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Isolamento social. Quão depressa mudam os costumes. O indivíduo, uma ilha rodeada de vírus por todos os lados.
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Um tempo de radical incerteza, já se sabe, tem uma dinâmica própria. Há uma suspensão do acontecer mas isso induz a um acumular de potencialidades que, enquanto dura o transe, não se manifestam, pelo menos, não expressamente. Porém, essa suspensão irá produzir mudança, as coisas talvez não voltem a ser as mesmas ainda que o possa parecer. Na realidade, a acumulação de forças transformativas impõe um choque rápido em que algumas dessas várias potências constituirão um tempo novo. Ora, a imprevisibilidade não deixa sequer entrever o que sairá vitorioso mas há motivo para apreensão pois há, naturalmente, certas tendências que já existem e que estão na posição ideal para se tornarem dominantes, ou até, hegemónicas.
Quando este problema passar — resta saber com que sequelas e traumas e crises, económicas e não só — qual será a dinâmica repressiva motivada por uma desconfiança radical do outro, o poder de um Estado entretanto tornado autoritário pela exigência sanitária, porém, ensaiado num Estado de excepção continuado, a atomização social e o fechamento do indivíduo na sua esfera privada, cada vez mais impotente para agir no contexto do todo colectivo e dos países nas suas fronteiras, a própria mutação das relações sociais em que, após um período de medo e de isolamento social se passa a uma cautela social reforçando os factores do «fascismo higiénico»? São, por isso, grandes motivos de apreensão. Isto, sem falar de outras incógnitas mais vastas, fenómenos à escala global que, de tão vastos, são ainda mais difusos.
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