sábado, 4 de julho de 2015

O LUTO E A LUTA




LUTO 


Tara Perdida, 2015


Após o desaparecimento prematuro de João Ribas, a única questão a colocar seria a de saber se haveria  Tara Perdida para além de João Ribas?
A resposta saiu na última semana do mês passado e consiste num redondo e absoluto SIM. Trata-se de um excelente trabalho de onze faixas onde a banda, ao mesmo tempo que faz o luto pela perda tão importante e dolorosa do seu mais carismático elemento, constrói de forma  paciente e meticulosa a transição para uma nova etapa da sua vida revelando uma enorme maturidade (humana e artística).
O Punk quando não é um movimento é uma atitude e não desaparece enquanto existirem os requisitos que lhe dão origem. A pressão social, a injustiça, a identidade urbana, o vazio da condição humana, as drogas, o cheiro permanente de uma derrota declarada e absoluta muito antes de nascermos, tudo isto se mantém. E ainda estamos muito longe do dia em que irá acabar. Em Portugal o Punk está vivo e os Tara Perdida são a sua grande referência. Têm uma identidade intacta desde a primeira hora, são seguidos por um público fiel composto por várias gerações e trazem na bagagem uma obra consistente. LUTO é o sétimo título de originais dessa obra e, para além da carga emocional que transporta revela-se acima de tudo num atestado de vida de uma instituição que está para durar.
Num trabalho marcado por mais guitarras do que electricidade e mais harmonias do que explosões, a maturidade da banda é revelada no trabalho em torno de três registos perfeitamente diferenciados. O incontornável Punk Rock, o Rock Puro e a balada. Se no primeiro caso estamos numa normalíssima “evolução na continuidade” (com “Lista Negra” e “Lodo” à cabeça) , no segundo vamos nos deparar com um verdadeiro refinamento de ourives de uma arte que nunca morre (“Luta”, “Nuvem” e “Histórias de Silêncio”).  As baladas incluem uma das mais belas dos últimos anos, “Até ao Fim “, devidamente acompanhada por “Morfina”.
Falámos atrás em vitalidade, maturidade, e, no fundo, numa nova etapa que está aberta para os Tara Perdida. No dizer dos elementos da banda, a partir daqui todos os trabalhos e todos os espectáculos serão dedicados ao João Ribas. Um ser demasiado grande para ser esquecido. No entanto no seu lugar estará Tiago Afonso, antigo guitarrista e vocalista dos Easy Way. A vida continua porque tem que continuar e essa atitude foi assimilada na perfeição pela banda. Ao João Ribas a nossa eterna homenagem…aos Tara Perdida o nosso eterno desejo da continuação do excelente trabalho feito até aqui.

Artur Guilherme Carvalho

   

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