França/ Itália/ Argélia 1983
Tudo começa como se de um
qualquer espectáculo de café-concerto se tratasse. Acendem-se as luzes, as
pessoas vão chegando e começa a música. O mesmo espaço e o mesmo grupo de
pessoas que nos irão contar meio século de História da França através de seis quadros vivos, dançando ao longo do
tempo. Baseado num espectáculo musical, uma pantomima imaginada e dirigida por
Jean-Claude Penchenat e interpretada pelo grupo Thêatre du Campagnol em
Châtenay-Malabry, LE BAL resulta de uma adaptação para cinema co-escrita por
Ettore Scola, Ruggero Maccari, Furio Scarpelli e o próprio Penchenat.
Começamos por ouvir La Valse au Dénicheur , ver uma bandeira
da Frente Popular e a data…1936. Segue-se a transformação do espaço em abrigo
contra os bombardeamentos. Estamos em 1944. A entrada de um oficial alemão dá-nos a
imagem da ocupação em França. Em 1946 chegam os soldados americanos e com eles
o jazz.
Mais uma vez Scola repete a
fórmula já ensaiada anteriormente, isto é, aborda o tema histórico de forma
indirecta através dos mais desprendidos e mais comuns aspectos da realidade.
Neste caso concreto consegue aperfeiçoar o método propondo-nos um filme mudo.
De facto, são os ruídos do exterior, as músicas, as modas e as danças que nos
vão contando o passar dos anos, que nos vão colocando em cada época enquanto as
pessoas limitam a mudar de pele. São sempre os mesmos sendo sempre em momentos
diferentes o que dá uma curiosa relação visual entre o tempo e o homem. No fim
de cada “tempo” a imagem fica parada e transforma-se numa fotografia que ficará
pendurada numa parede mesmo ao lado do bar.
Tal como num espectáculo de vaudeville sucedem-se os quadros
pitorescos e curtos de humor instantâneo que vão decorando os espaços em que a
música se faz notar mais baixa. Como o do calmeirão magrinho que leva o tempo
todo a tentar vencer a timidez e convidar uma senhora para dançar, sem êxito,
ou o “riquinho” desesperado que perante o abandono da sua amante resolve
cheirar uma linha de coca sobre a mesa, linha essa exterminada pelo pano de
limpeza de um empregado diligente.
Em 1956 impera o samba e as saias
que rodam em grande efeito. Até que aos poucos os casacos de cabedal pretos
comecem a ocupar a pista de dança e a impor o Rock’n ‘Roll.
E com uma canção dos Beatles em
fundo chegam os anos 60. Lá fora ruído de multidões e sirenes da polícia.
Jovens manifestantes refugiam-se no recinto com os olhos irritados pelo gás
lacrimogéneo. Maio de 1968.
Por fim chegam os anos oitenta
(1983) e começa-se a desmontar o cenário. Faz-se ouvir um relógio, os
dançarinos retiram-se, o barman apaga as luzes. Como uma caixinha de música a
três dimensões por onde estivemos a espreitar viajámos ao longo de meio século
através da música e das modas sem ouvir uma única palavra. Uma coreografia do
tempo onde o movimento vai trocando as suas impressões com o espectador. Uma
linguagem diferente onde nos vamos integrando, ouvindo e dançando.
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