terça-feira, 28 de julho de 2015

COM A DEVIDA VÉNIA AO GRANDE BAPTISTA BASTOS

ESTE TIPO INAUDITO E DESAVERGONHADO


Não quero mais este tipo na minha casa, na mina rua, no meu bairro, na minha cidade, na minha pátria. Este tipo vendeu-nos, com um descaramento inacreditável. Este tipo parece um serventuário; parece, não; é um serventuário da alemão, e enxovalha-nos a todos quando, reverente e subalterno, caminha ao lado dela, atento ao que a alemã diz, e toma nota e fixa o que a alemã diz com reverente cerimónia. Este tipo disse que gastávamos demais, nós, os portugueses, que nunca soubemos o que era prosperidade, ter uns tostões a mais no bolso, satisfazermos os pedidos dos nossos filhos, por muito modestos que fossem. Eu, por exemplo, nunca consegui adquirir, nem em segunda mão, uma bicicleta para os meus filhos, embora tivéssemos feito, a minha mulher e eu, sacrifícios inauditos para os educar, sem a ajuda de ninguém.

Já deixei de ouvir este tipo. E desligo logo a televisão, quando o vejo e ouço, sobretudo na SIC, que parece ter uma câmara sempre às ordens para filmar o mais desinteressante dos movimentos deste tipo. Este tipo é um mentiroso relapso e contumaz: toda a gente sabe e ele também, mas passa adiante. Este tipo disse, agora, que está em campanha, ter como prioridade o equilíbrio social entre os portugueses; mas foi que nos aplicou essa miserável doutrina do empobrecimento, mascarada de austeridade.

Que fizemos para merecer tal provação ? Foi este tipo, de olhar gelado, que nos atirou para o desemprego, para a emigração, para o desespero mais incontido, para uma vida sem esperança nem sonho. Foi este tipo que nos roubou os sonhos, não se esqueçam !

Este tipo que despreza os velhos, que diz coisas imponderáveis, preso ao poder como uma lapa. Este tipo que está a pôr em causa a própria natureza da nacionalidade. Este tipo que, para seguir um nefando projecto capitalista, está a vender a pátria aos bocados e ainda há quem o aplauda. Os estipendiados de todas as profissões, os jornalistas venais, os políticos corruptos.

Este tipo desavergonhado, que diz que não disse o que disse, e diz o que não faz, com um impudor nunca visto. Este tipo, este tipo.

Não quero mais este tipo na minha casa, na minha rua, no meu bairro. Não quero este tipo em nada do que me diga respeito. Escorracem este tipo do nosso viver quotidiano. Este tipo.


BAPTISTA BASTOS
JORNAL DE NEGÓCIOS 24.07.2015

P.S. Ver também : http://aspartesdotodo.blogspot.pt/2014/10/o-pedro-manuel.html e http://aspartesdotodo.blogspot.pt/2015/07/a-origem-do-mal.html

terça-feira, 21 de julho de 2015

HAPPY BIRTHDAY ROBIN

http://www.purpleclover.com/video/3897-13-minutes-robin-williams-hilariously-refusing-say-his-line/#.Va7LDTEvITE.gmail

São precisas várias viagens ao vale das lágrimas para conseguir fazer nascer uma gargalhada; são muitas horas de solidão para multiplicar personagens com várias vozes e tiques diferentes. E no fim acabamos sempre sozinhos com a nossa imagem reflectida num espelho ou numa câmara que filma. Atravessamos multidões para aprender a viver sozinhos. Nadamos travessias de sofrimento sem fim nem sentido para melhor compreender, para melhor aguentar o peso que não nos pertence, o personagem com o qual nada temos a ver. Todos os momentos altos em conjunto, todos os momentos maus em sofrimento são aulas do curso da solidão.  Todos os dias de vida plena são lições de preparação para a morte. Até um tempo em que tudo fará sentido definitivamente. Naquele tempo sem importância. Naquele famoso e inútil dia depois do último...

Artur

S/ título

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sexta-feira, 17 de julho de 2015

S/ título

S/ título

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S/ título

PRIDE

PRIDE

Matthew Warchus

Reino Unido /França, 2014

Em tempos de intolerância e dificuldade os homens tendem a descobrir-se uns aos outros, a juntar-se e combater o seu inimigo comum sob pena de não sobreviver. A união improvável entre grupos distintos e que (aparentemente) nada tinham em comum, a greve histórica dos mineiros galeses nos negros tempos de Margaret Thatcher na década de 80 e as assimetrias “of class and culture” esbatidas por pontes de solidariedade e tolerância do “outro”, além de já não serem novidade nenhuma no cinema britânico, podem perfeitamente constituir um género fílmico. BRASSED OFF e BILLY ELLIOT saltam de imediato à memória logo nos primeiros instantes de PRIDE. Em mais uma visita a esses tempos voltamos ao braço de ferro que durou quase um ano entre o sindicato dos mineiros (NUM) e a então chefe do governo britânico Margareth Thatcher, ao tempo em que um homossexual teria direito de voto a partir dos 18 anos mas não à sua opção sexual antes dos 21. Entre manifestações e pancadaria, intolerância e reivindicações, um grupo da comunidade gay decide apoiar as famílias dos grevistas com recolha de fundos em Londres. Apesar deste acto generoso a comunidade mineira é que não se mostra muito receptiva à iniciativa. Por preconceito, por interpretação de sinal de fraqueza ou, muito simplesmente por ignorância as várias organizações e sindicatos vão declinando o apoio. Por fim, após uma série de mal entendidos e uma ligação telefónica péssima, uma aldeia no Sul do País de Gales resolve convidar os elementos do GLSM (Gays and Lesbians Support the Miners) para um encontro no seu clube local. Aos poucos a resistência vai-se esfumando entre uma comunidade rural fechada sobre si própria e um grupo de jovens expansivos e exuberantes. À medida que a cerveja começa a rolar as pontes vão sendo construídas e rapidamente se percebe que têm todos muito mais a ganhar unidos do que virados de costas uns para os outros.
Baseada em factos reais, mais do que a história em si, a forma brilhante como está contada é a grande responsável pelo charme, brilho e ternura deste filme. Misturando momentos mais dramáticos com outros de humor em doses e quantidades adequadas,  diálogos construídos de forma inteligente e um respeito absoluto pelo tempo histórico que pretende retratar fazem de PRIDE um momento raro de bom Cinema.
Com o desenrolar do tempo o comité do sindicato decide votar uma proposta em que deixa de aceitar o apoio do GLSM à greve dos mineiros. Embora ignorando essa restrição o movimento fica temporariamente fragmentado e alguns seguem o seu caminho. Meses mais tarde no início da primeira e gigantesca marcha do orgulho gay em Londres (1985) a surpresa é enorme quando vários autocarros de mineiros vindos de todas as partes do País de Gales chegam para se juntar. Entre cartazes, faixas e bandeiras, nessa tarde em Londres os sindicatos apoiaram os direitos e a luta da comunidade gay para a sua emancipação total enquanto cidadãos. Mais tarde o Partido Trabalhista viu-se obrigado a incluir no seu programa eleitoral uma directiva em que se comprometia em legalizar e integrar em absoluto a comunidade gay enquanto parte integrante da sociedade britânica. Se bem que essa directiva já houvesse sido aprovada em congressos anteriores, até essa altura não tinha sido inscrita no programa eleitoral. Para tal contribui muito o peso e o voto dos sindicatos dos mineiros. Esta é mais uma prova de que somos todos uma espécie única, tendo apenas uma identidade. É quando nos dividimos ou nos deixamos dividir que perdemos a força e a capacidade de resistir. Uma lição que a História já nos ensinou mil vezes e que, outras mil insistimos em esquecer. A grande vantagem do curso da Humanidade é que ninguém chumba nas cadeiras. Repete e repete e volta a repetir até perceber. Apesar de se reportar aos anos 80 do século passado, a lição de PRIDE nunca foi tão actual como agora. Por isso o filme é uma extraordinária lição de vida.


Artur Guilherme Carvalho





MIA MADRE

quinta-feira, 16 de julho de 2015

A ORIGEM DO MAL




Há qualquer coisa de maligno neste indivíduo, algo cuja origem não reside apenas na arrogância própria dos ignorantes e os incultos, de um programa político ou de uma determinação ideológica. Não, nem sequer a podemos procurar numa vida construída duvidosamente, assente em esquemas, manhas e esperteza-saloia, sempre a roçar a ilegalidade, sempre muito para além dos limites éticos exigidos a alguém que quer ser protagonista político. Não é originada apenas na mentira permanente, na mentira como forma de vida, na mentira como modo de ser. Nem na exibição pornográfica da esposa cancerosa, nem no discurso pastoso e sem lógica, vácuo até ao insuportável. É algo de profundamente obsceno que lhe vem do fundo do ser e lhe contamina a superfície. A máscara, o simulacro de sorriso, o "rictus" indecente que passa por sorriso, documentado na fotografia acima, em vez de o humanizar ou de criar um embrião de empatia, produz uma sensação de repulsa, de abjecção e um movimento de rejeição que não tem explicação nem motivação racional. Longe de ser previsível ( e ao contrário do que ele próprio e os seus sabujos gostam de pensar), esta catástrofe com duas (?) pernas, um penteado e uma voz, um pin ridículo pendurado na lapela, um fato e uma gravata, uma infindável corte de apaniguados à espera dos bocados engordurados e repelentes que possam cair da gamela para as suas bocarras escancaradas, este homem confunde o vazio absoluto da sua pessoa com proclamações messiânicas e tiradas balofas e emproadas das quais nem consegue perceber o ridículo (nunca nos deixa esquecer que foi ele o salvador de Portugal, da Grécia, do Mundo e até da Europa). Segundo as sondagens, é nisto que 32 % dos portugueses tencionam votar, lá para Setembro, depois das férias de chanata no pé, sacos de plástico cheios de mines e sandes de courato, camisetes de mangas à cava permitindo ler as maravilhosas tatuagens que exibem, num intervalo entre limpar o salão dos símios que o povoam, desancar as respectivas e atirar três escarretas para o transeunte que passa por baixo da janela. Volta Salazar, estás perdoado !. Aliás, tu é que os conhecias bem.