sexta-feira, 3 de abril de 2009

PARIS E O CINEMA - PARTE III


LA HAINE (O ÓDIO)

Mathieu Kasssovitz

França (95)

Sobre este filme várias crónicas poderiam ser escritas que nunca conseguiriam esgotá-lo. Isto porque a qualidade, a postura da abordagem e o desassombramento em que ele corre nos atingem como um soco no estômago. Comecemos pelo preto e branco da película a decorar uma existência cinzenta e sem sentido: a da realidade suburbana de Paris habitada por uma população jovem desocupada e perdida no esquecimento das oportunidades que a sociedade tem para lhes dar. Comecemos pela violência sem sentido que preenche todas as esquinas das ruas desse realidade, o apelo do crime como única saída para uma possibilidade de existência. Comecemos pelo paleio gasto e desactualizado das realidades étnicas e da sua confrontação baseada em princípios raciais como fórmula de justificação de todos os conflitos, de todas as exclusões, de todos os motins. Comecemos em algum lado, não sem antes perceber que com este filme ficou registado um ambiente de barril de pólvora prestes a explodir a qualquer momento, uma profecia filmada das explosões de Outubro e Novembro de 2005 e, mais tarde em 2007, não havendo espaço em lugar nenhum para dizer que não tinha havido aviso…
Vinz (judeu), Said (árabe) e Hubert (africano) são amigos e têm em comum serem todos cidadãos franceses, partilhando o mesmo espaço urbano. Na sequência da morte de um vizinho deles (Abdel) provocada por tortura na esquadra da polícia, sucedem-se as manifestações de desagrado e os motins. Num deles, um polícia perde a sua arma de serviço. Vinz encontra-a, ficando com ela. A rotina destes três amigos ganha então uma nova dimensão no subúrbio. Os seus sonhos vagueiam numa atmosfera cinzenta e diluída pelas drogas com grandes dificuldades de concretização.
Ao longo do filme ouve-se uma história de um homem que ao cair de um prédio alto, à medida que vai passando por cada andar vai dizendo o seu número acrescentando a frase: “Até aqui vai tudo bem!” Segue-se o pensamento que o acompanha. “O pior não é a queda, mas o impacto final. O pior não é o impacto mas a queda.” E é nesta lengalenga em circuito fechado que se apresenta uma realidade em que cada elemento trabalha isolado dos restantes. O conflito será inevitável. Com os “Skins”, com a polícia, com os vendedores de droga, com tudo e com coisa nenhuma. O pior não é a queda mas o impacto. O pior não é o impacto mas a queda. E a Vertigem? Quem é que a controla??

ARTUR

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