sábado, 2 de fevereiro de 2013

OS CELTAS – PARTE II

                                            Guerreiros celtas em acção

A reacção inicial perante os celtas era de medo. Gregos e romanos descrevem-nos como indivíduos corpulentos, bem constituídos. Molhavam o cabelo em sumo de limão e esticavam-no até ficar sob a forma de picos espetados. Pintavam a pele de azul. Os seus nobres deixavam crescer longos bigodes. Às vezes partiam nus para a batalha, parecendo criaturas de outro mundo. Na guerra apresentavam-se sempre de forma assustadora.

  Diodurus Siculus, um historiador romano do I século AC relatava: “ usam capacetes de bronze encimados por figuras que dão ao guerreiro o aspecto de uma estatura ainda maior do que a real; em alguns casos têm cornos nos capacetes, enquanto que noutros usam em relevo figuras ou partes de animais. As suas trompas emanam um som insuportável que prenuncia o tumulto da guerra”.

   Para os mediterrânicos não havia grandes dúvidas em classificar os celtas de bárbaros incivilizados. Mas trata-se de um julgamento apressado e incompleto. De facto os celtas tinham um elevado nível civilizacional. Eram hábeis agricultores, fazendeiros, mineiros e metalúrgicos. Tinham capacidade para construir sofisticadas povoações de dimensão considerável. Uma, no Sul da Alemanha, ocupava uma área superior a 450 hectares, rodeada por uma muralha de estacas de madeira de 6 Km de perímetro. Na maior parte do tempo os celtas coexistiam pacificamente com os seus vizinhos. Tinham uma rede comercial espalhada pela Europa e Mediterrâneo onde trocavam ferro e sal – os alimentos salgados dos celtas eram muito apreciados junto dos gourmets romanos – por vinho e metais preciosos. Além destes bens materiais também as ideias circulavam pelas estradas do comércio. Padrões artísticos de origem italiana, grega ou persa chegavam aos celtas, aproveitadas pelos artesãos. A arte clássica tendia para a harmonia e a simetria enquanto o estilo celta (também conhecido por “La Téne”, localidade suíça onde estes artefactos foram encontrados pela primeira vez em 1857) desenvolvia um imaginário baseado no mundo natural. Um animal, um ramo de árvore, o rosto humano, este era o padrão figurativo de uma cultura expressionista, por vezes irreal e sempre altamente individualizada. Por trás deste sistema figurativo estava uma estrutura, uma filosofia espiritual firmemente enraizada na Natureza. Há uma muito fraca possibilidade de os celtas terem uma hierarquia de deuses equivalente aos panteões greco-romanos. O seu mundo religioso dividia-se entre a superstição a magia e o simbolismo, não deixando no entanto de existir um exército de divindades para todos os gostos. Os celtas desenvolviam uma relação privilegiada com o ambiente que os rodeava e viam significados sobrenaturais em toda a parte. Para os orientarem neste vastíssimo mundo de significados e superstições existiam os druidas. Os druidas treinavam durante vinte anos até saberem de cor a totalidade do legado espiritual celta. E aqui residia o elemento fundamental que nos afasta de um muito maior conhecimento da cultura celta. Não existia linguagem escrita.

Um druida na floresta
Júlio César escreveu em dado momento: “ Os druidas acreditam que a sua religião lhes proíbe passar os seus conhecimentos para a linguagem escrita”. Possivelmente os druidas receavam que a sua sabedoria fosse corrompida ou vulgarizada uma vez acessível ao grosso da população. Mas as razões podem ser muito mais evidentes se pensarmos numa motivação política e de influência nas comunidades. Registos escritos reduziriam o prestígio dos druidas enquanto únicos representantes de todo o conhecimento cultural e religioso.

   A principal consequência desta situação foi a de que, antes do período cristão, os celtas produziram muito poucos documentos acerca das suas crenças. O que chegou desses tempos aos nossos dias foram essencialmente inscrições. Tudo o que não estivesse inscrito em pedra ou metal – e p. ex. os gauleses usavam a escrita para efeitos nem literários nem religiosos – desapareceu sem deixar rasto.

 

Artur

2 comentários:

Hélder disse...

E assim, por falta de documentos que persistam no Tempo, se perdem conhecimentos preciosos, herança de civilizações de conhecimentos particulares, peculiares, avançados, como algumas civilizações da América Central, por exemplo os Olmecas.
Desperdício ou perda providencial?...
É que a rapaziada também é perita a subverter as maiores descobertas da humanidade num insano prejuízo próprio.
Abraço Artur.

Artur Guilherme Carvalho disse...

Chôr Éldrio...estamos à espera