É uma rua como as outras onde o dia chega de manhã e acorda
as cores e as formas muito devagar. Uma rua como as outras que vai juntando
histórias e caminhos dos que por ali passaram. Uma livro aberto à descoberta e ao
correr da passagem dos dias multiplicado pelas cidades com prédios e carros em
movimento, janelas observadoras, obras ocasionais, tardes mansas de fim de
semana, um arquivo de sonhos e tragédias, inícios e pontos finais de
existências que passaram por aquele espaço.
Uma rua como as outras que se recolhe ao anoitecer e deixa
ligadas as luzes de presença dos candeeiros, o brilho das montras, o rasto dos
faróis dos carros que a atravessam. Uma rua projectada, construída, percorrida,
vivida, uma existência prolongada pela sua razão de ser, pela sua utilidade,
estação de passagem, chegada e partida para o resto da cidade.
Uma rua como as outras que começa perto de um rio e que
cresce para o interior em busca de uma avenida principal a quem passa o
testemunho da direcção.
Uma rua como as outras de importância única no breve espaço
que serve, pedaço de caminho entre duas realidades, observatório de movimento, ensaio
de registo, começo e fim da existência
nunca traduzida em linguagem normal.
Uma rua como as outras que um dia se cruzou no nosso caminho
e, sem nada dizer, conseguiu manter uma longa conversa, estimulou uma reflexão
e permitiu uma imagem para recordação futura.
Uma rua como as outras, solitária e persistente na sua
função de rua, aberta aos ciclos do Sol e às estações do ano, dona da sua
utilidade, sempre disponível para um breve diálogo ocasional de boa vizinhança.
Artur
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