segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

BUÑUEL – QUE VIVA MEXICO


                                                       LOS OLVIDADOS
 
O período mexicano, sendo o menos conhecido é talvez o mais completo na obra de Luís Buñuel. Após uma série de contratempos na sua estadia nos Estados Unidos, que vem a culminar no seu despedimento do MOMA, o cineasta vem a descobrir em terras mexicanas a sua grande oportunidade. No final dos anos 40 a Cidade do México é invadida por um ambiente artístico e cultural extremamente cosmopolita composto tanto pela parte hispânica como pela grande comunidade internacional de exilados do pós II Guerra Mundial. Luís Buñuel deixa-se conquistar por este ambiente e opta pela cidadania mexicana. A partir daqui a sua obra encontra o espaço e o amadurecimento necessários que o tornarão uma das referências incontornáveis do panorama cinematográfico mundial. Ao longo de 35 anos roda cerca de 20 filmes, desenvolvendo os conceitos mais significativos da sua cinematografia: elementos surrealistas, o melodrama, a comédia e a sátira social.

De radical vanguardista e arrojado surrealista, no México Buñuel vai aos poucos transformando-se num subversivo comprometido com o filme popular e as suas fórmulas. Apesar de nesta fase os seus filmes serem essencialmente comerciais e disporem de fracos recursos isso não o impede de, através de métodos narrativos aparentemente simples, insistir e desenvolver as suas obsessões de sempre. O machismo e o desejo feminino (EL BRUTO; SUSANA); o peso e a solidão do exílio (THE YOUNG ONE). Dentro de toda esta panóplia comercial e fraca de recursos acabará por alcançar o topo com obras como EL, EL ANGEL EXTERMINADOR, SIMÃO DO DESERTO e LOS OLVIDADOS, recebendo com este último o prémio para o Melhor Realizador no Festival de Cannes.

LOS OLVIDADOS (1950), considerado por muitos como o melhor filme desta fase, retrata de forma cáustica a marginalidade e a delinquência juvenis na cidade do México, combinando elementos realistas com poderosas sequências de sonho e evasão, o que serve para aprofundar ainda mais o dramatismo das personagens. Em contraste com o êxito internacional, a crítica mexicana não o poupa, acusando-o de denegrir a reputação do seu país.

El é o retrato perturbador de um homem respeitável obcecado pelo ciúme da sua mulher, obsessão que acaba por a destruir.

Tanto na abordagem da sociedade como na das relações homem/mulher não existe qualquer maniqueísmo definido. Num caso as relações familiares podem configurar a tirania e a repressão dos indivíduos, a amizade pode rapidamente converter-se em traição. Na oposição homem/mulher a sensualidade masculina confunde-se com a vontade feminina em dimensões que acabam por ridicularizar as pretensões do machismo.

SIMON DEL DESIERTO
Por fim o regresso aos conteúdos surrealistas na análise e ridicularização das crenças religiosas (EL ANGEL EXTERMINADOR e SIMÃO DO DESERTO). Explorando o ridículo e a irracionalidade do preceito religioso Buñuel acaba por acabar na crítica às pretensões de uma classe dominante mexicana. A própria ilusão é subvertida confrontando a fraqueza humana com a obsessão espiritual, a um ponto em que estamos irremediavelmente perdidos, desorientados…entregues a nós próprios e á nossa solidão.

E é neste território em que Buñuel nos abandona que tudo pode acontecer.

Ao nos trazer uma profundidade filosófica reforçada na expressividade e na surpresa, o que o realizador nos abre é uma janela meditativa. Um espaço aberto onde melhor podemos reconsiderar os ideais religiosos, as contradições políticas e a ligação directa entre a violência e o desejo. E a “fase mexicana” é sem dúvida o laboratório e a rampa de lançamento para todo este cenário.

 

Artur

1 comentário:

Hélder Martins disse...

Não sem antes de ir para os Estados Unidos, se ver enredado numa genial e deliciosa trama temporal engendrada pelo Woody Allen...