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Possivelmente o estado mundial de excepção vai ao encontro das reivindicações, expressas ou implícitas, da extrema direita populista. Assim, por via do reacender de certo «fascismo higiénico» (um «bio-fascismo»?) instalar-se-á um populismo, propriamente, político.
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O estado de excepção implica uma torção da ordem normal das coisas. Isto pode vir a criar, se o estado de excepção sanitário se prolongar, uma predisposição natural e psicológica para um permanente estado de excepção político-cívico, trazido pelas novas correntes de um tecno-fascismo que é sinónimo dos populismos de direita (desde que eles as saibam aproveitar). Aqui serão cruciais as dimensões de higiene social como nova moralidade, a «higiene cívica» que pode vir a implicar a perseguição de minorias ou de «cidadãos impuros», a criação de párias como reflexo de uma moralidade penal, a imposição de uma ordem tecno-distópica que não poderá ser questionada. E uma irreprimível pulsão para o fechamento, de fronteiras, de ataque ao cosmopolitismo, da intelectualidade como movimento de abertura do pensamento e de isolamento ou «distanciamento» individual pois é na atomização dos indivíduos e com o reforço da comunicação virtual (que, aliás, pode ser facilmente interceptada, monitorizada, controlada) que se criará a nova ordem social aceite.
Esperemos, claro está, que isso não aconteça.
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