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É estranho como, por vezes, o cérebro humano leva algum tempo a adaptar-se a uma forte subversão da realidade enquanto quadro estável de referências dentro do qual pode pensar e agir.
É, certamente, este o caso. A cada dia, a cada hora o pesadelo adensa-se, o que era impensável há algumas semanas (a bem-dizer, há alguns dias) é, hoje, a normalidade. E são tantos os múltiplos aspectos que constituem essa referência que, a todo o tempo, nos temos de ajustar a uma nova e fluida e mutante normalidade.
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Não se sabe quais os aspectos desta perversa normalidade serão perenes e quais reverterão para um estádio prévio a esta peste.
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Outra preocupação é saber até que ponto vai o projecto europeu resistir à destruição (esperemos que temporária) das suas bases mais profundas como a da livre circulação sendo certo que, mais uma vez, tardou a dar uma resposta unificada ao problema. Num certo sentido tais bases correspondem a mais do que a uma utilidade prática de livre circulação mas à consciência de que há um verdadeiro espaço geográfico comum que nega as potências niilistas do nacionalismo, mesmo que, em muitos aspectos o ideal europeu tenha, desde há alguns anos, sofrido grande erosão. O problema e o receio é que as forças entrópicas do populismo que já estão muito bem posicionadas, a nível europeu e transnacional, perpetuem este fechamento de tempos de peste, aliás, auxiliadas por um hipercapitalismo que retornará porventura com mais força e que convive muito bem com elas.
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