quinta-feira, 5 de outubro de 2023

ENTRETEMPO


 


Tudo tem um tempo, o seu tempo. O tempo de correr e o tempo de gritar, o tempo de ficar quieto e o tempo de calar, de ficar escondido no canto escuro, de subir ao palco e declamar, o tempo de contemplar e o tempo de mergulhar no meio das vagas sem vagar nem espaço para respirar. Tudo tem um tempo e o tempo tem tudo nas suas mãos. A favor do vento, com a maré sorridente ou com falta de tempo na esquina do salto para o outro lado do tempo. As faces do tempo que nunca jogou póquer mas que se sabe vestir de enigmas, atravessar a mesa do jogo com os óculos escuros e a boca contorcida entre o sorriso e o sarcasmo. O tempo, sempre o tempo, o vento que corre apressado, o coelho da Alice sempre atrasado, o carro contra a árvore estampado que terminou o seu tempo. Nos cantos do espaço, no sucesso e no fracasso, apertado em máquinas para o contar, relógio de água, de areia ou sombra da luz solar, o tempo maior que tudo e mais alguma coisa, que não cabe em nenhuma tentativa de o medir porque respira sempre sem parar levando tudo à sua volta a explodir no marco do fim de cada coisa. O tempo entretempo que nos faz percorrer a linha da vida até à morte, sem sinal nem preferências, sem escolhas nem juízos. Apenas tempo no entretempo que dispomos para o conhecer. O tempo de estar e de fugir, o tempo de chorar e de sorrir, sem cor nem cheiro, um tanque cheio que esvazia para voltar a encher. O tempo de começar e o tempo de nada acontecer. E sobre o universo um manto infinito de tempo que não se move…apenas “É” a cada instante.

 

Artur


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