segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

FELIZMENTE MÚSICA

Não havia um momento histórico decisivo onde se pudesse jogar a vida toda num dia em nome de uma ideia, de uma coisa qualquer. As ideias eram repetições sucessivas, casas construídas sempre da mesma maneira, com uma ou outra variante mínima. Nada de novo debaixo do Sol. O amor era um jogo de cartas marcadas, enganos e egos mal disfarçados, um cheiro desagradável.
O tempo era de indecisões paralisantes, subjectividades inconsequentes, vaidades desmedidas, um momento entre o tempo antigo que terminava e outro que se começava a construír. Aí se encontrava a desconstrução daqueles nascidos no meio deste fogo cruzado, entre dois tempos antagónicos. Demasiado novos para o tempo que morria, desmasiado velhos quando o novo tempo se erguesse definitivo. A contradição, o desnorte e a ausência de limites explodiam as personalidades, iludiam os sonhos, queimavam as esperanças. Nas encruzilhadas da existência e da História bebiam-se as ilusões até aos limites. Iludiam-se os anseios até à inconsciência, rebentavam-se as regras para melhor se sentir a Vida. Jogava-se em terreno perigoso. Dias houve em que as coisas correram mal. Muitos não ficaram para o contar...
Mas havia qualquer coisa de bom no meio daquilo tudo, algo que tranquilizava e fazia entrar em sintonia, mostrava a posssibilidade de um lado melhor, uma luz ao fundo do túnel. felizmente havia a música...
ARTUR

1 comentário:

Carlos Lopes disse...

É isso, Artur: a música, o som, as palavras e a música delas. Cheira a Rádio Macau, quando dizes "debaixo do sol...".