terça-feira, 14 de outubro de 2008
THE WIND THAT SHAKES THE BARLEY
KEN LOACH
(BRISA DE MUDANÇA)
Reino Unido/ Irlanda / Alemanha /Espanha / Itália (2006)
Irlanda, 1916 - 1920. Os irlandeses pegam em armas, formam milícias e dão início a um levantamento popular para expulsar os ingleses do seu território; ao fim de algum tempo e de duras negociações, irlandeses e ingleses chegam a um acordo; esse acordo é considerado insuficiente por alguns sectores irlandeses e, em breves instantes a jovem nação irlandesa deixa uma guerra de libertação para mergulhar directamente numa guerra civil. Eis de forma sucinta o enquadramento do último filme de Ken Loach.
No ano de 1920, voluntários irlandeses e forças de ocupação (personalizadas pelos Black and Tans , tropas de elite enviadas de Inglaterra) enfrentam-se numa guerra de guerrilha destinada a libertar a Irlanda e torná-la independente. Damien, um jovem médico com ideais socialistas desiste de embarcar para Londres e decide juntar-se ao seu irmão Teddy no combate aos ingleses, após testemunhar um episódio de extrema brutalidade da parte dos Black and Tans . Pressionado para revelar a sua posição, Chris acaba por denunciar os dois irmãos. Na prisão Teddy é torturado e Damien conhece Dan, também defensor dos ideais socialistas. Dan e Teddy conseguem evadir-se com a ajuda de um soldado da prisão, envolvendo-se de seguida no sequestro do delator Chris e do seu patrão, Sir John Hamilton, numa tentativa desesperada para negociar a libertação de companheiros condenados ao fuzilamento.
A escalada dos voluntários irlandeses aumenta de expressão no teatro de operações obrigando os ingleses a declarar uma trégua. O Sinn Fein acaba por assinar um tratado com o governo inglês, do qual resulta uma situação de independência parcial para o território da Irlanda. Damien e outros voluntários insistem em continuar a guerrilha até à libertação total. Teddy apoia o novo tratado e a formação do novo estado irlandês. A hostilidades entre partidários contra e a favor do tratado rebentam e instala-se a guerra civil. Quando os homens de Teddy (agora incorporados no exército regular da República da Irlanda) se confrontam com um grupo de guerrilheiros anti-tratado, Damien e Dan são apanhados no meio do combate. Dan morre e Damien é executado.
A por demais evidente alegoria familiar do destino irlandês leva-nos a atravessar o princípio conturbado do nascimento de uma nação através da divisão e subsequente conflito entre irmãos. Para quem já viu MICHAEL COLLINS diríamos tratar-se de revisões da matéria dada. A existência individual no contexto do processo histórico, tema aberto a eternos debates, joga aqui mais uma vez um papel decisivo. Na vida e na morte das nações, os homens são a um tempo vítimas ou carrascos das suas decisões por um lado, mas são também folhas esvoaçantes aos caprichos dos ventos da História. Para além da vontade e do tempo, fundamentalmente, o que importa em filmes como este é a aproximação tanto quanto possível à verdade dos factos. A Inglaterra era uma força de ocupação do território irlandês e reagiu com a brutalidade típica de uma potência colonizadora perante o levantamento em armas dos voluntários. Uma vez assinado um tratado de paz, duas facções de irlandeses enfrentaram-se numa guerra civil. Por respeito pelas mortes e pelos sacrifícios… a memória é uma chama que deve ser alimentada pelas sucessivas gerações.
ARTUR GUILHERME CARVALHO
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