UN CHIEN ANDALOU
Luís Buñuel (1900 – 1983) nasceu na província de Aragão e
fez os seus estudos secundários em Saragoça nos jesuítas. Ao chegar a Madrid
irá conhecer Gomez de la Serna, Garcia Lorca e a geração de 1927. Tal como eles
escreve poesia, assina uma rubrica cinematográfica na “Gaceta Literária” e
anima as sessões do primeiro cine clube espanhol. Em Paris torna-se assistente
de Epstein e em 1928 realiza o seu primeiro filme com Salvador Dali, UN CHIEN
ANDALOU, abrindo o caminho para o movimento surrealista. A este propósito
escreverá:
“O Surrealismo ensinou-me que na vida existe
um sentido moral que
O homem não pode deixar de
seguir. Através dele apercebi-me que
o homem não é livre.”
L’AGE D’OR (1930) surge no meio
de ferozes críticas dos sectores mais conservadores ( Juventude Católica, Liga
dos Patriotas e Liga Anti Judia) acabando por ser interdito após a destruição
do cinema onde era exibido. Os surrealistas saem em sua defesa. “Buñuel formulou uma hipótese sobre a
revolução e o amor que toca o mais profundo da natureza humana” –
escreveu-se na altura.
De regresso a Espanha roda TIERRA
SIN PÁN (1932), um documentário acerca de uma região deserta e amaldiçoada que
vive nos limites da barbaridade. O governo republicano proíbe-o. Entretanto
torna-se elemento importante da Filmofono, empresa madrilena empenhada na
produção de filmes populares e tendenciosos. No começo da guerra civil será
produtor executivo de quatro longas metragens. Monta o filme de propaganda
ESPAÑA 1937. O fim do conflito apanha-o nos Estados Unidos a trabalhar no Museu
de Arte Moderna (MOMA) em Nova Iorque. Acabará por partir para o México onde
continuará a filmar entre 1946 e 1955.
L'AGE D'OR
Desta primeira fase da sua vida,
tanto UN CHIEN ANDALOU como L’AGE D’OR consolidam-se enquanto as traves mestras
daquilo que vai ser tudo o resto da sua obra. Se no primeiro as imagens
oníricas se associam ao desejo erótico, no segundo denunciam-se os obstáculos
encontrados na sociedade burguesa e intrísecos à moral cristã. Em ambos os
casos vamos encontrar uma total subversão dos valores estabelecidos para além
de uma blasfema homenagem a Sade. UN CHIEN ANDALOU começa logo com a imagem de
um olho a ser cortado por uma lâmina de barbear enquanto uma nuvem se cruza no
caminho da Lua cheia em analogia de movimento. O choque inicial liberta a mente
de qualquer tipo de associações e prepara-a para as imagens que se seguem: o
padre arrastado por burros estrada fora; o cavalo morto sobre o piano; a
multidão que contempla uma mão isolada numa estrada. Serão imagens demasiado
horrorosas para se gostar, para se importar com o que significam se é que
querem significar alguma coisa.
No entanto Buñuel não utiliza a
experimentação de forma gratuita. Pretende recriar uma realidade poética,
desmontar as vias normais do espectador, surpreender para melhor alterar a sua
forma de observar.
L’AGE D’OR não é um filme de
ambiguidades mas antes veículo de transporte da mensagem surrealista “ao
serviço da revolução”. Dividido entre a sátira, o humor negro o erotismo e a
heresia, dispara em todas as direcções ansioso por ferir e chocar o máximo
possível de espectadores. É inovador pela dissociação do som com a imagem,
utilização do diálogo em OFF, mistura de música clássica com paso doble. Há esqueletos com mitras na
cabeça, cegos pontapeados, uma rapariga que chupa o dedo de uma estátua de
forma despudorada. Anos mais tarde Buñuel dirá: “Depois dos assassínios em
massa dos nazis e das bombas atómicas no Japão é impossível conseguir voltar a
chocar.”
TIERRA SIN PAN / Las Hurdes
Em TIERRA SIN PAN a violência é
contida. Buñuel apercebe-se que a condição desesperada daquelas gentes fala por
si sem necessidade das indignidades da interpretação. Má nutrição, falta de
higiene, relações intermatrimoniais, tudo é simplesmente registado pela câmara
num plano de uma mulher de 30 anos que parece ter 60. À compaixão e ao
humanismo o realizador prefere a lucidez e a revolta. A região, não muito longe
de Salamanca, engloba um total de 52 aldeias para uma população de oito mil
habitantes cuja alimentação é à base de feijão e batatas. Quando estes
escasseiam são obrigados a subir às montanhas em busca de frutos silvestres. Em
contraste com esta condição de miséria da população as igrejas vão cumulando
riqueza. E bastou uma breve referência a este respeito para o filme ser banido
em Espanha.
A luta contra a tirania, a
denúncia da escravidão humana, a sátira, bem como a utilização do sonho
enquanto porta para o inconsciente fazem parte integral do método de Buñuel
acompanhando-o ao longo de toda a obra.
No México Buñuel vai dar
continuidade ao seu trabalho, voltando a filmar em Espanha em 1961.
Artur
1 comentário:
Precisamos de Buñuel e de outros agitadores de consciências. De quem dê uma pedrada no pântano. De um novo modelo cultural. De uma revolução mental.
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