quarta-feira, 13 de junho de 2012

A VERGONHA DA EUROPA



A VERGONHA DA EUROPA




Poema de Günter Grass



Tradução livre de Manuel Vitorino de Queiroz



Ainda que próxima do caos,porque não agradas aos mercados,

estás longe da terra que foi o teu berço.

O que com a alma buscaste e pensaste encontrar

Hoje rejeitas, como se fosse lixo, menos do que sucata.Nua como um devedor exposto no pelourinho, sofre uma nação

a quem nos tempos idos davas graças.

País por ti condenado a ser pobre, esquecendo as riquezas roubadas

que adornam os teus museus: espólio que conservas à tua guarda.

Aqueles que invadiram armados essa terra de ilhas benditas

levavam, com o uniforme, Hölderlin escondido na mochila.

País agora tolerado, mas cujos coronéis

outrora toleraste e fizeste teus aliados!

País sem lei, a quem o teu poder, que, como sempre, se substituí à razão,

aperta o cinto, mais e mais.

Trajando de negro, Antígona desafia-te e a Grécia inteira e o seu povo, de quem foste hóspede, veste-se de luto.

Entretanto os teus parentes, novos Cresos foram acumulando nos teus cofres

tudo o que tivesse brilho dourado.

¡Bebe de uma só vez, bebe! Gritou a claque dos comissários,

mas Sócrates irado devolveu-te a taça cheia a transbordar.

Os deuses amaldiçoar-te-ão em coro, se a tua vontade exigir a venda do Olimpo.

Sem esse país murcharás estupidamente, Europa

privada do espírito que um dia te concebeu.

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