domingo, 10 de fevereiro de 2013

LUIS BUÑUEL – O PRINCÍPIO


 
                                               UN CHIEN ANDALOU

Luís Buñuel (1900 – 1983) nasceu na província de Aragão e fez os seus estudos secundários em Saragoça nos jesuítas. Ao chegar a Madrid irá conhecer Gomez de la Serna, Garcia Lorca e a geração de 1927. Tal como eles escreve poesia, assina uma rubrica cinematográfica na “Gaceta Literária” e anima as sessões do primeiro cine clube espanhol. Em Paris torna-se assistente de Epstein e em 1928 realiza o seu primeiro filme com Salvador Dali, UN CHIEN ANDALOU, abrindo o caminho para o movimento surrealista. A este propósito escreverá:
 
             “O Surrealismo ensinou-me que na vida existe um sentido moral que
              O homem não pode deixar de seguir. Através dele apercebi-me que
               o homem não é livre.”
 
L’AGE D’OR (1930) surge no meio de ferozes críticas dos sectores mais conservadores ( Juventude Católica, Liga dos Patriotas e Liga Anti Judia) acabando por ser interdito após a destruição do cinema onde era exibido. Os surrealistas saem em sua defesa. “Buñuel formulou uma hipótese sobre a revolução e o amor que toca o mais profundo da natureza humana” – escreveu-se na altura.
De regresso a Espanha roda TIERRA SIN PÁN (1932), um documentário acerca de uma região deserta e amaldiçoada que vive nos limites da barbaridade. O governo republicano proíbe-o. Entretanto torna-se elemento importante da Filmofono, empresa madrilena empenhada na produção de filmes populares e tendenciosos. No começo da guerra civil será produtor executivo de quatro longas metragens. Monta o filme de propaganda ESPAÑA 1937. O fim do conflito apanha-o nos Estados Unidos a trabalhar no Museu de Arte Moderna (MOMA) em Nova Iorque. Acabará por partir para o México onde continuará a filmar entre 1946 e 1955.
                                             L'AGE D'OR
Desta primeira fase da sua vida, tanto UN CHIEN ANDALOU como L’AGE D’OR consolidam-se enquanto as traves mestras daquilo que vai ser tudo o resto da sua obra. Se no primeiro as imagens oníricas se associam ao desejo erótico, no segundo denunciam-se os obstáculos encontrados na sociedade burguesa e intrísecos à moral cristã. Em ambos os casos vamos encontrar uma total subversão dos valores estabelecidos para além de uma blasfema homenagem a Sade. UN CHIEN ANDALOU começa logo com a imagem de um olho a ser cortado por uma lâmina de barbear enquanto uma nuvem se cruza no caminho da Lua cheia em analogia de movimento. O choque inicial liberta a mente de qualquer tipo de associações e prepara-a para as imagens que se seguem: o padre arrastado por burros estrada fora; o cavalo morto sobre o piano; a multidão que contempla uma mão isolada numa estrada. Serão imagens demasiado horrorosas para se gostar, para se importar com o que significam se é que querem significar alguma coisa.
No entanto Buñuel não utiliza a experimentação de forma gratuita. Pretende recriar uma realidade poética, desmontar as vias normais do espectador, surpreender para melhor alterar a sua forma de observar.
L’AGE D’OR não é um filme de ambiguidades mas antes veículo de transporte da mensagem surrealista “ao serviço da revolução”. Dividido entre a sátira, o humor negro o erotismo e a heresia, dispara em todas as direcções ansioso por ferir e chocar o máximo possível de espectadores. É inovador pela dissociação do som com a imagem, utilização do diálogo em OFF, mistura de música clássica com paso doble. Há esqueletos com mitras na cabeça, cegos pontapeados, uma rapariga que chupa o dedo de uma estátua de forma despudorada. Anos mais tarde Buñuel dirá: “Depois dos assassínios em massa dos nazis e das bombas atómicas no Japão é impossível conseguir voltar a chocar.”

TIERRA SIN PAN / Las Hurdes
Em TIERRA SIN PAN a violência é contida. Buñuel apercebe-se que a condição desesperada daquelas gentes fala por si sem necessidade das indignidades da interpretação. Má nutrição, falta de higiene, relações intermatrimoniais, tudo é simplesmente registado pela câmara num plano de uma mulher de 30 anos que parece ter 60. À compaixão e ao humanismo o realizador prefere a lucidez e a revolta. A região, não muito longe de Salamanca, engloba um total de 52 aldeias para uma população de oito mil habitantes cuja alimentação é à base de feijão e batatas. Quando estes escasseiam são obrigados a subir às montanhas em busca de frutos silvestres. Em contraste com esta condição de miséria da população as igrejas vão cumulando riqueza. E bastou uma breve referência a este respeito para o filme ser banido em Espanha.

A luta contra a tirania, a denúncia da escravidão humana, a sátira, bem como a utilização do sonho enquanto porta para o inconsciente fazem parte integral do método de Buñuel acompanhando-o ao longo de toda a obra.

No México Buñuel vai dar continuidade ao seu trabalho, voltando a filmar em Espanha em 1961.

 

Artur

1 comentário:

Hélder Martins disse...

Precisamos de Buñuel e de outros agitadores de consciências. De quem dê uma pedrada no pântano. De um novo modelo cultural. De uma revolução mental.