LOS OLVIDADOS
O período mexicano, sendo o menos
conhecido é talvez o mais completo na obra de Luís Buñuel. Após uma série de
contratempos na sua estadia nos Estados Unidos, que vem a culminar no seu
despedimento do MOMA, o cineasta vem a descobrir em terras mexicanas a sua grande
oportunidade. No final dos anos 40
a Cidade do México é invadida por um ambiente artístico
e cultural extremamente cosmopolita composto tanto pela parte hispânica como
pela grande comunidade internacional de exilados do pós II Guerra Mundial. Luís
Buñuel deixa-se conquistar por este ambiente e opta pela cidadania mexicana. A
partir daqui a sua obra encontra o espaço e o amadurecimento necessários que o
tornarão uma das referências incontornáveis do panorama cinematográfico
mundial. Ao longo de 35 anos roda cerca de 20 filmes, desenvolvendo os
conceitos mais significativos da sua cinematografia: elementos surrealistas, o
melodrama, a comédia e a sátira social.
De radical vanguardista e
arrojado surrealista, no México Buñuel vai aos poucos transformando-se num
subversivo comprometido com o filme popular e as suas fórmulas. Apesar de nesta
fase os seus filmes serem essencialmente comerciais e disporem de fracos
recursos isso não o impede de, através de métodos narrativos aparentemente
simples, insistir e desenvolver as suas obsessões de sempre. O machismo e o
desejo feminino (EL BRUTO; SUSANA); o peso e a solidão do exílio (THE YOUNG
ONE). Dentro de toda esta panóplia comercial e fraca de recursos acabará por
alcançar o topo com obras como EL, EL ANGEL EXTERMINADOR, SIMÃO DO DESERTO e
LOS OLVIDADOS, recebendo com este último o prémio para o Melhor Realizador no
Festival de Cannes.
LOS OLVIDADOS (1950), considerado
por muitos como o melhor filme desta fase, retrata de forma cáustica a
marginalidade e a delinquência juvenis na cidade do México, combinando
elementos realistas com poderosas sequências de sonho e evasão, o que serve
para aprofundar ainda mais o dramatismo das personagens. Em contraste com o
êxito internacional, a crítica mexicana não o poupa, acusando-o de denegrir a
reputação do seu país.
El é o retrato perturbador de um
homem respeitável obcecado pelo ciúme da sua mulher, obsessão que acaba por a
destruir.
Tanto na abordagem da sociedade
como na das relações homem/mulher não existe qualquer maniqueísmo definido. Num
caso as relações familiares podem configurar a tirania e a repressão dos
indivíduos, a amizade pode rapidamente converter-se em traição. Na oposição
homem/mulher a sensualidade masculina confunde-se com a vontade feminina em
dimensões que acabam por ridicularizar as pretensões do machismo.
SIMON DEL DESIERTO
Por fim o regresso aos conteúdos
surrealistas na análise e ridicularização das crenças religiosas (EL ANGEL
EXTERMINADOR e SIMÃO DO DESERTO). Explorando o ridículo e a irracionalidade do
preceito religioso Buñuel acaba por acabar na crítica às pretensões de uma
classe dominante mexicana. A própria ilusão é subvertida confrontando a
fraqueza humana com a obsessão espiritual, a um ponto em que estamos
irremediavelmente perdidos, desorientados…entregues a nós próprios e á nossa
solidão.
E é neste território em que
Buñuel nos abandona que tudo pode acontecer.
Ao nos trazer uma profundidade
filosófica reforçada na expressividade e na surpresa, o que o realizador nos
abre é uma janela meditativa. Um espaço aberto onde melhor podemos reconsiderar
os ideais religiosos, as contradições políticas e a ligação directa entre a
violência e o desejo. E a “fase mexicana” é sem dúvida o laboratório e a rampa
de lançamento para todo este cenário.
Artur
1 comentário:
Não sem antes de ir para os Estados Unidos, se ver enredado numa genial e deliciosa trama temporal engendrada pelo Woody Allen...
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