quinta-feira, 28 de junho de 2012


IF

 Lyndsay Anderson

 Reino Unido, 1968



No final da década de 60, um grupo de jovens de um colégio interno inglês começa a despertar para o mundo e para a vida, vendo-se confrontado com um quotidiano de reclusão, disciplina férrea e abuso de autoridade sobre as suas pessoas. Mick Travis  (Malcolm McDowell) e os seus companheiros encontram-se no meio da hierarquia etária, entre os mais desprotegidos e os “Whips”, os mais velhos, encarregados de manter a disciplina, aplicar castigos, fazer dos outros seus criados pessoais.

Influenciado pelos “ecos” do Maio de 68 e, a nível estrutural, pelo filme ZERO DE CONDUITE (1933), de Jean Vigo, o filme aborda de uma forma libertária a questão do ensino nos colégios internos ingleses (public schools) com um olhar bastante duro, e por consequência a própria sociedade britânica e as suas relações de força e equilíbrio.

Numa época de transformação e conflito, em que tudo é questionado e tudo é experimentado, o grupo de Mick Travis culminará a sua emancipação da pior forma possível. No dia da cerimónia do ano escolar, socorridos de armamento encontrado numa cave, esquecido da última guerra, Travis, a sua namorada e os outros, sobem aos telhados do colégio e desatam a disparar indiscriminadamente causando o pânico e a destruição entre alunos, pais e professores. Este desenlace aparentemente improvável, este grito rebelde contra a instituição e aquilo que ela representa, surge não enquanto elemento anormal caído do céu por razão nenhuma, mas antes como consequência perfeitamente previsível, ainda que numa escala desequilibrada e desproporcional. A alegoria da revolta inscreve-se na velha máxima de que, os humanos são sempre uma consequência do meio onde vivem. Tratados com violência e injustiça, tendem a ser violentos e injustos. A cena final, que tanto e tantos escandalizou, não é mais do que um exercício de lógica em torno da forma como tudo se estrutura para trás.

Sinal de um tempo, identidade da revolta, delírio libertário, surrealismo conceptual, a base é toda ela assente em parâmetros reais, a que não será alheio o facto de tanto o realizador como os dois autores do argumento (David Sherwin e John Howlet) terem sido alunos de colégios internos ingleses.

Embora houvesse quem especulasse que a alternância entre cenas a preto e branco e a cores fosse devida a estados de Realidade/Fantasia, tal não aconteceu. Algumas cenas foram rodadas a preto e branco para obstar o facto de as janelas da escola onde decorrem as filmagens permitirem uma entrada de luz muito intensa que a cores iria inviabilizar a imagem. No entanto a oscilação entre a Sátira e a Fantasia combinam o par perfeito que a escolha da película não preencheu.

Outra nota curiosa é a de que a banda sonora do filme ser toda ela constituída por uma única peça. Trata-se de “Sanctus” da “Missa Luba”, uma versão africana da missa em latim cantada por um coro de crianças congolesas.

IF é um marco na história do cinema libertário na medida em que, influenciado pelos tempos em que foi feito desenvolve a eterna possibilidade da concretização da liberdade ao alcance do ser humano. As ovelhas podem perfeitamente transformar-se em lobos e contra-atacar quem as oprime. A História é um folhetim gigantesco acerca do homem oprimido e da sua luta para a libertação por um lado, e da reorganização da repressão e domínio de poucos para transformar de novo os lobos em ovelhas. Um folhetim em dois actos que se repete pelos séculos dos séculos. Nunca está fora de moda por mais que digam o contrário. Palma de Ouro em Cannes (1969), o filme foi também distinguido na revista “Total Film” como o 16º melhor de sempre na lista de filmes britânicos.

IF é um marco na história da consciência da humanidade, um filme sempre actual que deveria ser (re)visto em cada geração…



Artur

Sem comentários: