terça-feira, 18 de dezembro de 2007

INTERROGAÇÃO AO EVIDENTE

Vento, sombras que passam apressadas sem tempo de se cumprimentar a caminho de um lugar difícil de identificar. Àgua, húmidas lembranças de princípio e de fim, garantias de vida soprada na canalização de um corpo. Acho que já nos vimos uma vez, num lugar qualquer, em algum tempo... ou serei eu que fui simplesmente acordado pelos sinais do teu corpo que escrevem em mim o instinto de procriar? Sobreviver, voltar a acontecer o dia e a noite e a dança do SEMPRE ou do talvez sempre, temporário de eterno. Havia uma praia e era de noite ao luar. A areia estava húmida como o interior de ti quando nos deitámos sobre a areia a ouvir as ondas ao longe desafiando ensaios de espuma. Chuva, dilúvio do desespêro numa sala anónima de hospital perante o inevitável antes do soco seco e profundo da dor. Adeus sem tempo para despedidas, lágrimas com vida própria ao longo do rosto, medo, dor, dor e medo. Mão fechada no ar,punho erguido de sobreaviso,soco,pontapé,defender antes de ser agredido,gritos e nódoas negras, vozes e dor.Obrigação de estar vivo, de assim continuar por obrigação,estatuto de bicho. Labirinto, correria desenfreada pelos túneis do conhecimento, poças de água existencial salpicando o caminho em frases feitas,razões óbvias, filosofias estranhas. Caír, tropeçar e voltar a andar.Vento, ar em movimento, apenas isso, mais nada. O ar que caminha, mais depressa ou mais devagar, empurrando as ondas que á praia irão dar.Água, gotas que caem do céu serpenteadas ou em linha recta, agrupadas em respiração de plantas dentro de uma nuvem. Apenas água,apenas vento, apenas mar. E no meio de tudo isto um urso que não consegue deixar de se interrogar...
ARTUR

6 comentários:

Anónimo disse...

...e de se lembrar de outras gotas, lentas, cálidas, sobre uma pele ténue de tanto penar...e outras ainda, pequenas e sonoras, sobre a água de outra praia, de outro mar, de outra vida, empurrada pelo ar. De outra dimensão onde chover era sonhar, de outro tempo perdido e esquecido, de outras perguntas a pairar, de outras histórias em areias, de outros dias de vento e maresia de outro alguém....
Mais vento e mais chuva, uma ilha a atravessar, dois corpos molhados pela chuva, salpicados pelas ondas, que se deixaram levar pelo ritmo da maré, entre beijos e promessas e certezas incertas até...até outras gotas de chuva a bailar ao vento, até tantas outras tempestades de água e de vento até aqui, a um urso parado frente ao mar, mãos nos bolsos e olhar perdido entre as ondas do mar, entre o ir e vir de tudo o que foi e poderia não ter sido....



Desculpa. Há textos que não sei comentar. Mas sei pegar-lhes...assim como se quase fossem meus, e senti-los e...impregnar-me deles até que a chuva se faça minha das sombras nasça algo assim como um breve sol a brilhar....

Beijo de gata Artur.

redjan disse...

' E no meio de tudo isto um urso que não consegue deixar de se interrogar... '

Do they see me, do they get close to it ??

Carlos Lopes disse...

Ah, ganda urso...

Cati disse...

Gostei muito muito deste texto... tão bom que este é o melhor comentário que consigo fazer, desculpe...

Um beijinho!

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Artur Guilherme Carvalho disse...

Gata: Continua sempre os textos que te derem vontade de o fazer.
Red: Motores em marcha, caminhos para anadar.
CL: Um urso que se interroga.
Cati: Ainda bem que gostaste.Volta sempre. Nunca se sabe. De vez em quando saem umas prosas engraçadas..