O espaço esvazia-se, a utilidade
perde-se, a vida respira muito baixinho numa fraqueza que diz: "…façam de
conta que não estou aqui." E enrola-se sobre si mesma numa manta de medo e
solidão. Se alguém vier…se alguém quiser saber dela vai ter muito onde
procurar. Sobre o lodo da maré vazia a carcaça do barco vai apodrecendo
desfiando-se com o tempo. Em breve será nada e nem uma memória restará para o
lembrar. Primeiro é ausência…depois sofrimento…a seguir rotina e por fim
esquecimento.
Falta água a este barco, falta um
telhado naquela casa e no entanto as plantas continuam vivas, a vida continua a
crescer apesar da ausência, apesar do fim. Talvez alguém venha um dia procurar
qualquer coisa que já não existe. Uma memória teimosa e persistente empenhada
em recordar. Mas só vai encontrar o espaço vazio, uma utilidade perdida,
qualquer coisa que já respirou muito baixinho como que a dizer: "…façam de
conta que não estou aqui." E enrolada na sua própria ausência, de forma
muito tímida foi deixando de ser.
Artur
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