sexta-feira, 24 de junho de 2016

PÉROLAS DE SCOLA 3



Ettore Scola

França/ Itália/ Argélia 1983

Tudo começa como se de um qualquer espectáculo de café-concerto se tratasse. Acendem-se as luzes, as pessoas vão chegando e começa a música. O mesmo espaço e o mesmo grupo de pessoas que nos irão contar meio século de História da França através de  seis quadros vivos, dançando ao longo do tempo. Baseado num espectáculo musical, uma pantomima imaginada e dirigida por Jean-Claude Penchenat e interpretada pelo grupo Thêatre du Campagnol em Châtenay-Malabry, LE BAL resulta de uma adaptação para cinema co-escrita por Ettore Scola, Ruggero Maccari, Furio Scarpelli e o próprio Penchenat.
Começamos por ouvir La Valse au Dénicheur , ver uma bandeira da Frente Popular e a data…1936. Segue-se a transformação do espaço em abrigo contra os bombardeamentos. Estamos em 1944. A entrada de um oficial alemão dá-nos a imagem da ocupação em França. Em 1946 chegam os soldados americanos e com eles o jazz.
Mais uma vez Scola repete a fórmula já ensaiada anteriormente, isto é, aborda o tema histórico de forma indirecta através dos mais desprendidos e mais comuns aspectos da realidade. Neste caso concreto consegue aperfeiçoar o método propondo-nos um filme mudo. De facto, são os ruídos do exterior, as músicas, as modas e as danças que nos vão contando o passar dos anos, que nos vão colocando em cada época enquanto as pessoas limitam a mudar de pele. São sempre os mesmos sendo sempre em momentos diferentes o que dá uma curiosa relação visual entre o tempo e o homem. No fim de cada “tempo” a imagem fica parada e transforma-se numa fotografia que ficará pendurada numa parede mesmo ao lado do bar.
Tal como num espectáculo de vaudeville sucedem-se os quadros pitorescos e curtos de humor instantâneo que vão decorando os espaços em que a música se faz notar mais baixa. Como o do calmeirão magrinho que leva o tempo todo a tentar vencer a timidez e convidar uma senhora para dançar, sem êxito, ou o “riquinho” desesperado que perante o abandono da sua amante resolve cheirar uma linha de coca sobre a mesa, linha essa exterminada pelo pano de limpeza de um empregado diligente.
Em 1956 impera o samba e as saias que rodam em grande efeito. Até que aos poucos os casacos de cabedal pretos comecem a ocupar a pista de dança e a impor o Rock’n ‘Roll.
E com uma canção dos Beatles em fundo chegam os anos 60. Lá fora ruído de multidões e sirenes da polícia. Jovens manifestantes refugiam-se no recinto com os olhos irritados pelo gás lacrimogéneo. Maio de 1968.
Por fim chegam os anos oitenta (1983) e começa-se a desmontar o cenário. Faz-se ouvir um relógio, os dançarinos retiram-se, o barman apaga as luzes. Como uma caixinha de música a três dimensões por onde estivemos a espreitar viajámos ao longo de meio século através da música e das modas sem ouvir uma única palavra. Uma coreografia do tempo onde o movimento vai trocando as suas impressões com o espectador. Uma linguagem diferente onde nos vamos integrando, ouvindo e dançando.



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