sexta-feira, 22 de maio de 2009

IN MEMORIAM - JOÃO BÉNARD DA COSTA (1935-2009)

"O meu amor é o meu peso; arrasta-me para onde quer que eu vá"

S. Agostinho "Confissões"











A uma dada altura do romance "Moby Dick", de Herman Melville, o Capitão Ahab diz a Pepe Doido que ele é "fiel como uma circunferência é fiel ao seu centro". Sem o saber, Melville tinha encontrado a definição total de fidelidade: por mais voltas que a circunferência execute, ela nunca perde de vista o seu centro e regressa sempre a ele. Sem centro somos como um rasto de espuma à superfície do mar, como diz Shakespeare em "A Tempestade". Foi assim que viveu Bénard da Costa; sempre fiel a esse centro que foram as suas paixões, as suas crenças e convicções. Nunca se deixou arrastar por modas e modismos de circunstância, nem por aquilo que é modernaço, só porque caiu no agrado dos dita-costumes do momento. A sua capacidade de sedução advinha de um tremendo poder encantatório, numa prática que Georges Steiner chamava "convidar para o significado", ou seja, o convite permanente para tudo aquilo que está para lá do óbvio e do evidente. Nesse sentido, ele foi um Mestre e um Educador (mesmo assim, com maiúsculas e com todas as letras, sem vergonha nenhuma), alguém que viu muitas coisas, antes de muita gente e que, na sua imensa generosidade, sentia o dever de comunicar, de partilhar com todos aquilo mesmo que via e compreendia. Tive a honra de o conhecer e de trabalhar com ele durante 22 anos, dando o meu modesto contributo para a Cinemateca que ele projectou para um elevado prestígio nacional e para a instituição de referência que hoje é, no panorama nacional e internacional. Marcou-me indelevelmente como pensador e como homem. Nada será como foi (nunca nada é como foi) mas a sua obra continua e, tal como é dito no obituário emitido pela Cinemateca:

"A Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema e os seus funcionários orgulham-se do seu legado e zelarão pela sua memória"

Arnaldo Mesquita

3 comentários:

Artur Guilherme Carvalho disse...

O Cinema e a Cultura agradecem-lhe. Boa, Mesquita.

Carlos Lopes disse...

Este homem ensinou e ensinará várias gerações de portugueses a ver cinema. Paz à sua alma.

José Prates disse...

Um homem culto, inteligente e de fortes convicções que sempre se manteve fiel à sua maior paixão...