Passamos por aqui de uma forma tão breve que nos parece longa umas vezes, e curta na maioria das outras. Somos largados na Terra com a rapidez de um relâmpago que acende e apaga num milionésimo de um instante. De nós fica apenas o rasto, o testemunho da nossa passagem como o trilho de um cometa, que sabemos por onde passou mas que nunca conseguimos encontrar. Esse rasto de luz que fica, deixa pelo caminho dias de amor e ódio, de batalhas exaustivas de empenho e energia onde se ganha e perde, de palavras que alguém que virá atrás acabará por ler e saber onde estivémos.
Falei com a minha mãe por e-mail e ela contou-me dois ou três pormenores, histórias antigas do tempo em que ela me segurava ao colo e eu ainda ensaiava os movimentos no meu novo corpo estranho. Não me lembro de nenhum desses momentos mas a partilha deles foi o suficiente para me sentir tranquilo por instantes. Foi tudo tão rápido, passa tudo tão depressa que não há tempo para registar a maioria das coisas que realmente importam.
Guardei para mim então essa breve memória no longínquo ano de 1963 em que mãe e filho a bordo de um avião comercial que preparava a sua aterragem em Luanda estavam juntos. Ela segurava-o ao colo e mostrava-lhe a janela. Lá fora a cidade anoitecida brilhava em milhares de pequenas luzes. A mulher dizia ao seu filho : " Olha ali. Olha ali a nossa casa...estamos quase a chegar."
Olha, mãe. Estamos quase a chegar. Cada dia chegamos mais um pouco ao pé um do outro...
ARTUR
2 comentários:
Que final brilhante, Artur! Porra...
Arranões de prosa, man, arranhões de prosa. Obrigado
Artur
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