sua teia burocrática, preocupada apenas em reduzir direitos, diminuir garantias, exterminar os mais fracos. Todos os problemas se resumem nas regalias do trabalho. Do trabalho, e só do trabalho. Milhares de magrebinos “invadem” o Sul de Itália e são recebidos por uma força policial de província que pede desesperada uma resposta das autoridades europeias. O sistema do novo cartão do cidadão falhou na adequação à rotina dos eleitores. Milhares não conseguiram votar. A costa portuguesa está desprovida de sistema de radar que já devia estar a funcionar há meses. Resposta: “Os idosos pá, a solidão, a geração da casa dos pais, o futebol, o casamento do príncipe.” Desampara-me a loja que o tempo é pouco para te roubar uma vida inteira e ainda estar sempre a imaginar maneira de te distrair…”

Artur

domingo, 6 de fevereiro de 2011

CANTOS, RECANTOS E CORES




(Buenos Aires. Fotos de Sofia P. Coelho)

Entre cantos e recantos e esquinas incertas, entre estantes de livros que te convidam e vasos pendurados que cumprimentam; entre tábuas e cores atractivas, novelos de linha e o perfume da brisa da tarde; entre uns biscoitos e um chá preguiçoso, dois dedos de conversa e um torrão de açucar; entre espaços meio abertos para o conforto de uma sala inundada de luz e boas vindas...o mundo faz-se de pequenos nadas, de coisas sem importância que nos abraçam e acolhem no seio de uma boa conversa, ou simplesmente no conforto do nosso pequeno mundo...
Artur

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Acabado de sair do forno:

Glitch para Piano Sintético.
Música baseada num motor generativo com vários filtros na pós-produção.
Enjoy