quinta-feira, 27 de setembro de 2007

BENÇÃO AMALDIÇOADA

Na folha em branco a frustação do começo...(que começo? como? falar de quê?) No ecran vazio a urgência de uma imagem, um espaço para preencher, uma situação para retratar. A originalidade fugidia que se escapa nos buracos negros da imaginação. A vontade maior que tudo o resto a impelir, a empurrar, a obrigar a sentir-nos vivos. Na frustração o começo do branco e os cheiros das histórias por contar, rastos perdidos e matreiros que se escondem em espaços acessíveis mas nem por isso evidentes. Escrever é sem dúvida uma enorme dor de cabeça. Um dom e uma maldição. Escrever um romance é uma visita guiada a ums série de sensações que vão desde o deslumbramento até à raiva, à negação à vontade enorme de desistir e ir fazer outra coisa. Mas, qual adesivo peganhento, a escrita dá-nos vida e também se alimenta de nós. Por isso não há fuga nem retorno, nem conversa. Há que escrever, rasgar, corrigir e continuar. A escrita é esta maldição abençoada que nos enche e esvazia um pouco todos os dias. Uma benção amaldiçoada que só faz sentido quando chega ao destinatário. Mas aí já tem vida própria e não pertence mais ao criador.
ARTUR

1 comentário:

redjan disse...

E esse esparadrapo dum cabrão que não me larga! Mas que ... filha da putamente nada me mostra por baixo. Ou mostra ... e eu não o agarro!

Adorei ler-te Artur ! Aqui e ... nos livros !