O Tempo nunca passa duas vezes no mesmo lugar. Corre
apressado pelo caminho que só ele conhece e deixa-nos para trás acompanhados
por sombras e recordações. Antes tem ainda espaço para montar um cenário, vender-nos
um bilhete em forma de idade e apresentar o espectáculo para cada dia. As
emoções embarcam na montanha russa e vão subindo e descendo pelos cantos do
nosso ser à medida que o desgastam, enfraquecem, envelhecem, aniquilam.
Uma estação onde apanhamos o transporte todos os dias. Para
o trabalho, para visitar parentes, para férias, para partir de vez. E de cada
vez o tempo é outro, é sempre outro seja pela estação do ano, pelo momento
histórico, pela fase da nossa existência. Uma estação onde nos despedimos dos
pais a caminho de uma guerra ou recebemos os netos para o Natal. Uma estação
onde vimos partir quem nunca mais voltaríamos a ver ou desembarcámos felizes por
estar de volta na nossa cidade.
Uma estação, paredes, comboios, anúncios em alto-falantes,
painéis de horários, um relógio enorme no centro do átrio principal e gente,
multidões de gente a correr em todas as direcções. Como o Tempo, cada uma com o
seu destino, apressado, atrasado, controlado pelo relógio.
E a estação sempre igual, o mesmo espaço seja qual for o
tempo. Sombras esgueiradas das paredes, vultos que espreitam nas esquinas, restos
de cenários empilhados uns sobre os outros, memórias que sobem e descem pelos
cantos, novilhos perdidos da manada.
Estação, um espaço que respira vários tempos, que mastiga
estações do ano e momentos históricos, sempre igual. Armazém de memórias e
épocas, ponto de encontro, de partida, regresso ou despedida.
O Tempo corre apressado todos os dias pelos corredores da
estação sem voltar atrás. Nunca é o mesmo, nunca fica parado a não ser no
espaço da estação que o recebe, regista e arquiva.
O Espaço é o biógrafo do Tempo…
Artur
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