domingo, 14 de outubro de 2012

AS ÁRVORES MORREM DE PÉ


Há dois dias atrás o Cardeal Patriarca veio a público afirmar que as manifestações não servem para nada, que a Democracia não funciona ao ser pressionada da rua para os centros de decisão, que isto até está a andar bem e que a solução para a crise terá que ser encontrada dentro do sistema existente, o mesmo sistema que a criou. E em breves frases conseguiu dizer tudo, conseguiu resumir uma ideologia, um método e um objectivo único. Tentando não deixar para trás nenhum aspecto relevante, começarei por abordar o problema das manifestações. As da rua não resolvem nada, não servem para nada. Mas, em compensação as da igreja católica, cada vez que ocorrem conseguem trazer sempre um valor acrescentado aos problemas da Humanidade. É por isso que continuam a acontecer ao longo de séculos e a civilização não pára de obter benefícios, a começar nas perseguições e execuções da inquisição, no genocídio de povos inteiros e nas infinitas guerras em nome de deus. Aliás não há aqui nada que não se aplique às religiões de uma forma geral. Todas são donas da verdade, todas estigmatizam e tentam exterminar quem não concorde com elas, e, por fim, todas acham que têm carta branca para estabelecer as guerras que quiserem e matar em nome do seu deus. Primeiro dividem a Humanidade, depois dizem-lhe como é que deve viver, que comida comer, que pensamentos ter, como se reproduzir, como obedecer, e por fim, mandam odiar o “outro”, o “diferente”, o que adora outro deus em nome de uma salvação pronta a atribuir ao virar da esquina. As coisas começam a complicar-se para esta gente quando o pensamento abre mais que uma possibilidade, quando se questiona, quando percebe que há outra realidade para além daquela que querem que viva. Chama-se “defesa da dignidade humana” quando as pessoas protestam. A Democracia é feita pelas e para as pessoas e, se as pessoas entendem que devem pressionar aqueles que elegeram de forma legítima acerca de temas que estão a prejudicar as suas existências e a pôr em causa a sua dignidade, então isso é a DEMOCRACIA a funcionar.

O discurso religioso, a fragmentação partidária e a divisão de opiniões de uma forma geral são todas faces do mesmo poliedro que nos orienta e controla desde sempre. Dividindo se controla a totalidade, estigmatizando se manobra o rebanho em qualquer direcção pretendida. E a História ensina-nos que as crises vêm sempre numa sequência repetida. Fome, desequilíbrio social, ódio, estigmatização, guerra. No fim, milhões de mortos de todos os lados, milhões de lucros do mesmo lado. As instituições políticas e religiosas em geral acabam por atravessar todas as crises e todas as tragédias com as mãos nos bolsos e a assobiar para o ar. Ensaiam os ódios que o povo terá que interpretar, fazem as apostas que o povo terá que pagar. E estou a falar de TUDO duma maneira geral.

Para grande azar deste governo, há duas coisas que começam a correr muito mal. Em primeiro lugar a direita democrática afasta-se e faz questão de tornar público o seu descontentamento para com a aplicação desta agenda neo-liberal, e para com este “autismo” governativo em ouvir e tentar perceber o povo. Em segundo lugar as permanentes manifestações colectivas de rua contra a política que nos governa têm decorrido na maior das tranquilidades sem actos violentos dignos de registo. Assim é difícil, o governo não consegue incendiar a mata e justificar a sua acção repressiva em nome da reposição da ordem. Por outro lado, tanto as Forças Armadas como as forças de segurança têm mostrado até aqui uma dignidade e um elevado sentido patriótico, dignos de registo. O único personagem que se está a portar mal é apenas e só este governo, que, deve sair já! Soluções há várias, e não me venham com inevitabilidades. Senão querem o quê? Assistir ao aniquilamento do país e o extermínio da população porque o governo deve terminar o mandato até ao fim?A Democracia funciona quando é verificado o equilíbrio entre representantes e representados, quando o “contrato social” se estabelece por consenso e pleno cumprimento de todas as partes. A Democracia funciona quando a Humanidade se começa a erguer como um todo e a questionar séculos e séculos de roubo, tirania, mentiras e crises cuja factura recai sempre para o mesmo lado.

E é este jogo viciado que parece que está a chegar ao fim. Os partidos e os sindicatos se quiserem que se integrem ao TODO que protesta, não ao contrário, como até aqui costumava acontecer. As divisões ideológicas e religiosas não servem para nada a não ser alimentar a besta que nos domina há séculos. A LIBERDADE começa a passar por aqui. Por isso há aqueles que tremem com o chão a fugir-lhes debaixo dos pés.

Estamos em guerra? Claro que sim. Mas numa guerra em que a Humanidade rebenta com as grilhetas da tirania e protesta pelo direito a caminhar livre sobre o planeta, pelo direito a existir. Uma guerra em que cada vez mais pessoas preferem morrer de pé do que a viver resignadas ao seu extermínio. Livres e de PÉ…De PÉ como as árvores!!!



Artur

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