quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Tempo

"Time is out of joints" - William Shakespeare - Hamlet


Ou, para dizer de outro modo dizendo do mesmo modo, o tempo está fora dos eixos. Shakespeare e outros da mesma seita viram tudo antes do tempo, previram, no verdadeiro sentido da palavra. Não conseguiram, no entanto, antever este tempo na sua plenitude esquizofrénica, absurda, malévola. Não conseguiram, por exemplo, antever a televisão e o modo como aliena, fazendo acreditar que uma passagem de modas, as cheias na Índia, a falência dos bancos, a ruína das famílias e a exposição canina se equivalem, já que tudo é apresentado num simulacro do mesmo plano temporal, mascarando assim as desconexões de que o tempo contemporâneo é feito, ou seja, do Caos (assim mesmo, com maiúscula). Para os Gregos antigos (quem ????), o Caos primordial era um receptáculo a partir do qual qualquer coisa poderia ser criada. Para esses homens longínquos e magníficos, que viviam num tempo de heróis e deuses, o Nada não podia ser concebido, nem imaginado. O homem moderno vive num Caos que não é receptáculo, não cria nada e tudo absorve como um buraco negro: energias, esforços, talentos, sonhos e ambições, ou uma imensa máquina trituradora de ossos, músculos, sangue e carne. Dito de outro modo, um imenso Nada. Transformar o Caos em Nada não é tarefa fácil. Pelo contrário, exige um enorme talento, uma energia monstruosa e diabólica, eu diria mesmo, correndo o risco de ser redundante, mefistofélica no sentido em que esse espírito é aquele que tudo nega, que tudo denega, que nada deixa sem punição e cruelmente se apropria dos restos, das cinzas, dos dejectos que permanecem depois de tudo o resto ter desaparecido. De facto, o Capitalismo chegou ao fim: tornou-se tão perfeito que é impossível melhorá-lo.
Assim, e parafraseando o título de um livro de Slavoj Zizek, "Bemvindos ao deserto do real"

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