As investigações nos últimos
100 anos das temáticas metafisicas da física quântica, tais como o
comportamento das partículas, os hipotéticos “wormholes” (portais para
possíveis universos paralelos), a recente investigação no CERN da partícula de
Deus (o enigmático bosão de Higgs), a revolucionária Teoria das Cordas, ou uma
nova abordagem à inter-relação da ciência com a religião, em lugar de trazerem
respostas, têm vindo a suscitar questões cada vez mais complexas.
No entanto, se se considerar a
experiência pessoal de vida de cada ser com a capacidade da noção de si próprio
e da sua própria existência, cada percurso pode ser encarado como um universo
único, tal como cada onda do mar, cada grão de areia, cada nuvem do céu. Nunca
acontecerá um exactamente igual por toda a eternidade.
As peças do puzzle da memória
de cada ser pensante, para além da sua própria história, moldadas a partir de
variantes únicas e irrepetíveis, na total amplitude do seu passado, mesmo
aquele que o antecedeu em milénios, séculos, décadas, antes de nascer pelo
percurso empírico dos seus antepassados, definem geneticamente a sua visão do
seu próprio universo, e condicionam a forma como este é apreendido e vivido. Um
universo no entanto, e tal como todos, em constante mutação - este
particularmente, arquitectado pelos caprichos da forma como vai sendo recordado
ao longo dos anos, resultado em movimento, das partidas da sua própria e
involuntária alteração de memória, mas que no entanto, é indubitavelmente
único.
Enfim, é extraordinária a
possibilidade de considerar que nos cruzamos diariamente com universos
paralelos coexistentes, confluentes no tempo, mais ou menos fantásticos,
desconhecidos, estranhos até, segundo a própria experiência individual, que na
possibilidade de serem intermutados, poderiam dar uma perspectiva completamente
diferente da Vida. Ou seja, vê-la pelos olhos e pela alma daquele que está à
nossa frente, mas mantendo a perspectiva e entidade originais, não seria tão
estranho como de repente acordar numa qualquer lua de Saturno?...
A incapacidade na compreensão
dos outros, da imparcialidade no julgamento, de um conseguir colocar-se no
papel do outro, do respeito e aceitação por esse universo desconhecido, está na
base dos conflitos.
A tolerância, o respeito e a
coexistência, conceitos chave na harmonia das relações das pessoas, dos povos e
das diferentes perspectivas culturais, religiosas ou políticas, deveriam ser
mais consideradas num universo que se pretende pacífico, de serenidade, de
aprendizagem, de felicidade e pleno de sentido.
Tolerância, Respeito,
Coexistência.
Na história da humanidade, as
maiores e mais infames atrocidades foram sempre cometidas em nome dos valores
aclamados pelo senso comum, como mais sagrados: Deus e Pátria - dois universos
bastardos para aqueles que por eles morreram ou ingloriamente deram a vida. Por
caprichos de uma confluência das circunstâncias do momento histórico. Quase sempre
anonimamente num desperdício grotesco. E sempre por falta de tolerância,
respeito pelas escolhas dos outros e capacidade de coexistir, da parte dos
grandes decisores do rumo dos povos.
Normalmente é depois do
questionamento dos universos sagrados, ou da forma como estes são compreendidos
e aceites, por vezes chocando aqueles que nunca se atreveram a pô-los em causa,
que uma revolução conceptual profunda permite a evolução e o progresso de
mentalidades.
Foi-o com os grandes filósofos
gregos, com a espantosa onda criativa renascentista, com a revolução
industrial, com o impulso tecnológico do final do século XX – todas
extraordinariamente revolucionárias, com espaços temporais cada vez mais curtos
entre si, e profundamente alteradoras de modos de vida, de universos.
Helder Martins
3 comentários:
Já dizia Miguel Martins Carvalho, ilustre sobrinho de Helder Martins, há 3 anos :
"O mundo é uma caderneta e nós somos os cromos"
De referir que o autor de pensamento tão profundo nasceu em 2001...
Muito bem vindo, Helder, e logo com um grande texto. As grandes palavras (respeito, tolerância, coexistência)correspondem aos nós essenciais da existência humana, ou melhor, da existência. Alguns dos conceitos que abordas, apesar de terem sido pensados ao longo dos séculos, ainda nem sequer começaram a ser pensados, isto é, integrados na experiência humana total. Um grande abraço.
Caro anónimo(a), a caderneta é a vida onde os cromos são os universos coexistentes, tão diferentes entre si... Inteligente o petiz!...
Arnaldo, agradeço as boas vindas e as tuas palavras. Acredita, é um gosto e uma honra enormes para mim, e espero sinceramente que os seguidores e visitantes gostem desta minha colaboração. Este texto nasceu como introdução aos que se seguirão, como uma espécie de cenário de fundo do meu universo, o qual partilharei um pouco aqui. Era para ser muito mais curto, mas quanto mais trabalhava aquele que era para ser o primeiro, mais esticava esta "breve" introdução a ponto de ficar com assim. Realmente os conceitos de tolerância, respeito e coexistência, ainda não estão assimilados na sua essência, tal como não está o da Democracia, vivida nestes tempos como um "Animal Farm" de Orwell, onde todos somos iguais, mas uns mais iguais que outros... Abraço!
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