terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

OS CELTAS – CONCLUSÃO

                                        Vercingetorix rende-se a Júlio César

Apesar de os celtas terem sido uma grande civilização, eles nunca foram uma unidade, isto é, nunca se organizaram nem se entenderam enquanto realidade única. No fundo representavam um vasto colectivo de inúmeras tribos que partilhavam uma língua comum. E com o passar do tempo até mesmo essa característica se foi dissipando.

Durante o séc. II e o séc. I AC a civilização romana começa a sua expansão para Norte na direcção da Gália. A máquina bem treinada e bem oleada do exército romano é a principal razão das suas quase sempre bem sucedidas campanhas. Há no entanto uma outra arma quase tão eficaz e tão rentável que os romanos aplicavam. A diplomacia reforçada pelos cofres de Roma. Apoiando umas tribos celtas na luta contra outras, interferindo militarmente nos conflitos entre elas. Quando davam pelo seu erro já era tarde demais. A terra já tinha sido anexada à vastidão do império romano. Em 57 AC, quando Júlio César afirmou que a maioria dos gauleses eram romanos, a sua afirmação não estava muito longe da realidade.

Numa fase final da campanha da Gália os gauleses tomaram consciência das verdadeiras dimensões da catástrofe que lhes caía em cima da cabeça. O atrasado esforço unificador de resistência ao invasor romano terá o seu trágico epílogo em Alésia, a última barreira.

Vercingetorix teria ainda tempo de afirmar que a sua participação na guerra se devia não para fins pessoais, mas em nome da causa da liberdade. Pouco depois deporia as suas armas e o seu escudo aos pés de Júlio César. Ao fim de seis anos de cativeiro, Vercingetorix foi apresentado numa parada como um animal pelas ruas de Roma, momentos antes de ser estrangulado até à morte.

Após a queda de Alésia os celtas e a sua cultura quase desaparecem do continente europeu. Nos tempos seguintes os seus territórios a ocidente e a oriente levaram o mesmo destino que o da Gália. As comunidades celtas independentes haveriam de encontrar o seu refúgio e afirmação um pouco por todas as ilhas britânicas, nomeadamente a Irlanda, partes de Gales e as terras altas da Escócia. No séc. VI   DC estas regiões seguem o resto da Europa ao assumir uma nova cultura: o Cristianismo.

E é através desta nova etapa da civilização europeia que a cultura celta, em vez de desaparecer definitivamente, ganha novo fôlego na medida em que passa a ser objecto de atenção dos novos escribas cristãos que registam as histórias mais antigas. Pela primeira vez, deuses e heróis da tradição céltica saem das sombras. Monges cristãos, interpretando a memória à sua maneira, repuseram os mitos antigos no livro do Génesis, de tal maneira que acabamos por não saber distinguir de que forma é que o paganismo celta interpretava a origem do cosmos. Nos relatos monásticos, mitos pagãos e história do cristianismo misturam-se de uma forma que é impossível desmontar. O guerreiro Oisin regressou do mundo pagão para ser S. Patrício, e os mitos da deusa Brigit acabam por ser absorvidos para a sua sucessora cristã, S. Brígida.

Ficamos assim com uma vantagem distorcida. Se por um lado é louvável o trabalho dos monges, graças ao qual nada se saberia sobre a cultura celta, também não é menos verdade que, ao serem-lhe vestidas as novas roupagens da cristandade, muito se perdeu para sempre sobre uma cultura extraordinariamente importante.

 

Artur


3 comentários:

Hélder disse...

No ano 50 antes de Cristo, toda a Gália foi ocupada pelos romanos... Toda? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis gauleses ainda resistiu ao invasor. E a vida não foi nada fácil para as guarnições de legionários romanos nos campos fortificados de Babaorum, Aquarium, Laudanum e Petibonum! Vercingetorix era muito orgulhoso e não se quis aliar a uma aldeia onde viviam entr'outros, um gordo, um anão e o cão dele. Azar... Abraço Artur!

Artur Guilherme Carvalho disse...

Uma aldeia que resitiu sempre, teimosa e fundamental a formar gerações de miúdos fascinados com as aventuras de Asterix e dos seus companheiros. Também. Abr Hélder.

Anónimo disse...
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