sábado, 9 de fevereiro de 2008

ARQUIVE-SE GISBERTA

No fundo de um poço de um prédio em construção acabou a vida de alguém no anonimato das sombras da noite. O seu corpo apresentava sinais evidentes de violência antes de se afogar num charco malcheiroso da água da chuva.
Chamava-se Gisberta mas o mundo pouco se importou com isso. Foi vítima de divertimento e distracção de um bando de adolescentes sem nada para fazer naquela noite.
Veio o 112, veio a polícia, veio a televisão, os jornais e o Ministério Público. Todos vieram antes de vir o NADA que já lá tinha estado até Gisberta morrer, voltando-se a instalar quando assentou a poeira.
No tribunal,"coiso e tal", não se conseguiu chegar a nenhuma conclusão. A rapaziada tinha dificuldades em recordar aquela noite, alguns até se sentiam traumatizados só de pensar que o tinham de fazer. Um não se lembrava, outro não estava lá, outro não viu, outro não bateu, outro não fazia ideia... Como se Gisberta tivesse morrido sozinha após se atirar contra as paredes. Falta de provas, falta de tempo. Arquive-se pois aquilo que não se consegue recordar nem provar. Para quê perder mais tempo com um transexual brasileiro, pobre e seropositivo ? Para quê perder tempo a punir "crianças" traumatizadas a quem, logo por azar, correu mal uma "brincadeira" ?
Gisberta estava morta mesmo antes de morrer. Não valia nada, não existia. Estava condenada. Era mais um elemento dispensável que vivia na cave mais funda do prédio da sociedade. Da nossa sociedade.
Gisberta morreu...à pancada e por asfixia...arquive-se Gisberta.
A Cidadania morreu...arquive-se a Democracia, encerre-se a civilização.
ARTUR

3 comentários:

redjan disse...

Fabulosa foto Artur ... fabulosa e ... inevitável foto ...

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...
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