Foi um fim de semana no mínimo
estranho. Começou com o desaparecimento de um grande escritor de língua
castelhana e continuou com o suicídio de um actor famoso, imagem simpática do
nosso universo audiovisual. Por outro lado, grupos de jovens ignoraram por
completo as regras preventivas de segurança para resistir à epidemia que
atravessamos juntando-se em grandes grupos de convívio nocturno enquanto o
primeiro médico infectado morria vítima do vírus. Seguiram-se as frases feitas para
este tipo de ocasiões, os comentários elogiosos, as reflexões, perplexidades e
todo o restante folclore emocional que
desperta em momentos como este. Momentos de fim absoluto, de morte, momentos onde
tudo parece recolocar em perspectiva o sentido da existência. Doença terminal,
suicídio, inconsciência, morte em trabalho.
Um escritor de sucesso
inquestionável abriu-nos janelas sobre mundos imaginados que nos fizeram sonhar
e, acima de tudo, histórias que nos fizeram companhia em horas de solidão. Um actor
de sucesso, pai de família, atlético, bem parecido, que tinha aparentemente
tudo para ser um homem realizado não resistiu ao desgaste da depressão. Um
profissional de saúde infectou-se no decurso da execução do seu trabalho e
acabou por morrer ao fim de vários dias em luta contra o vírus. Jovens de
várias partes do país ignoraram o perigo do contágio e reuniram-se de forma
indisciplinada e desorganizada em festas convívio despertando novos focos de
contaminação e abrindo linhas de contágio por razões perfeitamente pueris.
Se para alguma coisa servirá a
morte dos outros será para nos lembrar a nossa própria morte. Que não estaremos
cá para sempre e que o sentido e a explicação que buscamos da razão de aqui
andar nunca serão encontrados. E isso só por si seria razão suficiente para
sermos menos egoístas, menos gananciosos, menos filhos da puta uns com os
outros. Só que não. Estas mortes vão passar e daqui a umas semanas já ninguém
se lembra do que aconteceu a não ser aqueles que sentiram mais de perto a partida
dos outros. Recalibrada a perspectiva, realinhada a precariedade da existência,
relembrados da nossa curta passagem por estas bandas, tudo voltará à imbecil
normalidade.
Parece que a Vida, ou o Universo,
ou a nossa própria condição humana quis dizer-nos qualquer coisa, dar-nos uma
espécie de recado. Só não percebemos qual, exactamente. Ou se calhar
percebemos…pelo menos uma ou outra parte, o que já não seria mau.
Artur
2 comentários:
Palavras sábias, Artur. As lições que não vamos aprendendo. Os RIP e os DEP duram pouco mais de uma semanaç
Thanks mate.
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