Tudo tem um tempo, o seu tempo. O tempo de correr e o tempo
de gritar, o tempo de ficar quieto e o tempo de calar, de ficar escondido no
canto escuro, de subir ao palco e declamar, o tempo de contemplar e o tempo de
mergulhar no meio das vagas sem vagar nem espaço para respirar. Tudo tem um
tempo e o tempo tem tudo nas suas mãos. A favor do vento, com a maré sorridente
ou com falta de tempo na esquina do salto para o outro lado do tempo. As faces
do tempo que nunca jogou póquer mas que se sabe vestir de enigmas, atravessar a
mesa do jogo com os óculos escuros e a boca contorcida entre o sorriso e o
sarcasmo. O tempo, sempre o tempo, o vento que corre apressado, o coelho da
Alice sempre atrasado, o carro contra a árvore estampado que terminou o seu
tempo. Nos cantos do espaço, no sucesso e no fracasso, apertado em máquinas para
o contar, relógio de água, de areia ou sombra da luz solar, o tempo maior que
tudo e mais alguma coisa, que não cabe em nenhuma tentativa de o medir porque respira
sempre sem parar levando tudo à sua volta a explodir no marco do fim de cada
coisa. O tempo entretempo que nos faz percorrer a linha da vida até à morte,
sem sinal nem preferências, sem escolhas nem juízos. Apenas tempo no entretempo
que dispomos para o conhecer. O tempo de estar e de fugir, o tempo de chorar e
de sorrir, sem cor nem cheiro, um tanque cheio que esvazia para voltar a
encher. O tempo de começar e o tempo de nada acontecer. E sobre o universo um
manto infinito de tempo que não se move…apenas “É” a cada instante.
Artur
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