sexta-feira, 20 de março de 2020

Diário da Peste 12/3/2020 (segunda parte)

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É certo que, em poucos dias, se foi violentamente expurgado do tempo. Há uma semana viveu-se um passado longínquo. Talvez, irrecuperável.
Entrou-se, de qualquer modo, num presente de suspensão civilizacional, um presente sem hora que é já o futuro.
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Aquilo que mais impressiona, assim, é a extensão da transformação, a sua rapidez, a sensação invasiva que se experimenta, sem qualquer transição, um futuro distópico. É um longo pesadelo, lento até para um pesadelo, pois não ficará resolvido numa noite, nem se sabe, agora, quando se irá dele acordar, essa a distopia presente que se instalou de súbito e sem avisar.
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As coisas ainda irão piorar antes de melhorarem. Resta saber quão fundo se irá chegar, o grau de disrupcão que se vai experimentar e que direitos serão postergados. Deus queira que não haja um fechamento radical como em Itália.
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A consciência de que se está a viver um pesadelo e uma situação de total imprevisibilidade permite duas posturas opostas: a esperança do alívio quando tudo passar e a preocupação de que a distopia se agrave ou perpetue.
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É impressionante a fragilidade de tudo. O desmoronar quase instantâneo, ante o perigo e o medo, das estruturas sociais pondo a nu a sua inefável fragilidade.

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