sábado, 16 de fevereiro de 2013

2 - UNIVERSOS CONFLUENTES





De que forma a memória de experiências anteriores pode influenciar uma escolha presente, a partir de diversas possibilidades, universos germinados, vingando apenas um, criador da realidade posterior? E os que deixaram de se concretizar, abortados no descartar da escolha da sua possibilidade, trariam um universo melhor?...

Cada opção, das milhares que se fazem, é reflectida no futuro, definindo e projectando no conjunto a realidade que será vivida no universo individual.


Quão deslumbrante poderá ser o pensamento de se considerar que a sua existência física, pode unir quatro séculos, dois milénios e ter influências mais ou menos marcantes nos milhares de universos cruzados durante o percurso?
                                     ,                               

Ele tinha uma lembrança muito vibrante de pessoas próximas que tinham nascido no século XIX, como a sua bisavó materna Albertina, nascida em 1877 e que para a época, era anormalmente literada e politizada. Ela lia todos os jornais que apanhava à mão, falecida no final dos anos 60 e de quem ele ainda guardava uma ténue memória. Também da sua outra bisavó materna Cecília, nascida em 1888, falecida em 1982, esta perfeitamente recordada, com todas as fantásticas experiências inerentes a este longo percurso de quase um século de vida, por ela contadas na primeira pessoa e por ele ouvidas, marcadas pelas descrições de memórias bem vivas da monarquia, da implantação da república, alterações monetárias, primeira república, duas guerras mundiais, convulsões sociais, uma ditadura demasiado longa, períodos de carências, racionamentos e pobreza, para além de uma então recente revolução sem sangue, vista com algum cepticismo.

Por outro lado, fascinava-o pensar que certamente pessoas de gerações subsequentes à sua, com as quais já lidava, iriam estender a própria experiência dele de passagem pela vida até ao século XXII, numa recordação da memória de si, tal como ele tinha das suas bisavós, dos seus avós e de outros bem mais velhos que ele adorava ouvir.

De alguma forma ele achava engraçado a sua existência poder servir de ponte, de uma forma mais ou menos directa entre os séculos XIX e XXII, pelos antigos que conheceu e pelos futuros que conheceria e que lhe sobreviveriam.

Hélder Martins

Sem comentários: