quarta-feira, 18 de março de 2020

Diário da Peste - Introdução

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Comecei este diário no dia 11 de Março quando esta pandemia se começava a impor na ordem existencial de todos, quando ainda havia a esperança (talvez um pouco ingénua) de que pudesse ser contida. Tal não aconteceu (escrevo esta introdução no dia 18 de Março). De qualquer modo, as ideias são de análise e de um esforço para antever o que será, o que é um exercício sempre arriscado mas que, neste caso, é inevitável. Infelizmente, alguma dessa antevisão já se cumpriu com uma velocidade surpreendente embora se desejasse, a todo o momento, que o engano significasse uma perspectiva mais positiva e que assim estes escritos fossem mais um exercício de fantasia literária do que de realidade histórica.

2
Por que se chamou «Diário da Peste»? Porque o propósito do título é inscrever esta pandemia numa tradição cultural que, durante muitos séculos, foi a da «peste», com toda a ressonância simbólica que esse termo adquiriu. Na verdade, com a ausência de vacina e de terapia específica, num certo sentido, voltou-se a um estado pré-moderno e pré-médico onde as medidas que restam são as adquiridas ao longo de uma larga história da «peste» como sejam o isolamento e as quarentenas.

3
Isto não é um exercício nem apocalíptico nem pessimista mas, o que contiver de violência e de pessimismo, é também um contágio destes estranhos tempos sem que se tenha, ainda, uma visão distanciada e, por conseguinte, mais serena.

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