sábado, 21 de março de 2020

Diário da Peste 13/3/2020

1
O medo, o medo, o medo. A angústia como desinstalação civilizacional no esquizofrénico-colectivo. As pulsões niilistas na sua máxima expressão. A hiper-ansiedade é isso: a radical incerteza, quando a convivência com a peste, enquanto estrutura psíquica da civilização, se perdeu com o advento da ciência moderna. Não são só os anticorpos que inexistem perante uma nova peste, são também as estruturas mentais e culturais para lidar com ela que foram esquecidas.
2
As linhas de transformação civilizacional são múltiplas (são em número indefinidamente extenso) e em inter-relação umas com as outras, pelo que apenas pode haver um vislumbre das mutações que se irão operar. Uma dessas linhas transformativas respeita ao paradigma do trabalho que deixará de ser presencial para ser virtual. Como pensar essa metamorfose se ela está no cerne (directa ou indirectamente e mesmo para os desempregados) da relação do homem com o mundo e com os outros?
3
A dimensão da catástrofe é medida pela penetração perturbadora de um acontecimento nos sistemas e estruturas sociais. Tal perturbação pode ir, desde a disrupção de todos os hábitos quotidianos (o que já está a acontecer) até ao desencadear de situações (para além da infecção que é um perigo em si mesmo) que põem em risco a sobrevivência. 4 É uma nova era de escassez: a escassez patogênica em que haverá, doravante, a possibilidade de um bio-fascismo repressivo.

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