terça-feira, 29 de janeiro de 2008

ZABRISKIE POINT




O olhar de Dante cruzou o Vale da morte e escolheu um sítio para descansar. Foi em Zabriskie Point. Antonioni imitou-o e fez um filme com o mesmo nome desse lugar.Gus van Sant também filmou por ali. Um filme intitulado GERRY.Interpretem vocês o espaço infinito da solidão e abandono do homem que caminha entre a paisagem e o interior de si próprio.
ARTUR
Dante's View/Death Valley/ Zabriskie Point. Fotografias de Sofia P. Coelho

NO COMMENTS

Que País é este em que vivemos?

Banco Alimentar – "Há médicos e professores a pedirem-nos ajuda para dar de comer aos filhos"

Jornal Expresso – Raquel Moleiro, com Isabel Vicente, 1/12/2007


A denúncia parte de Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar. São os 'novos pobres': a classe média sobreendividada


Manuela, 33 anos, hesitou antes de escrever aquele «e-mail» para o Banco Alimentar Contra a Fome (BACF). E mesmo enquanto o redigia, não tinha ainda a certeza de, no fim, ter coragem de carregar no botão de enviar.

Ela, bacharel em Relações Internacionais, quadro de um ministério, casada com um professor de educação física ex-atleta olímpico. Mãe de uma bebé com cinco meses, tinha agora de pedir ajuda para alimentar a família. O marido que ficou sem emprego, um salário de 2000€ que desapareceu no mês em que festejaram a gravidez, a renda da casa que foi falhando vezes de mais, o cartão de crédito gasto até ao limite, o apartamento trocado por um quarto, e nem assim a comida chegava à mesa . "No dia em que enviei o «e-mail» faltavam três semanas para receber e só tinha 80€", explica. "Havia para a bebé, mas nós íamos passar fome".

O caso tem um mês. Ana Vara, assistente social do BACF, ligou a Manuela mal leu o pedido. E disse-lhe o que tanto tem repetido ultimamente: não tenha vergonha, não é a única. " Nos últimos quatro meses, mais que duplicaram os pedidos directos ao banco alimentar. E há cada vez mais casos de classe média ", garante Isabel Jonet. A directora do BACF chama-lhes " os novos pobres": empregados, instruídos, socialmente integrados, mas, ainda assim, vítimas da pobreza e até da fome. Nos últimos três meses, chegaram ao banco alimentar de Alcântara 250 casos, 30% dos quais se enquadram nesta nova categoria. E em todos há pontos transversais: mais mulheres, muitas mães, desemprego inesperado, rupturas familiares, e sempre sobre-endividamento.


(...) As famílias tradicionalmente carenciadas aparecem no banco alimentar, pedem olhos nos olhos. Os novos pobres gritam por ajuda, envergonhadamente, através do correio electrónico.



Como Luciana, médica, cujo desemprego súbito do marido fez ruir a estrutura económica do lar de nove filhos . Sem ele saber, sem o magoar de vergonha, pediu apoio alimentar para um casa onde nunca tinha faltado nada.


Entretanto, nem tudo são lágrimas:


O lucro do Millennium BCP atingiu 191 milhões de euros no primeiro trimestre do ano. Os resultados em base recorrente cresceram 16% nos primeiros três meses do ano.


O Banco Espírito Santo divulgou quinta-feira um lucro de 139,8 milhões de euros no primeiro trimestre, mais 33% que no período homólogo.


O BPI obteve um resultado líquido de 96,8 milhões de euros no primeiro trimestre do ano, um valor que corresponde a uma subida de 30 por cento face a igual período do ano anterior.


O resultado do Banco Bilbao Viscaya y Argentaria (BBVA) subiu para pouco mais de 1,25 mil milhões de euros , mais 23% no resultado líquido no primeiro trimestre de 2007.


O Banco Santander Central Hispano obteve um resultado líquido de 1,8 mil milhões de euros , no primeiro trimestre do ano. Este valor representa mais 21% que no período homólogo.




Fernando Madrinha – Jornal Expresso – 1/9/2007:



«Para um breve retrato deste nosso país singular onde cada vez mais mulheres dão à luz em ambulâncias – e assim ajudam o ministro Correia de Campos a poupanças significativas nas maternidades que ainda não foram encerradas –, basta retomar três ou quatro notícias fortes das últimas semanas. Esta, por exemplo: "Centenas de famílias pedem conselho à Deco porque estão afogadas em dívidas à banca ". São pessoas que ainda têm vontade e esperança de cumprir os seus compromissos. Mas há milhares que já não pagam o que devem e outras que já só vivem para a prestação da casa. Com o aumento sustentado dos juros, uma crise muito séria vem aí a galope ».


«Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles . Daí que os manda-chuvas do Millenium BCP se permitam andar há meses numa guerra para ver quem manda mais, coisa que já custou ao banco a quantia obscena de 2,3 mil milhões de euros em capitalização bolsista. Ninguém se rala porque, num país em que os bancos são donos e senhores de quase tudo , esse dinheirinho acabará por voltar às suas mãos».

«Quer dizer, as notícias fortes das últimas semanas – as da tal «silly season», em que os jornalistas estão sempre a dizer que nada acontece – são notícias de mau augúrio. Remetem-nos para uma sociedade cada vez mais vulnerável e sob ameaça de desestrutruração, indicam-nos que os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

FELIZMENTE MÚSICA

Não havia um momento histórico decisivo onde se pudesse jogar a vida toda num dia em nome de uma ideia, de uma coisa qualquer. As ideias eram repetições sucessivas, casas construídas sempre da mesma maneira, com uma ou outra variante mínima. Nada de novo debaixo do Sol. O amor era um jogo de cartas marcadas, enganos e egos mal disfarçados, um cheiro desagradável.
O tempo era de indecisões paralisantes, subjectividades inconsequentes, vaidades desmedidas, um momento entre o tempo antigo que terminava e outro que se começava a construír. Aí se encontrava a desconstrução daqueles nascidos no meio deste fogo cruzado, entre dois tempos antagónicos. Demasiado novos para o tempo que morria, desmasiado velhos quando o novo tempo se erguesse definitivo. A contradição, o desnorte e a ausência de limites explodiam as personalidades, iludiam os sonhos, queimavam as esperanças. Nas encruzilhadas da existência e da História bebiam-se as ilusões até aos limites. Iludiam-se os anseios até à inconsciência, rebentavam-se as regras para melhor se sentir a Vida. Jogava-se em terreno perigoso. Dias houve em que as coisas correram mal. Muitos não ficaram para o contar...
Mas havia qualquer coisa de bom no meio daquilo tudo, algo que tranquilizava e fazia entrar em sintonia, mostrava a posssibilidade de um lado melhor, uma luz ao fundo do túnel. felizmente havia a música...
ARTUR

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

GANGS OF NEW YORK



GANGS OF NEW YORK
Martin Scorsese
EUA, 2002



Um espaço : Nova Iorque. Um objecto de análise : a luta pelo poder. Uma linguagem: a violência. Eis o cinema segundo Scorsese. Uma carreira de três décadas repleta de obras-primas, alguns momentos menos conseguidos ( muito poucos), e, acima de tudo, o amor de uma vida pelo cinema.
Scorsese é este nova-iorquino descendente de emigrantes sicilianos, marcado por ódios e fantasmas de uma herança familiar, moldado pela realidade das ruas onde cresceu. Um homem de “tribo e território”, realidades às quais não se cansa de regressar.
Em GANGS OF NEW YORK, o filho volta ao seu território mítico de eleição, auxiliado pelas ferramentas de trabalho preferidas.
Em 1928, Herbert Asbury publicou “Gangs of New York”, uma história acerca de grupos rivais que disputavam o controle das ruas nos bairros pobres de Nova Iorque durante o séc. XIX. Este foi o ponto de partida e adaptação do filme, que recriou a baixa novecentista de Manhattan em 15 hectares de àrea da Cinecittá.
No cerne do conflito vamos encontrar os Nativistas ( protestantes descendentes dos primeiros colonos anglo-holandeses) e os recém- chegados católicos irlandeses, que durante o século XIX “invadem” a América em hordas intermináveis de fugitivos da fome e da repressão britânica, a uma média de 15 mil por semana. Num combate colectivo entre as duas referidas facções, a criança Amsterdam Vallon ( Leonardo Di Caprio ) assiste à morte do seu pai ( Liam Neeson), líder do grupo irlandês “Dead Rabbits” às mãos do líder do gang rival, Bill “The Butcher” ( Daniel Day-Lewis). A praça, Five Points, uma das àreas mais obscuras e mais violentas da cidade, foi mais tarde arrasada e reurbanizada no virar do século. Dezasseis anos depois, o jovem Amsterdam regressa a Five Points empenhado em vingar a morte do pai.
Mas a vingança teima em se concretizar. Primeiro quando Amserdam conhece Jenny Everdeane (Cameron Diaz), uma famosa carteirista e antiga amante de Bill “The Butcher”. A relação turbulenta com Jenny e a conquista da confiança de Bill geram sentimentos contraditórios. Por um lado, Amsterdam rejeita e deseja a carteirista, por outro pretende vingar a morte do pai sobre um homem que o acaba por acolher e admirar como a um filho. Sobre esta teia de paradoxos, um ambiente muito mais presente de violência e de sobrevivência diária que deixa muito pouco espaço para a contabilidade afectiva. O tempo passa até que Bill acaba por saber a verdadeira identidade de Amsterdam e castigá-lo em conformidade. Não o matando, marca-o com um ferro em brasa no rosto, símbolo de humilhação e castigo.
Amsterdam recupera e a vingança torna-se inevitável. Reune à sua volta todos os gangs dispersos que se quiserem opôr a Bill “ The Butcher” e o combate final é preparado dos dois lados da barricada.
Sobre a teia afectiva a brutalidade dos dias passados nas ruas à procura de continuar vivo. Sobre a brutalidade do cenário das ruas, a História americana a seguir o seu curso, neste caso através da Guerra Civil Americana. Ou seja, de um nível individual para um nível colectivo e desse nível colectivo para um ainda maior de inconsciente colectivo. O esmagamento dos níveis mais pequenos de vida pelos maiores. E aqui há quem critique a falta de desenvolvimento do drama individual dos personagens em nome de uma informação de carácter histórico que interrompe abruptamente esse fluxo. Opiniões...
O que Scorsese se limita a fazer é a exercer o seu direito de opção narrativa e decidir-se sobre que caminhos seguir nas encruzilhadas das várias histórias que compõem a história que ele nos quer contar.
Quando se prepara o combate final, Nova Iorque está a ferro e fogo. Decorre a maior rebelião civil da sua história motivada pelo recrutamento obrigatório para a Guerra Civil. Contra o Conscription Act de 1863, o primeiro recrutamento obrigatório da história daquela nação, os nova-iorquinos revoltam-se. Só seria livre do serviço militar quem pagasse 300 dolares, uma fortuna para aquele tempo. As classes mais pobres revoltam-se, queimam postos de recrutamento, assaltam as casas da zona rica da cidade e perseguem e matam todos os indivíduos de raça negra que encontram pela frente, dado que, entendem que é por causa dos escravos que corre toda aquela guerra. Durante três dias, os cidadãos de Nova Iorque mostraram ao Presidente Lincoln que se recusavam a combater no exército abolicionista. Só com a entrada em força do Exército e da Marinha é que se conseguiu anular o gigantesco motim. Mais um ódio periférico que vem caír em cima da última batalha de Five Points. Quando todos se preparam para se massacrar mais uma vez, para decidir quem é que fica com o controle das ruas e do dinheiro do crime, as bombas dos canhões dos vasos de guerra da marinha caem-lhes em cima, acabando com a festa. Amsterdam acaba por vingar o pai e matar Bill... mas a vida nunca mais vai voltar a ser como era.
Scorsese tenta, através de dramas pessoais, enaltecer não só a massa de que foi feito o seu país, como, relatando o seu lado de inconsciente colectivo, destacar e enaltecer aquilo que os manuais de História gostam de esconder. Porque nem tudo são rosas e beijinhos, nem tudo é porcaria e barbaridade. Mas de um e de outro... todos temos um pouco...


ARTUR GUILHERME CARVALHO.

DUNAS DE AREIA EM DEATH VALLEY (Califórnia)




Fotos de Sofia P. Coelho

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

FROM DE CRAIDLE TO THE GRAVE


Tudo é tão simples, afinal, como uma folha a balouçar ao vento. Tudo é tão belo como o pequeno e persistente rebento que espreita tímido e verde seco do fundo de um ramo, persiste em crescer na sua furia de vida, a criança que se equilibra teimosa, que vence as quedas e começa a caminhar sobre as pernas. Óbvia é a nossa condição de vida alicerçada entre o absurdo e a estupidez que construímos todos os dias e da qual somos únicos responsáveis. Revoltado é o pensamento contra a constatação da nossa condição terminal, sonhadores de um destino eterno que a Natureza não escreveu em lado nenhum. Um contrato de arrendamento em vez da compra da existência para sempre.Triste e doloroso é o Amor quando lhe queremos arrancar o nosso benefício, a nossa troca justa, o nosso retorno. E tão simples e compensador quando nada lhe pedimos...
Inevitável é a folha que se vai tornando mais seca e castanha no Outono, crescendo para dentro de si até caír da árvore e se desfazer em pó sobre o pó da terra. Inevitável é a nossa secura, a nossa cor castanha, a inversão do nosso crescimento para o interior, a morte e a mistura com a poeira do chão.
O mundo sorri quando nasces e chora quando partes por não estar no teu lugar...
ARTUR
Foto de Sofia P.Coelho

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

RIDERS ON THE STORM


Las Vegas ao anoitecer ( Fotografia de Sofia P. Coelho)

Riders on the storm,
Riders on the storm,

into this house we're born,
into this world we're thrown
like a dog without a bone,
an actor out alone,

riders on the storm

There's a killer on the road
His brain is squirming like a toad
Take a long holiday
Let your children play
If you give this man a ride
Sweet family will die
Killer on the road

(music)

Girl you gotta love your man
Girl you gotta love your man
Take him by the hand
Make him understand
The world on you depends
Or life will never end
Gotta love your man

Jim Morrison

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

BOM DIA

Não deixem morrer os sonhos



"Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem destrói o seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajecto, quem não muda as marcas no supermercado, não arrisca vestir uma cor nova, não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam o brilho nos olhos, sorrisos, corações aos tropeções, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo, não tentando um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!"

Pablo Neruda

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

APESAR DE VOCÊ

HOJE VOCÊ É QUEM MANDA
FALOU, TÁ FALADO
NÃO TEM DISCUSSÃO
A MINHA GENTE HOJE ANDA FALANDO DE LADO
E OLHANDO PARA O CHÃO
VIU
VOCÊ QUE INVENTOU A TRISTEZA
ORA TENHA A FINEZA DE A DESINVENTAR
VOCÊ QUE INVENTOU O PECADO
ESQUECEU-SE DE INVENTAR O PERDÃO

APESAR DE VOCÊ
AMANHÃ HÁ-DE SER OUTRO DIA
Chico Buarque

AQUI


LAS VEGAS. Foto de Sofia P. Coelho
Aqui parados, entre ficar ou partir, com o céu como referência. Aqui sentados a aspirar a brisa de fim de tarde com uma lata de cerveja na mão e dois dedos de conversa fraterna, aconchegante. Arrancando a frio com os pneus a chiar no alcatrão sem vontade de partir mas com a força da obrigação. À beira da morte espectadores, de impotência vestidos, dizemos adeus, até breve, um dia a gente vê-se.
Aqui plantados com tempo para sorrir de vez em quando a traquinice de uma criança um bafo inesperado de humor desengonçado a equilibrar-se na frágil trave que atravessa um obstáculo. A vermelho de raiva pintados, com as mãos fechados de ódio sobre a cara de quem deixou de a ter.
Aqui recordando, recordados os sonhos de uma memória de felicidade em que por breves instantes o mundo e o Eu fez sentido.
Aqui chorados no medo de não saber, no receio de não sentir, no tempo que não passa, a vontade de voar com uma asa quebrada.
Aqui amados olhando as nuvens ou as estrelas em suaves brilhos de um tacto só nosso.
Aqui perdidos em semáforos parados, esperando sem nada esperar, por uma vida que nos sirva e que insiste em estar comprida nas mangas e dura no apertar.Aqui…
ARTUR

domingo, 13 de janeiro de 2008

PARECE QUE SIM!

N a minha opinião, bem como na de muitas outras pessoas que estiveram presentes, a tertúlia(ou "tortúria") correu bem. Cumpriram-se os objectivos, seguiu-se a linha de trabalho pré-definida e a assistência não só gostou como também participou. O espaço encontrado (para mim, novidade) parece-me o ideal para este tipo de iniciativas. A Tertúlia está pois de pé e, tudo o indica, tem mais elementos para a fazer crescer que podem dar uma mais-valia importante.
Do livro do Zé Ceitil, das dificuldades de publicar que qualquer criador literário enfrenta, da blogosfera, corremos a ordem de trabalhos e só nos apanharam de surpresa quando soubemos que a sala estava reservada a partir das 17h. para outro grupo. A quem lá esteve agradeço a vossa presença e espero que tenha correspondido às expectativas criadas. Se sim, da própxima vez levem mais um amigo. Está a aquecer...está a andar...a Terúlia está no ar. Um abraço a todos
ARTUR

O ÓDIO

O ódio é filho do medo, neto da ignorância e bisneto da indiferença. A maneira mais fácil de substituir uma governação sem ideias , vazia de rumo, é encontrar um inimigo, pintá-lo com as cores mais negras que possam existir e distribuir pelos papalvos. O ódio é como um veneno epidémico que se propaga a uma velocidade estonteante. É muito mais fácil odiar, apontar o dedo ao outro do que viajar para dentro de nós próprios e procurar a raiz dos nossos erros. O ódio, a segurança aparente, a submissão, a “vidinha”. Quem odeia não pensa, limita-se a desdobrar o seu esforço pelo erro dos outros. Tanto faz que sejam de outra cor de pele, adorem outro deus, prefiram esta ou aquela filosofia de vida.
Já não chega roubarem-nos todos os dias mais um pouco da nossa dignidade. Agora querem-nos “liofilizar”, transformar-nos em padrões, normalizar-nos os dias, sossegar-nos as interrogações. Querem-nos transformar em carneirada anónima e pacífica a caminho do matadouro da sua própria ganância. A dignidade, a mais forte raiz da cidadania, vai secando como um caule de planta moribunda. Fecham-se maternidades, fecham-se hospitais, baralham-se os trâmites da justiça. Só tem direito à educação, à saúde e à justiça quem tiver poder de compra para
isso. O Estado de Direito, a única fórmula encontrada até hoje que protege mais ou menos bem os direitos dos cidadãos, vai perdendo terreno em benefício das regras da selva do mercado. Regras que mudam todos os dias ao sabor da ganância dos grandes, que enterram definitivamente o mais fraco, o que não se consegue proteger. Ao fascismo económico só se pode seguir o fascismo político. Continuaremos indiferentes, ignorantes, medrosos e a odiar…até que mais uma tragédia venha tomar conta dos nossos dias.
ARTUR

sábado, 12 de janeiro de 2008

Zeitgeist

TERTÚLIA À VISTA

A todos os passantes, parantes, viajantes e rafeiros em geral que ocasionalmente visitam este blog, venho humildemente anunciar a realização de uma pequena tertúlia de índole literária que vai ter lugar no próximo Domingo dia 13 nas instalações da antiga fábrica de Braço de Prata, pelas 15 horas na sala Nietzsche. O programa consistirá numa apresentação do livro de José Ceitil "Vidas Simples Pensamentos Elevados" passando depois para o tema dos novos autores e as dificuldades de publicar, seguindo pelas portas que a blogosfera abriu e, obviamente, contará com a vossa participação. Quem quiser aparecer e dar a sua opinião será benvindo. Mais informações em www.braco de prata.org. Um abraço, até Domingo
ARTUR

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

OBRIGADO LUIS


Podia desatar aqui a discorrer sobre isto e aquilo, a cantar passagens de vida, enumerar grupos e movimentos, enaltecer a personagem, cansar a assistência. Em vez disso venho-me despedir de um referencial, talvez um dos mais importantes de sempre, que atravessou a Literatura Portuguesa como um meteorito no passado século. Editor, autor, libertino,provocador, espírito livre. Tudo foi e tudo tentou passar aos outros fazendo da sua vida um espaço de partilha ainda que da maneira mais acidentada e tortuosa que se lembrou. Não morreste Luis. Os tipos como tu nunca morrem...mudam de sítio e vão chatear cinzentões para outro lugar. Em nome da Literatura enquanto acto de criação e libertação; em nome da subversão das verdades adquiridas e tão inatacáveis que ningém consegue explicar; em nome da Vida... OBRIGADO LUIS
ARTUR

TRÊS OLHARES SOBRE UM DIA


ALGURES ENTRE O MUNDO E NOVA YORK

Na minha opinião toda a gente devia ir a Nova York pelo menos uma vez na vida. Por várias razões, que se prendem com um espectáculo único de sons, cheiros, cores e cenários urbanos. Trata-se, sem qualquer réstia de exagero, da capital do mundo, para onde sempre convergiram e continuam a convergir gentes de todos os cantos da terra em busca de uma vida melhor, de mais espaço, de mais qualidade. A consequência mais evidente espelha-se na riquíssima oferta gastronómica, cultural, turística, etc. Em Nova York as ruas e as avenidas têm números em vez de nomes, as primeiras cortam a cidade à largura enquanto que as outras a percorrem a todo o comprimento sendo fácil a orientação para um estrangeiro, em certas esquinas cheira por vezes a baunilha, sai um fumo constante das tampas dos esgotos (de Inverno ou de Verão), há quase tantos táxis a circular como prédios, o Sol joga connosco ao gato e ao rato por entre os espaços abertos dos arranha-céus e as pessoas são na sua generalidade simpáticas e disponíveis.
Por outro lado, estreitando um pouco mais a abrangência deste crónica, a cidade de Nova York é um paraíso para todos os amantes de cinema e literatura. Para esses, percorrer as suas ruas e avenidas é o mesmo que protagonizar um filme em sessão contínua ou um romance urbano repleto de mistérios e interrogações.
Um dia inteiro em passeio por este extraordinário cenário foi o que decidi fazer junto com o João e o Zé, aproveitando uma das boas prerrogativas que a vida de tripulante nos oferece. O frio acalmava em relação aos 9 graus negativos registados na noite anterior, ajudado por um Sol tímido de Inverno quando saltámos do comboio. Direcção Norte, Uptown, a caminho de Central Park, via 5ª Avenida. Picardias e galhofa constantes para atrasar os efeitos do frio, conversas ocasionais sobre os livros, temas a serem excluídos pelo mais velho. Não se podia falar sobre merda nem sobre a morte, temas quanto a mim extremamente ricos e parecidos em quase tudo. Antes de atravessarmos Midtown uma pausa para uma “bucha” num pronto a comer com 500 mil opções desde sandes a sushi, passando por vários pratos. Escolher, receber, sentar e comer. Não se perde tempo na cidade que nunca dorme. Os restaurantes estão sempre abertos e pode-se comer uma refeição a qualquer hora. Mastigação ao lado de uma família de turistas alemães, mesas repartidas que o espaço é pequeno, partilha natural de mesas. A inevitável conversa de circunstância, eram de Berlim, outra boa terra. Nunca lá fui, tenho uma ideia através dos filmes do Fassbinder, mas só isso. Dizem que mudou muito de lá para cá. Tem que ir lá um dia, é uma cidade muito bonita. Acredito. Despedidas com votos de boa estadia. Próxima paragem, (ou será passagem?), Biblioteca da cidade, exposição, efeméride sobre Jack Kerouac, poster enorme sobre a entrada. Então Jack, ganda maluco? Jack acena com uma garrafa de whisky na mão, estilo: não me digam nada que já estou a ficar farto da comemoração. Daqui a pouco vou até Central Station e meto-me no primeiro comboio para o Sul. Fuck este frio. Avenida acima, paragem obrigatória no Rockfeller Center. Fotografias e mais galhofa, bocas a voar em todas as direcções…o Jan acha que fica com o cabelo parecido com o do Paulo Bento, não gosta de ser enquadrado abaixo da linha do peito (manias). Árvore de Natal ao fundo, pista de gelo mesmo na base do edifício. Gente, muita gente em todas as direcções. Estação seguinte: paragem obrigatória na Barnes & Noble, espaço nobre de editores, autores e leitores. Uns livros para o saco, ON THE ROAD para o João, que ainda não tinha lido. A revista inevitável às longas prateleiras de títulos com particular atenção aos autores norte-americanos, muitos habitantes desta magnífica cidade. E é já com uns saquinhos na mão que o trio ataca Central Park. Mais uma sessão de fotografias, mais bocas, mais galhofa. O lago quase gelado com algumas placas à superfície. Pausa para enquadrar. O Paul Auster morou ali, do lado esquerdo, e o Lennon morava mais acima na parte norte do Park. O Salinger deambulou por estas ruas em adolescente, antes de escrever o clássico Catcher in The Rye. Referências…Circunda-se o Parque e pés ao caminho para baixo, apanhar o Metro perto da Broadway. Uma nuvem de néon ilumina as ruas como se fosse dia. Os espectáculos, a publicidade, os filmes em ecran gigante. Uma visita breve a uma loja de fotografias de cartazes de filmes e capas de discos. Um (re)encontro com vários filmes antigos. Destaque especial para o MANHATHAN de Woody Allen, outro rapaz desta aldeia. O banco no parque e a silhueta do casal. Belo…belo. Um atribulado debate sobre que transporte escolher para ir até lá abaixo. Uma entrada e saída no Metro. Uma reentrada no Metro e vamos embora. Saída na fronteira entre Greenwich Village e Little Italy, à procura de Washington Square. Queria mostrar duas livrarias ao João naquele espaço. Não encontrei nenhuma. Que se lixe…fica para a próxima. O Zé lembrou: aqui morou durante muitos anos o Dustin Hoffman. Era normal encontrá-lo à tarde a jogar xadrez no jardim da praça. O COWBOY DA MEIA NOITE salta-me de imediato da prateleira da memória. Outra história extraordinária tendo Nova York por cenário, John Voight, um clássico dos anos 70, um dos mais belos filmes que vi, um papelão de Dustin na personagem de Ratzso. Antes do restaurante houve ainda tempo para parar à porta do mítico Café Wha e tirar as fotografias da praxe. Finalmente o Sri Lanka, lugar único em sítio único. Luzes e enfeites de Natal pendurados da parede em quantidades gigantescas. Espaço mínimo para poucas pessoas. Na porta ao lado, o Bangla Desh, no mesmo género. Jantarada animada, planos para o futuro, o próximo livro de cada um, as dificuldades para editar, a tertúlia que se avizinha daqui a uma semana.Faz de conta que o jan faz anos, conversa de bastidores com o bacano da cozinha e a cantoria dos parabéns em srilankês. O alvo da bricadeira até bateu palmas em frente ao gelado com uma velinha acesa. Ouvir os parabéns em srilankês não é para todos nem muito menos todos os dias. Canseira, pés doridos, comboio e nem paciência para beber mais uma porque o caminho já estava pesado. Um dia divertido e descontraído na cidade mais extraordinária do mundo, com dois amigos.
ARTUR